Encontro de (des)iguais
Um, Richard Linklater, é um realizador no pico da popularidade – por causa de Boyhood. O outro, James Benning, é cineasta de “nicho”, inimaginável no circuito comercial. Juntá-los foi a curiosa, e nada óbvia, ideia.
Juntá-los foi a curiosa, e nada óbvia, ideia de Gabe Klinger, crítico brasileiro radicado nos EUA, para o seu primeiro filme como realizador, integrado na mais célebre (e mais duradoura) série votada ao cinema e aos cineastas, Cinéma, de Notre Temps, iniciada nos anos 60 sob os auspícios dos históricos André S. Labarthe e Jeanine Bazin (a viúva de André Bazin), então com o título Cinéastes, de Notre Temps.
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Juntá-los foi a curiosa, e nada óbvia, ideia de Gabe Klinger, crítico brasileiro radicado nos EUA, para o seu primeiro filme como realizador, integrado na mais célebre (e mais duradoura) série votada ao cinema e aos cineastas, Cinéma, de Notre Temps, iniciada nos anos 60 sob os auspícios dos históricos André S. Labarthe e Jeanine Bazin (a viúva de André Bazin), então com o título Cinéastes, de Notre Temps.
Se o filme de Klinger chega às salas, e se haverá espectadores para o ver, será muito mais por Linklater e pelo “momento Linklater” do que por Benning. E no entanto o filme, sendo sobre os dois e sobre o cinema dos dois, é muito mais sobre Benning, e muito mais sobre o olhar de Linklater sobre Benning do que o inverso. Sem recorrer aos modos mais canónicos do didactismo, Klinger filma o convívio entre os dois, e as conversas decorrentes, nascidas em ambiente de casualidade preparada, numa ocasião em que Benning foi à “film society” que Linklater anima em Austin, Texas, apresentar alguns filmes seus. É óbvio que Linklater conhece muito melhor os filmes de Benning do que Benning os de Linklater, até porque se trata de alguém estranho à cinefilia tradicional. Mas é essa espécie de desequilíbrio, a vários níveis, que se torna interessante, ao obrigá-los a encontrar pontos em comum, entre o que é corriqueiro (o basebol) e o que é mais fundo: a “independência”, de que ambos são intérpretes, ainda que de maneiras diferentes, e em termos de preocupações temáticas, a questão do tempo (o tempo dos filmes de Benning, o tempo que, como “Boyhood” atesta, também é um interesse de Linklater).
É finalmente o que decide este filme subtil e delicado: converter um tema dos cineastas que aborda no seu próprio tema - ver por exemplo a longa, e central, cena de refeição entre os dois, como se não houvesse pressa nenhuma - e acabar a ser um filme sobre a liberdade (não apenas criativa) que se exprime através dessa relação com o tempo. Bastante ilustrado com excertos dos filmes de ambos, talvez tenha ainda o condão de atrair mais gente para a descoberta dos filmes de Benning, algo de que Linklater, neste momento da sua obra, já não precisa.