Reza e Golnaz: um casal do Irão luta pela liberdade em Portugal
Reza e Golnaz, que por medo de represálias políticas pediram o anonimato, são exemplos de sucesso. São o testemunho de coragem e de resiliência.
Um dia, tudo o que dás por garantido desaparece. No Irão, tens a tua casa, o teu emprego, um casamento estável e filhos na escola. Tens liberdade. Frequentas festas com os teus amigos. Falas a tua língua, e a vida é previsível. Depois, acontece uma revolução. Uma mão brande um texto sagrado; a outra aponta para ti. A mulher tem de tapar o corpo. A polícia irrompe pelas festas e leva gente para a prisão. Bate muito por causa da música e do verniz nas unhas.
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Um dia, tudo o que dás por garantido desaparece. No Irão, tens a tua casa, o teu emprego, um casamento estável e filhos na escola. Tens liberdade. Frequentas festas com os teus amigos. Falas a tua língua, e a vida é previsível. Depois, acontece uma revolução. Uma mão brande um texto sagrado; a outra aponta para ti. A mulher tem de tapar o corpo. A polícia irrompe pelas festas e leva gente para a prisão. Bate muito por causa da música e do verniz nas unhas.
Um dia, vens com as tuas crianças a Portugal. Percebes que já não consegues voltar. Não consentes que elas sejam educadas naquele inferno. E arriscas. Deixas a tua casa limpa e arrumada, a tua língua e a tua família. Perdes tudo. E tens duas crianças para alimentar. Reza e Golnaz (nomes fictícios) chegaram em 1996 com as duas filhas. Ele tinha 44 anos, e ela 41. Não se conformaram com aquela realidade.
Quem o vê não conhece a sua história. Até agora. Golnaz, sua mulher, conta-nos um pouco do percurso do casal: “Eu era professora, o meu marido era gerente bancário. Não saímos por razões financeiras. Tínhamos uma vida normal. Não passávamos necessidades” Mas não havia liberdade. “Eles não deixavam ninguém falar”, disse Reza.
Primeiro, Golnaz foi impedida de dar aulas de arte, pois os estudantes “não precisavam de arte”, segundo o poder. Começou a dar aulas de ciência e de inglês. De seguida, separaram os rapazes das raparigas. “No 1.º ano da Revolução, não fizeram mal na rua. Bateram, às vezes, mas não era lei. A lei começou para o trabalho: professores, bancários… As mulheres precisavam de usar vestido comprido e lenço”.
Decidiram partir. “Para mim foi um pesadelo”, disse Golnaz. “Morávamos numa casa grande, com conforto. No inverno, que lá tem neve, andávamos de t-shirt, porque tínhamos o aquecimento central. Nos primeiros 8 meses, morei [em Portugal] com uma familiar portuguesa. Reza chegou 7 meses depois. Vim de visita. Depois disse que não queria voltar. Deixei tudo. Não tínhamos documentos. Nada. Um familiar encontrou um trabalho para Reza como pedreiro. Eu chorei tanto! Não tínhamos esta vida. Chorava toda a noite.”
Um ano depois, as crianças entraram na escola. Golnaz começou a trabalhar como ama. O trabalho seguinte foi em serviço de restaurante. Entretanto tentaram comprar uma casa. Correu mal. Ficaram sem poupanças e sem casa. Reza foi contratado, há cerca de 3 anos, pelo actual patrão. Apesar de não ter voltado à banca, conseguiu um emprego estável.
Mas o principal objectivo era o bem-estar dos filhas. As duas crianças nascidas no Irão adaptaram-se depressa e bem. Não tencionam voltar. A primogénita acabou o mestrado e tem emprego numa multinacional, onde ocupa um lugar directivo. E agora Reza e Golnaz? Querem voltar ao Irão, tantos anos depois? “Não. Agora não; talvez nunca”. Reza e Golnaz, que por medo de represálias políticas pediram o anonimato, são exemplos de sucesso. São o testemunho de coragem e de resiliência.