Dos surpreendentes Bristol ao eclectismo vibrante de Perfume Genius
Festival Vodafone Mexefest chegou ao fim com lotação esgotada. Para o ano, espera-se, haverá mais, quem sabe com mais espaço e menos sobreposições
O segundo dia de festival estava, já antes de começar, marcado pelas diversas sobreposições de concertos que tornam impossível ouvir tudo o que idealmente se ambiciona. Foi preciso, para muitos, fazer escolhas difíceis e desistir forçadamente de alguns concertos pela lotação esgotada das salas. Ainda assim, o festival urbano despediu-se de uma cidade que, mais uma edição, o acolheu calorosamente e já elegeu os artistas que quer agora ver regressar em nome próprio.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O segundo dia de festival estava, já antes de começar, marcado pelas diversas sobreposições de concertos que tornam impossível ouvir tudo o que idealmente se ambiciona. Foi preciso, para muitos, fazer escolhas difíceis e desistir forçadamente de alguns concertos pela lotação esgotada das salas. Ainda assim, o festival urbano despediu-se de uma cidade que, mais uma edição, o acolheu calorosamente e já elegeu os artistas que quer agora ver regressar em nome próprio.
Passava pouco das 20h quando muitos optaram por ir ouvir Adult Jazz ao Cinema São Jorge. Mas audazes foram os que deram uma oportunidade a Bristol na Casa do Alentejo. O projecto do francês Marc Collin (co-fundador dos Nouvelle Vague) em palco é absolutamente genial. A banda apresenta uma recriação de temas dos anos 90 de artistas como Massive Attack, Portishead, Tricky, Smith & Mighty e Monk & Canatella. Os músicos em palco são verdadeiros intérpretes e a reduzida audiência que debaixo dos lustres de uma das salas da Casa do Alentejo pôde assistir àquele concerto ficou irremediavelmente rendida. A jovem vocalista Aurore Imbert seduziu o público com a sua voz e sensualidade – a anca ao som do bombo da bateria – e a cumplicidade entre os músicos tornou o espectáculo intenso e viciante. Na guitarra, mas também na voz, esteve o francês Jim Bauer que deu voz, entre outras, a “Roads” de Portishead numa interpretação incrível. Martin Rahin estava também na guitarra e com teatralidade cantou com Imbert numa sintonia invejável.
A actuação da banda contou ainda com uma participação do sueco Jay-Jay Johanson, que languidamente partilhou o microfone com Aurore Imbert e que voltaria a pisar o mesmo palco perto das 22h30. Quando uma banda está verdadeiramente a viver a actuação é impossível o público não o sentir. Foi o que aconteceu na Casa do Alentejo.
Passava das 21h30 quando Sharon Van Etten, um dos nomes mais fortes do segundo dia de festival, chegava ao Coliseu dos Recreios. A cantora e compositora norte-americana de 33 anos foi recebida calorosamente pelo público português e correspondeu na simpatia, criando uma interacção divertida que prendeu a audiência que enchia o Coliseu.
Sharon abriu o espectáculo com “Afraid Of Nothing”, a primeira faixa do seu mais recente álbum “Are We There” e, sempre acompanhada pelo público, foi apresentando ao vivo as canções que já ouvíamos desde o lançamento do disco em Maio. Embalando uma audiência talvez cansada de correr de sala em sala, Sharon Van Etten confessou-se uma rapariga sortuda e quem a ouvia sentiu também a sorte de partilhar aquele momento com a harmoniosa artista que conta já com quatro álbuns de estúdio.
“Your Love Is Killing Me” foi um dos momentos altos da noite mas foi com “Everytime The Sun Comes Up” que Sharon se despediu do Coliseu.
O tímido mas inconfundível Mike Hadreas
A enchente que estava no Coliseu terá rumado toda até ao Ateneu para ouvir o projecto de Dylan Baldi, Cloud Nothings. A longa fila levou muitos a desistir do "noise rock" da banda e optar por outros palcos. Quem lá esteve diz que a falta de acústica do espaço conjugada com o alto volume das colunas e a enchente que ocupou a sala defraudou as expectativas de muitos em relação à actuação dos norte-americanos.
Mais acima da Avenida da Liberdade criava-se outra fila – a expectativa para ouvir Perfume Genius, o projecto de Mike Hadreas era enorme. Muitos ficaram cá fora. O artista de Seattle, que tem conquistado um público variado através do seu som ecléctico, apresentou-se de preto, com uma camisola transparente, e de baton encarnado. Tímido mas potente na voz e no ondular do corpo, o cantor e compositor ganhou a confiança da Sala Manoel de Oliveira e, apesar da falta de espaço, fez-nos pensar que aquele espéctaculo fazia sentido numa sala daquelas.
A interacção com o público foi pouca mas a ligação estava criada. Hadreas apresentou o seu último álbum, “Too Bright”, e músicas como “I Decline” ou a inconfundível “Queen” fizeram o público, ainda que sentado, vibrar com a emocionante voz do artista.
À meia-noite, os britânicos Wild Beasts eram recebidos por um Coliseu novamente cheio. Um "indie rock" de qualidade, sem grandes surpresas ou sobressaltos. O público teve direito a um brinde com copo de vinho e a banda – um dos nomes mais esperados do festival – apresentou um espectáculo completo, em grande parte dedicado ao seu mais recente álbum, "Present Tense".
Temas como "Wanderlust" ou "Daughters" foram dos preferidos do público, que se mostrou satisfeito com a actuação. Já não é a primeira vez que o grupo actua em Portugal (este ano estiveram no Rock in Rio) e é certamente recíproca a vontade de voltar.
O festival Vodafone Mexefest chegou ao fim, com bilhetes e salas esgotadas. Para o ano haverá mais (aguarda-se o anúncio), quem sabe com mais espaço e menos sobreposições. Ou não.