Dois reféns mortos após falhanço de missão de resgate por forças do Iémen e dos EUA

Fotojornalista norte-americano e professor sul-africano estavam na posse da Al-Qaeda. EUA dizem que não sabiam quem era o outro refém, que deveria ter sido libertado neste domingo, depois do pagamento de um resgate.

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Num vídeo revelado esta semana, Somers é ameaçado de morte pelos seus raptores AFP

Uma das vítimas é o fotojornalista norte-americano Luke Somers, que tinha sido raptado em Setembro de 2013. Ao início julgava-se que Somers teria conseguido ser resgatado, mas o secretário da Defesa norte-americano, Chuck Hagel, confirmou a sua morte, dizendo que “tanto Somers como um segundo refém não americano foram mortos pela AQAP", a acrónimo em inglês para Al-Qaeda na Península Arábica, presente no Iémen e na Arábia Saudita.

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Uma das vítimas é o fotojornalista norte-americano Luke Somers, que tinha sido raptado em Setembro de 2013. Ao início julgava-se que Somers teria conseguido ser resgatado, mas o secretário da Defesa norte-americano, Chuck Hagel, confirmou a sua morte, dizendo que “tanto Somers como um segundo refém não americano foram mortos pela AQAP", a acrónimo em inglês para Al-Qaeda na Península Arábica, presente no Iémen e na Arábia Saudita.

Somers, de 33 anos, apareceu recentemente num vídeo em que um membro da organização terrorista o ameaçava matar neste sábado caso não fossem cumpridas certas exigências. No vídeo, o fotojornalista alerta “Obama e o Governo norte-americano para as consequências de avançar para outra acção inútil”. Falando em Cabul, no Afeganistão, Hagel disse haver “razões convincentes para acreditar que a vida de Somers estaria em perigo”.

Os militantes da Al-Qaeda terão disparado sobre Somers assim que se aperceberam da chegada da equipa de resgate, de acordo com informações dadas ao New York Times por um funcionário da administração norte-americana. O fotojornalista ainda foi levado para um navio da Marinha, mas acabou por morrer por causa dos ferimentos.

O outro refém abatido pelo ramo iémenita da Al-Qaeda foi o professor sul-africano Pierre Korkie, raptado desde Maio de 2013. A confirmação foi prestada à AFP pela organização Gift of the Givers, que estava a tentar negociar a sua libertação - terá sido pago um resgate. Segundo o presidente da associação de caridade muçulmana, Imtiaz Sooliman, o professor estaria prestes a ser libertado e Washington já o deveria saber.

A família de Korkie está "psicologicamente e emocionalmente devastada, sabendo que Pierre seria libertado pela Al-Qaeda amanhã", informou a associação, através de um comunicado citado pela AFP.

“Não posso dizer se os americanos já sabiam onde é que eles se encontravam (…) mas muita gente sabia que ele [Pierre Korkie] iria ser libertado”, disse Sooliman, durante uma conferência de imprensa. “Não podemos culpar ninguém por isto, é uma prisão de reféns, uma situação de crise e cada um trabalha pelos seus interesses”, acrescentou o Sooliman, dizendo compreender que os dirigentes norte-americanos tenham sentido “pressão das famílias para libertar os seus compatriotas”.

Mas em declarações à BBC, um alto funcionário da Administração americana disse que não se sabia quem era o outro refém.

“Homicídio bárbaro”

As primeiras informações dadas por fontes do Ministério da Defesa do Iémen diziam que a operação tinha sido bem-sucedida, mas horas depois confirmava-se oficialmente a morte dos dois reféns.

O Ministério da Defesa do Iémen tinha informado ainda que dez membros da Al-Qaeda foram mortos durante um ataque aéreo na província de Shabwa, no sul do país. Porém, ao NYT, um líder tribal que testemunhou os reides, disse que “apenas dois dos mortos pertenciam à Al-Qaeda” enquanto nove faziam parte da sua tribo. Chuck Hagel afirmou que vários militantes do grupo terrorista foram mortos durante a operação.

A célula da Al-Qaeda no Iémen ganhou força em 2011, aproveitando o conflito armado que quase fez colapsar o país após a queda do Presidente Ali Abdullah Saleh. No sul, a AQAP declarou um Estado Islâmico, mas uma campanha lançada pelo novo Presidente, Abdrabbuh Mansour Hadi, obrigou o grupo a recuar para o interior. A Casa Branca chegou a considerar a AQAP como o ramo operacional da Al-Qaeda mais activo, depois do Paquistão e do Afeganistão.

O Presidente norte-americano, Barack Obama, condenou aquilo que denominou como um “homicídio bárbaro”. “Os Estados Unidos não vão poupar esforços na utilização de todas as suas capacidades militares, de informação e diplomáticas para trazer americanos para casa em segurança, estejam onde estiverem”, garantiu Obama, através de um comunicado de imprensa.

Esta semana a Casa Branca tinha confirmado que uma outra tentativa de resgate de Somers tinha sido autorizada por Obama em Novembro. “Infelizmente não encontrámos Somers, mas havia reféns de outras nacionalidades que puderam ser salvos”, esclareceu o Conselho de Segurança de Obama.

Aos dois falhanços para resgatar Somers junta-se a tentativa, em Julho, de salvar o jornalista norte-americano James Foley - que estava preso na Síria pelo Estado Islâmico -, também sem sucesso, o que demonstra a grande dificuldade em levar a bom porto este tipo de operações. Se, por um lado, se torna difícil obter informações fiáveis sobre a localização exacta dos prisioneiros e preservar o elemento surpresa (aspecto que terá falhado na missão deste sábado), por outro, assegurar a protecção dos reféns num contexto de combate pode chegar mesmo a ser impossível.