Que PS saiu do XX Congresso?
Sem grandes promessas, mas com ideias concretas, Costa conseguiu empolgar os delegados.
O secretário-geral do PS conseguiu transformar um congresso que à partida parecia condenado a ser uma espécie de velório político – depois da prisão preventiva de José Sócrates – num congresso onde até conseguiu entusiasmar os militantes. E até se discutiram ideias para o país. A mensagem no primeiro dia dos trabalhos para separar a acção política do partido do caso judicial resultou e este domingo nem sequer se ouviu uma referência, mesmo que indirecta, a José Sócrates. Os socialistas sabiam que avivar o tema no congresso poderia ser suicida para o partido.
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O secretário-geral do PS conseguiu transformar um congresso que à partida parecia condenado a ser uma espécie de velório político – depois da prisão preventiva de José Sócrates – num congresso onde até conseguiu entusiasmar os militantes. E até se discutiram ideias para o país. A mensagem no primeiro dia dos trabalhos para separar a acção política do partido do caso judicial resultou e este domingo nem sequer se ouviu uma referência, mesmo que indirecta, a José Sócrates. Os socialistas sabiam que avivar o tema no congresso poderia ser suicida para o partido.
Depois de um primeiro dia de trabalhos amorfo e com pouco entusiasmo, António Costa conseguiu no discurso de encerramento a proeza de empolgar os militantes com um discurso onde procurou vincar a marca ideológica do novo PS, com a apresentação de meia dúzia de ideias concretas.
No plano interno, o XX Congresso do PS não surpreendeu. A Comissão Nacional, órgão máximo entre congressos, foi eleita com 87% dos votos, e reuniu-se depois para eleger a Comissão Política e o Secretariado Nacional. Um Secretariado renovado, sem um nome da anterior direcção de António José Seguro. Talvez a única pedra no sapato tenha sido Francisco Assis, que ficou fora dos órgãos do partido.
No plano político, Costa também foi previsível. Diz que "o sonho da direita" de ter uma maioria, um Governo e um Presidente foi "um pesadelo" e traçou o perfil que pretende para um Presidente que venha a ser apoiado pelo PS. Afastou alianças à direita e colocou o Livre na rota das alianças.
Onde surpreendeu foi na apresentação de cinco preocupações ou ideias bastante concretas, o que vai permitir colocar na agenda pública assuntos que dizem muito às pessoas e ao dia a dia, alguns dos quais foram discutidos apenas nas catacumbas das comissões de especialidade na Assembleia.
É o caso das propostas, entretanto chumbadas no Parlamento, de prolongar o subsídio social de desemprego por seis meses ou para introduzir uma cláusula de salvaguarda para que o aumento do IMI continue a ser limitado. Costa falou ainda do IVA de caixa e recebeu a maior ovação quando criticou a proposta do Governo para introduzir o quociente familiar sem ter em conta a natureza da família. Sem o nomear, foi o ressuscitar de temas como a co-adopção ou a adopção entre casais do mesmo sexo. E não deixou ainda de criticar o fim do feriado da Restauração da Independência, embora não tenha sido claro se, com o PS no Governo, o 1 de Dezembro voltará a ser feriado.
As ideias que dizem respeito ao dia a dia dos portugueses farão o seu caminho no debate público e só é pena que António Costa tenha fechado a porta a entendimentos com a direita de uma forma tão categórica, já que algumas das suas ideias poderiam ser discutidas no imediato, ajudando a corrigir alguns desequilíbrios sociais provocados pela crise. Mas para isso é preciso ensaiar um clima de diálogo. Um consenso só com o Livre pode ser curto.