"Alien: Isolation" - Um canto esquecido do espaço
“Alien: Isolation” é sobre o horror da desolação no isolamento e joga-se em constante aflição
Na série “Aliens”, a exploração espacial não é para almas curiosas ou sonhadoras. O espaço é sobretudo um recurso económico para aqueles que o desbravam; coutada de comerciantes, mercenários e empresas gananciosas. É numa estação comercial com esta frequentação, Sevastopol, um “canto negligenciado do espaço” de fraca rentabilidade, que decorre “Alien: Isolation”.
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Na série “Aliens”, a exploração espacial não é para almas curiosas ou sonhadoras. O espaço é sobretudo um recurso económico para aqueles que o desbravam; coutada de comerciantes, mercenários e empresas gananciosas. É numa estação comercial com esta frequentação, Sevastopol, um “canto negligenciado do espaço” de fraca rentabilidade, que decorre “Alien: Isolation”.
Quando Amanda, filha da emblemática Ellen Ripley, chega a Sevastopol atraída por uma pista sobre o destino da mãe, encontra uma estação em que caiu a ordem social. A desagregação foi acelerada pela presença de um xenomorfo, o aterrador “organismo perfeito” que o estúdio britânico The Creative Assembly quis converter numa inteligência artificial igualmente perfeita, capaz de aprender com os encontros com o jogador. Na estação, ficaram aqueles sem posses para a abandonarem, entregues a eles próprios, às raras faculdades predatórias da criatura e à matança indiscriminada por parte de andróides fora de controle. De todos estes se esconde Amanda. É numa aflição contínua que se joga “Alien: Isolation”.
Nos terminais de computador da estação, tem-se acesso a uma reportagem jornalística que acompanhou a desagregação económica e social de Sevastopol, ali classificada como “um posto avançado do progresso”, com mesma ironia com que Joseph Conrad usou este título num conto de 1897. Na caracterização de Sevastopol como lugar “a anos-luz da aplicação da lei” encontrada numa dessas páginas do “The Colonial Times”, poderemos reconhecer o Congo Belga que Conrad visitou, em que as empresas de exploração de borracha detinham o monopólio da violência, na ausência de autoridade do Estado. É óbvia a alusão à violenta cultura mercantil do colonialismo, mas, principalmente, ao tema conradiano da “desolação no isolamento” destas comunidades fundadas sobre motivações mercenárias, permeadas pela loucura colectiva.
Sem esta atmosfera, sem o horror da desolação conradiano, “Alien: Isolation” arriscaria a ser, como vários outros jogos de terror, uma “experiência” pouco mais relevante do que a visita a uma “casa assombrada”. Situado no arco temporal entre "Alien" e "Aliens, o jogo decorre quinze anos após os acontecimentos narrados no filme de Ridley Scott, homenageando-o explicitamente. A cenografia é retro-futurista, um flashback coloca- nos no “ninho” de “Alien”, e é neste jogo - não nas sequelas cinematográficas - que se reencontra a atmosfera de terror claustrofóbico do filme original.