Tabaré Vázquez eleito Presidente do Uruguai
O médico oncologista de 74 anos, que integra a coligação Frente Ampla de esquerda, era o grande favorito. Recupera o cargo que ocupou entre 2005 e 2010 e entregou ao seu correlegionário José Mujica, que se tornou um dos políticos mais populares do mundo.
Aos 74 anos, o favorito Vázquez volta a ocupar o cargo que já exerceu entre 2005 e 2010 (a Constituição do país impede a reeleição). Recebe o poder, no próximo mês de Março, do seu correligionário da coligação de esquerda Frente Ampla, José “Pepe” Mujica, o ex-guerrilheiro que se tornou um dos políticos mais populares do país (e também no resto do mundo) – e agora se tornará senador.
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Aos 74 anos, o favorito Vázquez volta a ocupar o cargo que já exerceu entre 2005 e 2010 (a Constituição do país impede a reeleição). Recebe o poder, no próximo mês de Março, do seu correligionário da coligação de esquerda Frente Ampla, José “Pepe” Mujica, o ex-guerrilheiro que se tornou um dos políticos mais populares do país (e também no resto do mundo) – e agora se tornará senador.
A vitória de Tabaré Vázquez consolida a Frente Ampla como a força política dominante no país. Nas legislativas que coincidiram com a primeira volta da eleição presidencial, a coligação que congrega 27 diferentes partidos e movimentos políticos de esquerda obteve a sua terceira maioria parlamentar consecutiva. O Presidente eleito é classificado como um moderado, defensor de uma via mais social-democrata do que socialista.
A opção pela continuidade é explicada pelos analistas com a situação de estabilidade económica e social do Uruguai, graças a um crescimento superior a 4% que mantém o desemprego na casa dos 6% e torna possível o financiamento de programas de redução da pobreza (que desde 2002 caiu de 40% para 11%), e de acesso à educação, saúde e habitação de grande adesão popular.
“Tabaré receberá um país com as contas em ordem, a dívida sustentável e o grau de investimento estrangeiro bom, nos 5% do PIB. Mas a conjuntura internacional apresentará desafios”, alertou a directora do Instituto de Ciências Económicas da Universidade da República, Gabriela Mordecki, em declarações ao jornal brasileiro Folha de São Paulo.
No seu primeiro mandato, o Presidente agora eleito recuperou o país da crise e operou uma profunda reorganização económica, beneficiando das circunstâncias externas de alta do preço das matérias-primas (o Uruguai tornou-se um dos maiores exportadores de soja para a China, por exemplo). Desta vez, prometeu promover o investimento directo estrangeiro.
Apesar do saldo positivo das contas nacionais, nem tudo corre bem no país, onde a taxa de inflação ultrapassa os 8% e os índices de criminalidade estão em alta. A insegurança e o alto custo de vida foram apontados pelos eleitores como as suas principais preocupações durante a campanha eleitoral
Tratado pelos seus apoiantes apenas pelo primeiro nome, Tabaré, o novo Presidente do Uruguai é um self-made man, que na juventude conseguiu uma bolsa de estudo para tirar o curso de Medicina em Paris e agora dirige a mais importante clínica oncológica do país. A escolha da especialidade tem uma história: Vázquez dedicou os seus esforços à compreensão da doença que matou os seus pais.
Tabaré Vázquez deixou o palácio presidencial com uma elevada taxa de aprovação de mais de 70%, o que não quer dizer que o seu mandato tenha sido isento de controvérsias. Aliás, teve de defender-se de acusações de abuso do poder e nepotismo, depois de nomear o seu irmão Jorge para um cargo na presidência.
Na inevitável comparação com o actual chefe de Estado, o que mais salta à vista é a diferença do “estilo” pessoal: Tabaré é um homem de gostos requintados e caros, que frequenta locais luxuosos e sempre usufruiu de todos os benefícios inerentes ao cargo, ao passo que grande parte da simpatia mundial por Mujica se explica pela sua modéstia e humildade – o Presidente que nunca se quis mudar para o palácio de Montevideu, todos os meses distribui 90% do seu salário.
Mas também há diferenças ideológicas entre os dois: Vázquez sempre foi contra a legalização do aborto, do casamento de homossexuais ou da produção, venda e consumo de marijuana, três leis aprovadas por Mujica, confirmando as suas credenciais mais progressistas. Durante a campanha, o Presidente eleito esclareceu que não tinha mudado de opinião em relação a nenhum desses temas, mas também sublinhou que nada faria para revogar a legislação. “Antes de tudo, sou um legalista”, garantiu.