O dono disto tudo, o primo, os submarinos e a consciência tranquila

Ricardo Salgado falou, enfim, da forma como é conhecido e disse que a sua “responsabilização será certamente apurada pelos tribunais".

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Ricardo Salgado Daniel Rocha

“O caso dos submarinos foi um dos erros de julgamento do GES, pelo efeito terrível em termos de reputação para o grupo. Imediatamente a seguir decidimos não fazer mais nenhuma operação dessa natureza. A Escom teve custos. Os resultados foram distribuídos, de acordo com decisão do Conselho Superior, através de uma subsidiária. Esses custos foram analisados pelo Ministério Público. A garantia que tenho dos administradores da Escom é que não foram pagas comissões a quem quer que seja a nível político”, disse Ricardo Salgado, que foi confrontando com as gravações das reuniões do conselho superior do Grupo Espírito Santo (GES), que foram tornadas públicas.

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“O caso dos submarinos foi um dos erros de julgamento do GES, pelo efeito terrível em termos de reputação para o grupo. Imediatamente a seguir decidimos não fazer mais nenhuma operação dessa natureza. A Escom teve custos. Os resultados foram distribuídos, de acordo com decisão do Conselho Superior, através de uma subsidiária. Esses custos foram analisados pelo Ministério Público. A garantia que tenho dos administradores da Escom é que não foram pagas comissões a quem quer que seja a nível político”, disse Ricardo Salgado, que foi confrontando com as gravações das reuniões do conselho superior do Grupo Espírito Santo (GES), que foram tornadas públicas.

“Nem sequer sabia que estava a ser gravado... Alguém desencadeou as gravações e as passou cá para fora. O que posso dizer é que se tratava de uma estrutura informal, com uma liberdade de linguagem não permitida em outras organizações”, explicou Salgado, acrescentando: “O Ministério Público tem uma acta assinada pelo Conselho Superior do grupo. O valor recebido foi superior a cinco milhões de euros. Não lhe sei dizer mais nada, a não ser que toda a envolvente, a situação terrível das contrapartidas, me levou a um excesso de linguagem e a dizer que estava rodeado de aldrabões. As investigações que foram feitas criaram um mal-estar muito grande, o que foi uma pena.”

Na longa audição, Ricardo Salgado foi ainda confrontando com a expressão “dono disto tudo”, pela qual era conhecido em certos círculos: “É incrível que o 'dono disto tudo' apareça aqui como a vítima disto tudo... Quis fazer-nos acreditar que o seu império ruiu sem que soubesse?”, questionou Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda.

"Esta classificação do 'dono disto tudo' é irrisória. Para mim, 'dono disto tudo' é o povo português e os senhores são os representantes do povo português. Isto foi uma caracterização que me foi colada”, respondeu Salgado, recusando a ideia de que “o dono disto tudo passa a responsável disto tudo ou vítima disto tudo”. O ex-líder do BES afirmou que não quer passar por vítima e que nesta audição apenas pretendeu, “com a objectividade possível”, dar a sua visão dos acontecimentos. “A minha responsabilização será certamente apurada pela via jurídica e pelos tribunais…”.

“Eu sou gestor bancário há 40 anos. Passei por cinco, seis, sete grandes crises internacionais. Fomos considerados um dos melhores bancos em termos europeus. Estou de consciência tranquila. Não tenho nada de que me arrependa. Tenho uma carga pesadíssima em cima de mim. Há responsabilidades do nosso lado. Mas também há responsabilidades de outros lados”, acrescentou, depois de ter sido questionado se não foi a má gestão a responsável pela queda do BES.

Além de à tarde ter repetido o que tinha dito de manhã (“O BES escusava de ter desaparecido. Não estávamos muito longe do que era necessário para ter sobrevivido. Era escusada esta resolução"), Ricardo Salgado confirmou, por outro lado, que Durão Barroso aconselhava o BES (“não me recordo do montante, mas não era nada de significativo”) e desvalorizou o número de colaboradores do banco que transitaram para o Governo. “Houve vários ilustres membros do Governo que estiveram no BCP, no BPI.”

Na sessão da tarde, Salgado disse ainda que não sabe onde está Machado da Cruz, o contabilista da Espírito Santo Internacional (ESI). “Não fui eu que o convidei a desaparecer.”

Durante todo o dia, Salgado foi repetindo que jamais atacaria algum membro da família, mas já quase no final da audição foi confrontado com as denúncias do primo José Maria Ricciardi ao Banco de Portugal.

“O Dr. Ricciardi teve um comportamento, no mínimo, muito curioso. Certamente, se fez alguma denúncia ao BdP, deve ter tido alguma contrapartida por isso”, acusou Salgado.

Sobre Ricciardi, Salgado confirmou ainda que o primo esteve para ser demitido do conselho de administração do BES, mas que a bem da unidade da família isso não avançou. Ainda assim, Ricciardi continuou a enviar cartas para o Banco de Portugal e não se calou, disse ainda o ex-presidente do BES.