Há mais de 268.000 toneladas de plástico a boiar nos oceanos

Estudo global analisou a distribuição do plástico nos oceanos da Terra. A quantidade estimada é equivalente a uma fila de autocarros articulados entre Viseu e Lisboa.

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Há 6,4 milhões de toneladas de todo o tipo de lixo a ir parar ao mar todos os anos Marcus Eriksen/Reuters

Uma garrafa de plástico enterrada na areia da praia, que surge na maré baixa, pode servir como uma imagem simbólica do lixo esquecido nos oceanos. Mas não mostra a verdadeira dimensão deste problema ambiental. Uma equipa de investigadores serviu-se de centenas de medições nos oceanos e de um modelo de distribuição marinha do plástico, e calculou que existem 5,25 milhões de milhões de pedaços de plástico de diferentes dimensões a boiar na Terra. Ao todo, este lixo deverá pesar cerca de 288.940 toneladas, segundo um estudo publicado na quarta-feira na revista PLOS ONE.

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Uma garrafa de plástico enterrada na areia da praia, que surge na maré baixa, pode servir como uma imagem simbólica do lixo esquecido nos oceanos. Mas não mostra a verdadeira dimensão deste problema ambiental. Uma equipa de investigadores serviu-se de centenas de medições nos oceanos e de um modelo de distribuição marinha do plástico, e calculou que existem 5,25 milhões de milhões de pedaços de plástico de diferentes dimensões a boiar na Terra. Ao todo, este lixo deverá pesar cerca de 288.940 toneladas, segundo um estudo publicado na quarta-feira na revista PLOS ONE.

“Há muito mais poluição por plástico do que as estimativas mais recentes sugeriam”, disse Marcus Eriksen, director científico do Instituto 5 Correntes (5 Gyres), em Los Angeles, e líder do estudo, citado pela agência Reuters. “Encontra-se [nos oceanos] tudo o que se pode imaginar feito de plástico”, adiantou o investigador. “É como se [os centros comerciais] Walmart ou Target estivessem à tona da água.”

Os plásticos acumulados nos oceanos têm várias consequências ambientais. Os peixes, os mamíferos e outros animais marinhos podem confundir os pedaços de plástico com alimentos e acabam sufocados ao tentarem comê-los. As redes de pesca podem prender e ameaçar a vida de mamíferos, aves e tartarugas, assim como de animais que vivem no leito do oceano.

Por outro lado, os plásticos que se vão acumulando no mar são uma fonte de substâncias químicas tóxicas que podem matar a fauna marinha. As substâncias que compõem o plástico acumulam-se ainda nos tecidos dos animais que os consomem e são assim transferidas na cadeia trófica, de predador em predador, até chegarem aos humanos.

O instituto de Marcus Eriksen estuda o impacto do lixo nos oceanos e procura combatê-lo. Para este trabalho, a equipa composta por cientistas de seis países usou os resultados do trabalho de campo feito em 24 expedições oceanográficas entre 2007 e 2013.

Os cientistas estiveram nos cinco principais sistemas de correntes marinhas subtropicais (no Norte e no Sul do Atlântico, no Norte e no Sul do Pacífico e no Índico), na costa da Austrália, no golfo de Bengala, junto à Índia, e no mar Mediterrânico para recolher microplásticos com uma rede e para seguir o trajecto de plásticos maiores. Estes dados integraram o modelo da movimentação dos plásticos nos oceanos.

Os cientistas dividiram os pedaços de plástico em quatro categorias de acordo com o seu tamanho: os maiores, com mais de 20 centímetros; os médios, entre 20 centímetros e 4,75 milímetros; os pequenos, entre 4,75 e 1,01 milímetros; e os muito pequenos, entre 1,01 milímetros e 0,33 milímetros.

As maiores concentrações de plástico situam-se no meio dos grandes sistemas de correntes subtropicais oceânicas, em algumas zonas costeiras da Ásia e do Sul da Austrália, e no Mediterrânico, de acordo com os resultados da equipa. As correntes no meio dos oceanos parecem fazer convergir estes pedaços de lixo para o seu centro e conservarem-nos lá. Mas os cientistas descobriram que os pedaços mais pequeninos de plástico chegam até regiões bem mais remotas, como as massas de água junto aos dois pólos.

As duas categorias de menor dimensão de plástico têm a maioria dos 5,25 milhões de milhões pedaços. No entanto, os plásticos com mais de 20 centímetros são os responsáveis por grande parte das 268.940 toneladas, que equivalem ao peso de 16.300 autocarros articulados. Outra forma de olhar para este lixo é imaginar uma fila destes autocarros que começa em Viseu e termina em Lisboa, a mergulhar no mar.

Apesar de esta quantidade de plástico ser impressionante, os cientistas acreditam que este lixo é apenas uma fracção de todo o plástico que anda pelos oceanos. Estudos anteriores já encontraram todo o tipo de lixo, incluindo plásticos, no leito marinho. Anualmente, há 6,4 milhões de toneladas de todo o tipo de lixo a ir parar ao mar e em 2012 foram produzidos 288 milhões de toneladas de plástico em todo o mundo, de acordo com a organização comercial Plastics Europe.

Além destes dados que sugerem a existência de muito plástico nos oceanos cujo destino final é ainda desconhecido, no actual estudo os cientistas estimaram que há bastantes menos pedacinhos de plástico com dimensões entre 1,01 milímetros e 0,33 milímetros do que o esperado. Ao longo do tempo, um pedaço maior de plástico dá origem a vários pedaços mais pequenos. Nesse caso, teria de haver muitos mais pedacinhos com dimensões entre 1,01 milímetros e 0,33 milímetros do que com dimensões entre os 4,75 e 1,01 milímetros. Mas as experiências da equipa mostraram que acontece o oposto.

Os investigadores avançaram com várias explicações para terem encontrado uma proporção tão baixa dos pedaços de plástico mais pequenos: a sua degradação devido a raios ultravioleta; a sua biodegradação feita por microrganismos; a sua ingestão por animais; uma diminuição da flutuabilidade destes pequenos fragmentos quando um organismo se agarra a eles; o seu arrastamento por outros detritos; ou os pedacinhos encalharem.

Qualquer que seja a causa, a equipa defende que ainda não se sabe para onde foi todo o plástico nos oceanos. “As nossas descobertas mostram que as acumulações de plástico no meio das cinco correntes subtropicais não são os lugares de descanso final para o lixo flutuante de plástico”, sublinha Marcus Eriksen. “Os microplásticos interagem até ao fim com todos os ecossistemas do oceano.”

Por isso, os autores defendem que a solução ambiental para o destino do plástico não se pode obter nesta fase, já que não se sabe onde está esse plástico. Logo, as soluções terão de surgir na fase da produção do plástico e logo a seguir ao seu consumo.