Perturbações psiquiátricas roubam mais anos de vida saudável do que cancro
Falta de equipas comunitárias de saúde mental levam a que prescrição de fármacos “continue a ser a resposta predominante, mesmo nas situações em que não está indicada”, diz relatório.
O indicador DALY, sigla que corresponde à designação inglesa Disability-Adjusted Life Year, mede os anos perdidos de vida saudável. Olhando para os dados sobre saúde mental por esta perspectiva nem Portugal este tipo de patologias representa 11,75% da carga global de doença (dados de 2010), logo atrás das doenças cérebro-cardiovasculares (13,74%) e com mais peso do que as doenças oncológicas (10,38%).
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O indicador DALY, sigla que corresponde à designação inglesa Disability-Adjusted Life Year, mede os anos perdidos de vida saudável. Olhando para os dados sobre saúde mental por esta perspectiva nem Portugal este tipo de patologias representa 11,75% da carga global de doença (dados de 2010), logo atrás das doenças cérebro-cardiovasculares (13,74%) e com mais peso do que as doenças oncológicas (10,38%).
As perturbações psiquiátricas afectam mais de um quinto da população portuguesa. As perturbações da ansiedade (16,5%) e as perturbações depressivas (7,9%) têm os valores mais altos de prevalência anual, recorda este relatório, aludindo a dados do 1.º Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental divulgado em 2013. Em comparação com outros países ocidentais, Portugal apresenta assim dos mais altos valores de prevalência de perturbações psiquiátricas (22,9%), apenas comparáveis com a Irlanda do Norte (23,1%) e com os Estados Unidos (26,4%).
O documento diz que a proporção maior de doentes com demência e perturbações de ansiedade se encontra na região do Alentejo. É precisamente no Alentejo, mas também no Algarve, que há apenas cerca de metade dos médicos necessários para cobrir as necessidades da população. E a Unidade de Internamento da Unidade Local de Saúde, do Baixo Alentejo, em Beja, continua a não estar activa por falta de psiquiatras, obrigando a que os doentes tenham que ser transferidos para Lisboa, sublinha o documento que faz o balanço do sector.
Outras das grandes falhas apontadas é a carência de equipas comunitárias de saúde mental, ou seja, de profissionais de saúde que acompanhem os doentes próximo do seu local de residência, sem terem de se deslocar aos hospitais. “Continuam num patamar de desenvolvimento inferior ao dos restantes países da Europa Ocidental”, refere o documento que vai ser apresentado por Álvaro Carvalho, director do Programa Nacional para a Saúde Mental. O relatório diz que enquanto continuarem a faltar aquelas equipas, "a intervenção psicofarmacológica tenderá a continuar a ser a resposta predominante, mesmo nas situações em que não está particularmente indicada". Um dos “maiores obstáculos à evolução do funcionamento desses serviços”, refere o documento é “a questão do seu modelo de financiamento/ composição”.
No que diz respeito à medicação, o relatório recomenda “uma análise da prática sobre a prescrição e utilização” de psicofármacos, em especial no caso dos ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, já que, em comparação com outros países europeus, “Portugal apresenta o maior consumo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos (96 DHD - Dose Diária Definida por 1000 habitantes), muito superior à Dinamarca (31 DHD), Noruega (62 DHD) e Itália (53 DHD).
Uma das áreas mais carenciadas é a saúde mental de crianças e adolescentes, nomeadamente em termos de internamento. No sector público existirem apenas 10 camas de internamento para a zona Norte e 14 para a zona de Lisboa e Vale do Tejo. O documento sublinha que continua a aguardar-se a implementação do último pilar do Plano Nacional para o sector: os Cuidados Continuados de Saúde Mental, tanto na vertente dos adultos como no das crianças/adolescentes.