“Contamos com todos que queiram honrar a camisola”
Tomaz Morais, Director Técnico Nacional, faz o balanço do jogo-teste contra a Namíbia e antevê a participação de Portugal na segunda etapa do Circuito Mundial de sevens
Depois de no dia 22 de Novembro a selecção nacional de râguebi de XV ter regressado às vitórias derrotando a Namíbia, formação que está qualificada para disputar no próximo ano o Mundial 2015, Portugal prepara-se para voltar a competir, agora com a equipa de sevens que vai disputar a partir da madrugada desta sexta-feira a segunda etapa do Circuito Mundial. Responsável máximo por todas as selecções, o Director Técnico Nacional analisa o actual momento das duas principais formações de Portugal.
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Depois de no dia 22 de Novembro a selecção nacional de râguebi de XV ter regressado às vitórias derrotando a Namíbia, formação que está qualificada para disputar no próximo ano o Mundial 2015, Portugal prepara-se para voltar a competir, agora com a equipa de sevens que vai disputar a partir da madrugada desta sexta-feira a segunda etapa do Circuito Mundial. Responsável máximo por todas as selecções, o Director Técnico Nacional analisa o actual momento das duas principais formações de Portugal.
Que balanço faz do jogo com a Namíbia?
Ficamos satisfeitos por termos conseguido construir uma equipa, segundo os processos que foram definidos em conjunto com os jogadores. De segunda-feira até sábado a evolução foi enorme. Quem viu o primeiro treino não acreditava ser possível fazer sequer um jogo competitivo. A grande vitória foi o trabalho realizado durante a semana. Jogamos de igual para igual com a Namíbia, lançando oito jogadores com menos de 23 anos e a maior parte nunca tinha representado a selecção. O jogo acabou por nos correr de feição e quando jogamos com uma boa prestação ofensiva e com grande capacidade defensiva, como tivemos em alguns períodos, voltamos a ter a atitude à portuguesa que sempre pedimos aos jogadores. Mas estamos conscientes que foi apenas um jogo num trajecto que é longo e requere muito trabalho.
A boa defesa de que falou era uma das imagens de marca de Portugal até 2007, mas nos últimos anos tem sido um dos pontos fracos das selecções nacionais. É um problema geracional ou é falta de treino?
Não se resolve só com treino. No princípio dos anos 2000, com o Director Técnico Nacional da altura, o professor Olegário Borges, definimos que esse era o ponto técnico estratégico para o râguebi português. Essa era uma grande lacuna na altura. Lembro-me que a selecção no meu tempo de jogador não ganhava mais jogos por não ter capacidade defensiva. Tínhamos bons jogadores e eramos bem treinados, mas a defender eramos muito fracos. Foi esse trabalho que foi feito durante uma década, como ponto característico dos Lobos. Nessa geração também tivemos jogadores que tinham uma paixão muito grande em placar, defender e destruir o jogo adversário. No final dos anos 2000, tentou-se inverter esse trabalho, apostando na capacidade de jogar na placagem, no ataque e na continuidade de jogo. Esse trabalho deu frutos, mas descuidámos o processo defensivo que está a ser outra vez muitíssimo bem trabalhado numa perspectiva individual nas selecções todas, que têm uma linha comum de intervenção e já vemos todas as selecções a defender bem. Tenho que destacar sempre as 12 recuperações de bola dentro da linha de 22 metros que os portugueses fizeram nos Sub-19 contra a Espanha. Esse é um marco.
Já há condições em Portugal para separar o XV dos sevens e manter equipas competitivas?
Ainda é prematuro fazer essa avaliação, mas temos seguido com muito rigor o processo que definimos. Ainda não cometemos nenhum desvio do que foi posto no papel com todos os técnicos da federação: separar os sevens do XV. Se não formos obrigados a isso por uma onda de lesões ou outra questão qualquer, queremos manter isso, pelo menos, até ao final de Março. Há um grupo de jogadores que ainda estão na selecção de XV que também se podem juntar aos sevens, por uma razão estratégica: o apuramento olímpico vai-se decidir com quatro torneios em Junho e Julho e, possivelmente, com um quinto em Agosto. É uma maratona longa de grande desgaste. O Circuito Mundial actualmente é uma prova de Formula 1, que se está a jogar com um ritmo impressionante, o que nos obriga a ter muitos jogadores. Há quem esteja a jogar na selecção de XV que pode aparecer na selecção de sevens, mas os de sevens só numa necessidade muito grande é que transitam para o XV.
No campeonato tem surgido novos valores, como o Flávio Martins de Agronomia. O grupo não está fechado…
Não está e o Flávio é um exemplo disso. Para azar dele, no primeiro treino que fez de testes físicos teve uma lesão muscular e não conseguiu fazer a preparação para o Dubai, mas era um jogador em quem tínhamos muita expectativa e estava na corrida por um lugar nos convocados. Teve esse azar, mas vamos voltar a vê-lo oportunamente.
Quais são as possibilidades de Portugal para a etapa do Dubai do Circuito Mundial?
São fortes. Definimos como objectivo a manutenção e para que isso aconteça temos que ir pontuando, como fizemos na Austrália, e deixar os adversários directos atrás de nós. Levamos um grupo forte e muito bem preparado do ponto de vista técnico e físico. Quem sabe, podemos causar uma surpresa e ir mais além. O grupo que vamos ter no Dubai [África do Sul, País de Gales e Canadá] é extremamente equilibrado e todas as equipas podem perder e ganhar com todas.
O regresso de Duarte Moreira, Carl Murray e Bernardo Seara Cardoso torna o grupo dos 12 convocados mais homogéneo...
Mais homogéneo e consistente, embora haja um jogador, que é o Joe Gardener, que quando está disponível dá sempre qualidade à equipa. Neste momento não está, mas quando regressar pode integrar novamente o grupo. Depois há também o Frederico Oliveira ou o David Mateus, que ainda estão lesionados, e os dois sub-19 [João Bello e Miguel Macedo] que têm feito um trabalho excepcional e lutaram até à última por um lugar. O grupo foi competitivo até na disputa dos lugares.
A FPR tinha conhecimento de que o Joe Gardener iria ficar indisponível por regressar aos Estados Unidos nesta altura?
Sim. Isto é uma maratona e seria inconsciente da nossa parte tentar jogar todo o torneio com os mesmos 12 jogadores. Só quem lá anda é que consegue sentir nas pernas o que dói estar ali. O Joe Gardener foi bem utilizado. Sabíamos que podia jogar em Setembro e Outubro e não está fora de hipótese o seu regresso. O que definimos nas selecções nacionais foi que utilizaríamos todos os jogadores que estão disponíveis para representar Portugal. Contamos com todos que queiram honrar a camisola com muito orgulho e sentido de compromisso. O Joe trouxe altura e a qualidade que lhe é reconhecida…
E estará disponível para jogar ainda neste Circuito Mundial ou nos torneios de qualificação para os Jogos Olímpicos?
O Joe é sempre uma incógnita (risos). A criatividade e o espírito que ele tem pode dar para os dois lados. Se ele regressar a Portugal e tiver os índices físicos que apresentou em Setembro contamos com ele, se ganhar o lugar como todos os outros. Mas não ficaremos agarrados a qualquer jogador.
Foi isso que se passou com os jogadores da selecção de XV que actuam nos campeonatos franceses?
Os jogadores que estão em França foram convocados para o jogo com a Namíbia. Não vieram por não estarem disponíveis por exigência dos clubes ou por razões pessoais ou profissionais. Vamos seleccionar sempre os que estiverem com capacidade e em boa forma. Não chega só ter nome ou estatuto. Foi isso que fizemos com a Namíbia. Os que estão em França, se estiverem em boas condições e disponíveis para representar a selecção, são tão úteis como todos os outros que estão em Portugal. Depois, jogam os melhores.
Isso significa que não há nenhum nome riscado?
Não há nenhum jogador que esteja em França que esteja riscado da selecção. Convocamos 10 jogadores que actuam nos campeonatos franceses e só dois se mostraram disponíveis [Pedro Bettencourt e José Lima]. Chamamos também dois jovens, de uma segunda lista, que tínhamos debaixo de olho: o Maxime Tonietta e Geoffrey Moise. O Moise acabou por não ser utilizado, mas tem qualidade e vamos continuar a segui-lo. Gostávamos de o ver jogar à direita na mêlée, mas teve um período de adaptação pequeno e não quisemos arriscar, por ser um jogo de grande responsabilidade. Percebeu o que tem que fazer, já nos conhece e será útil para o futuro. Foi uma aposta ganha. Em relação aos outros, não há problemas com ninguém. Os nossos adversários estão na Geórgia, na Roménia, na Rússia, na Alemanha e em Espanha.