Há um visto gold que vale 210 empregos na NST Apparel em Paredes

Dos quase dois mil vistos gold concedidos desde 2012, só três premiaram a criação de emprego. Com dois deles, empresários argelinos criaram 20 postos de trabalho em Aveiro. O terceiro foi para um grupo filipino que criou 210 empregos em Paredes.

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A selecção de funcionários jovens é fundamental para o futuro da NST, diz Luís Albuquerque Adriano Miranda

A atribuição por compra de imóveis (no valor mínimo de 500 mil euros) é avassaladora: 1832. Por transferências de dinheiro, no mínimo de um milhão de euros, os números têm vindo a crescer, representando 101 casos. Por criação de emprego, no mínimo de 10 postos de trabalho, mantêm-se os três ARI concedidos em 2013. Um deles resultou no investimento do grupo filipino NST Apparel, um visto gold extensivo ao casal Lawrence e Stephanie Delos Santos.

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A atribuição por compra de imóveis (no valor mínimo de 500 mil euros) é avassaladora: 1832. Por transferências de dinheiro, no mínimo de um milhão de euros, os números têm vindo a crescer, representando 101 casos. Por criação de emprego, no mínimo de 10 postos de trabalho, mantêm-se os três ARI concedidos em 2013. Um deles resultou no investimento do grupo filipino NST Apparel, um visto gold extensivo ao casal Lawrence e Stephanie Delos Santos.

Oportunidade de ouro
É positiva a primeira impressão que se retém da visita à fábrica de confecção da NST Apparel, de capitais maioritariamente filipinos, em Paredes: as instalações são amplas e aquecidas, as máquinas modernas, e boa parte dos 210 trabalhares é muito jovem, de sorriso espontâneo no rosto.

Um dos três casos de vistos gold atribuídos pela criação de emprego foi uma oportunidade de ouro num concelho com elevada taxa de desemprego, incluindo de jovens, muitos dos quais não têm condições para continuar a estudar depois de concluído o ensino básico.

Ana Mota, de 19 anos, é uma das jovens que conseguiram o primeiro emprego na NST Apparel. Diz ao PÚBLICO que não tinha condições financeiras para continuar a estudar, mas logo acrescenta que "também não queria". A oportunidade de trabalhar na fábrica foi "muito boa, fica perto de casa e as condições são boas". A declaração foi recolhida no âmbito de uma visita à fábrica, acompanhada por Luís Albuquerque, director comercial e um dos accionistas minoritários da empresa, que se afastava sempre que o PÚBLICO abordava alguns trabalhares, para que, como justificou, "estes não se sentissem constrangidos com a sua presença".

Poucos trabalhadores contratados tinham experiência de confecção, pela que a formação foi dada pela empresa e nessa matéria José António Lima, que trabalhou 36 anos na emblemática Maconde, de Vila do Conde, entretanto encerrada, teve um papel fundamental. José António, que encontramos a operar uma sofisticada máquina de "pregar" botões, duplos botões (um exterior e outro interior) que, garante, não caem mais, deu formação a boa parte dos trabalhadores. "Não sabiam nada, mas agora sabem fazer tudo", assegura.

E fazer tudo, numa fábrica como a NST, pode implicar domínio de equipamentos informáticos, já que uma série de operações, como a do corte das peças de tecido, é programada por computador e realizada por máquinas de corte. Apesar de tudo, as máquinas de costura ainda reinam, e há tesouras e linhas e agulhas, como é de esperar numa fábrica de confecções.

A selecção de funcionários tão jovens, mais de 20% entre os 18 e 21 anos, é fundamental para o futuro da empresa, observa Luís Albuquerque, que contrapõe o caso italiano, onde a idade média dos trabalhadores da indústria de confecção é elevada. "Isso é um problema a prazo, porque não haverá trabalhadores qualificados para os substituir", explicou Luís Albuquerque, que antes de integrar o projecto da NST já estava ligado à confecção.

A NSP Apparel de Paredes é a quarta fábrica do um grupo filipino com o mesmo nome, que empresa cerca de sete mil trabalhadores. As restantes fábricas estão localizadas nas Filipinas, na China e em Itália. As fábricas asiáticas estão especializadas na produção de gama média, em grandes volumes, e as europeias no segmento de luxo.

O investimento em Portugal do casal filipino, Lawrence e Stephanie Delos Santos, não foi motivado pela atribuição de autorização de residência, os designados vistos gold, mas essa possibilidade foi um bom prémio, garante Luís Albuquerque, que considera muito negativo o aproveitamento político feito a pretexto de um caso de polícia [a alegada rede de corrupção que levou à detenção de altos responsáveis do Estado], que deve ser tratado como tal.

Os vistos gold podem funcionar como um complemento para atrair investimento estrangeiro e "toda a polémica gerada pode assustar futuros investidores sérios", defende o gestor, que considera ainda "irresponsáveis as afirmações de que o programa deve ser abandonado". 

E como veio o grupo NST Apparel investir cinco milhões de euros em Paredes, concelho localizado a 20 minutos de carro do Aeroporto do Porto? "Portugal está na rota dos países produtores de vestuário de qualidade e o grupo Apparel que ter uma actuação global", explica Luís Albuquerque.

Esta foi a combinação de interesses entre os empresários portugueses, que controlam 24% do capital e o casal filipino , com um elo de ligação assegurado por uma portuguesa, funcionária de trading da NST Apparel, em Xangai. O espaço físico também foi um "achado", uma fábrica de mobiliário, entretanto desactivada, reflexo de uma indústria de mobiliário que já conheceu melhores dias, mas que ainda é o maior empregador do concelho.

A fábrica produz para grandes marcas de luxo, que o director comercial se recusou a revelar. E apesar de dizer que não gosta da palavra "subcontratação", reconhece que é esse o modelo de trabalho. Os clientes fazem encomendas, a NST Apparel faz algumas sugestões, designadamente ao nível dos tecidos e assegura a qualidade de fabrico, que está ao nível dos melhores, que neste ramo são os italianos.

A produção, 60% para homem e 40%de senhora, é integralmente exportada para França, Holanda, Inglaterra, Itália e Escandinávia.

O projecto da NST está nos primeiros meses de actividade — a laboração começou em Abril — e a entrada em velocidade cruzeiro só deverá acontecer apenas em 2016, quando a empresa espera atingir uma facturação de 11 milhões de euros. O volume de negócios do ano em curso deve ficar por 1,5 milhões de euros e entre cinco e sete milhões de euros em 2015. O plano de negócios da empresa para o próximo ano prevê a entrada de mais 40 trabalhadores, elevando o total de efectivos a 250 trabalhadores.

Luís Albuquerque defende que "Portugal não tem massa crítica para ter marcas próprias, mas tem capacidade para produzir marcas licenciadas, assegurar entregas rápidas e pequenas encomendas". A localização, a duas horas de avião de todas as capitais europeias, é uma vantagem para o país.

A qualidade do aeroporto e a beleza da cidade do Porto funcionam como elementos complementares às viagens de negócios ao Norte do país. "Temos cada vez mais clientes que vêm em trabalho e ficam mais um dia ou dois ou o fim-de-semana", assegura Luís Albuquerque, considerando que há factores novos que podem ajudar a atrair mais investimento estrangeiro para a região.

Argelinos criam 20 empregos
Dois irmãos argelinos, Laroussi e Salim Amouri, receberam os restantes dois ARI atribuídos a investidores estrangeiros por criação de emprego. Os dois empresários, donos de um dos maiores grupos privados da Argélia, com actividade nos sectores dos materiais de construção, automóvel, construção civil e obras públicas, criaram uma pequena empresa, a Tijolos & Conselhos Lda, na região de Aveiro.

A deslocação à Europa, em negócios, dos dois empresários argelinos era frequente, e a obtenção de vistos muito burocrática. A criação da Tijolos & Conselhos Lda, na região de Aveiro, criou 20 postos de trabalho, o número mínimo necessário para a atribuição de dois vistos, que garantem a livre circulação no espaço Schengen. A empresa dedica-se ao desenvolvimento de projectos, construção e instalação de unidades industriais.