Simplicidade e eficácia
Na sua passagem por Portugal, Brian McLean deixou claro as exigências que se colocam aos treinadores para a eficácia dos seus treinos e desenvolvimento dos jogadores
O papel de um treinador é tornar simples aquilo que é complexo. Este conceito inicial das diversas mensagens que Brian "Aussie" McLean, treinador assistente dos All Blacks, foi deixando ao longo da semana que passou em Portugal nos contactos que teve com jogadores e treinadores portugueses. Simplicidade foi o lema - fazendo-me lembrar sempre o célebre KISS (keep it simple, stupid) que se exige a quem queira a compreensão dos outros para aquilo que quer comunicar. Porque, como avisa, o rugby não é nada simples e é, pelo contrário, bastante complexo e nem sempre, com as suas 22 Leis, de fácil compreensão.
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O papel de um treinador é tornar simples aquilo que é complexo. Este conceito inicial das diversas mensagens que Brian "Aussie" McLean, treinador assistente dos All Blacks, foi deixando ao longo da semana que passou em Portugal nos contactos que teve com jogadores e treinadores portugueses. Simplicidade foi o lema - fazendo-me lembrar sempre o célebre KISS (keep it simple, stupid) que se exige a quem queira a compreensão dos outros para aquilo que quer comunicar. Porque, como avisa, o rugby não é nada simples e é, pelo contrário, bastante complexo e nem sempre, com as suas 22 Leis, de fácil compreensão.
Ver jogar os All Blacks é perceber a importância decisiva na sua eficácia do domínio simplicidade: tudo é simples, as decisões são simples, as soluções adoptadas são simples. Tudo porque por trás do visível está um trabalho profundo de simplificação que, tendo como fundamento a aplicação constante dos Princípios Fundamentais do Jogo, é de permanente aplicação, começando desde logo pelo treino. Aliás este processo, alterando e adequando um ou outro aspecto, tem longa tradição no ensino e desenvolvimento do jogo neozelandês.
Quando tive a sorte de estar uma série de dias com os All Blacks, durante a sua digressão por França ao tempo do treinador Laurie Mains, aquilo que me impressionou (e mais me ensinou) foi a simplicidade das formas de treino, sempre ligadas às situações de jogo e tendo como objectivo resolver questões do jogo - conseguindo como resultado, para além do domínio técnico, um domínio do conhecimento táctico que faz a diferença. Aí pude ver o que Aussie veio repetir: joga-se de acordo com o momento que o jogo dá. E portanto treina-se de acordo com o jogo que se pretende jogar - cumprindo aliás a verdade universal do treina-se como se joga, joga-se como se treina.
A habitual trilogia - três parâmetros por acção - foi também lembrada por McLean. Cada exercício deve ter como dominantes a clareza, a precisão e a intensidade. A clareza exige que toda a gente perceba o que se pretende, a precisão é necessária porque, como lembra outro treinador australiano campeão do Mundo, Bob Dwyer, no seu "só a procura da perfeita execução permite chegar á perfeição", só assim se atinge o objectivo pretendido. Por outro lado, a intensidade é a variável que exige um controlo diferenciado de acordo com as circunstâncias e objectivos momentâneos do treino.
As decisões tomam-se de acordo com a informação disponível mas no desporto em geral e no râguebi em particular a pressão que a velocidade impõe exige, desde logo e mais do que noutros espaços, a diminuição do número de opções - se as opções forem muitas, as dificuldades de decisão aumentam e o tempo justo de intervenção perde-se numa encruzilhada de interrogações. Daí que seja necessário recorrer a uma espécie de cábulas que permitam aos jogadores focarem no essencial - nos factores críticos transformadores, nos critical few - e não se distraírem com trivialidades.
Uma trilogia, diminuindo opções e com o aviso de Aussie de que mais de três opções não serão lembradas pelo jogador no momento da acção - voltou à cena e foi de novo utilizada como ferramenta para que os treinadores possam ensinar melhor os jogadores a encarar as situações de quebra no chão (breakdown). À aproximação do ponto de quebra provocado pela defesa adversária, o primeiro apoiador terá que se decidir por uma de três opções, perguntando-se - no clique de um olhar - por esta ordem e reagindo de acordo: o portador pode passar-me a bola? a bola está disponível? existem adversários ameaçando a posse da bola? Cada resposta deverá garantir que a decisão tomada mantém a posse da bola para continuar o movimento - cumprindo assim os Princípios Fundamentais de Apoio e Continuidade para poder levar a equipa a Avançar e a ampliar a Pressão, desequilibrando o adversário - e assim, preparar-se para a melhor linha de passe para receber a bola ou para apanhar a bola e continuar com ela ou, ainda, limpar os corpos adversários e permitir que os seus companheiros apanhem a bola. Simples e eficaz com tudo a depender do tempo de chegada do apoio, mas sem dúvidas sobre a decisão a tomar, sobre qual técnica utilizar ou sobre o porquê das coisas.
Dir-se-á que nada do que se ouviu é novidade ou desconhecido. Claro, que não! Novidade é a forma simples como todo este conhecido manancial se transforma em método a exigir, para que o desempenho atinja os resultados pretendidos, não apenas saber o que se pretende - o objectivo - mas, essencialmente, saber que caminho percorrer para lá chegar. E Brian McLean, em cada exercício, em cada explicação, deixou claro as exigências que se colocam aos treinadores para a eficácia dos seus treinos e desenvolvimento dos jogadores. E com uma garantia fundamental - os melhores do Mundo treinam assim.