Companhia brasileira Gol já sondou Governo sobre privatização da TAP

Abordagem do novo investidor ainda é preliminar, mas agrada ao executivo. Companhia nacional reclama dívida superior a 20 milhões de euros a Angola.

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Governo pretende vender, numa primeira fase, 66% da TAP Nelson Garrido

O executivo foi abordado por uma companhia da América Latina para obter mais detalhes sobre a operação. O PÚBLICO confirmou junto de duas fontes ligadas ao processo que trata-se da brasileira Gol, que já em 2012, aquando da primeira tentativa de privatização, tinha sido referida como potencial comprador da TAP. Porém, a intenção não chegou a concretizar-se, tendo avançado apenas um candidato, Gérman Efromovich, cuja oferta foi rejeitada, obrigando à suspensão da venda acordada com a troika.

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O executivo foi abordado por uma companhia da América Latina para obter mais detalhes sobre a operação. O PÚBLICO confirmou junto de duas fontes ligadas ao processo que trata-se da brasileira Gol, que já em 2012, aquando da primeira tentativa de privatização, tinha sido referida como potencial comprador da TAP. Porém, a intenção não chegou a concretizar-se, tendo avançado apenas um candidato, Gérman Efromovich, cuja oferta foi rejeitada, obrigando à suspensão da venda acordada com a troika.

Contactada na quinta-feira pelo PÚBLICO, a Gol veio desmentir a abordagem ao Governo. A companhia “informa que, neste momento, não há nenhuma novidade ou conversas sobre o tema”, referiu fonte oficial, acrescentando que “sempre comunica ao mercado quaisquer decisões que possam afectar o seu valor”.

Ao contrário dos restantes quatro investidores que estão na corrida, a companhia de aviação brasileira, que ficou com os activos da falida Varig, não deu qualquer garantia ao Governo de que vai avançar. Recorde-se que o executivo pediu que os potenciais compradores manifestassem, por escrito, a vontade de comprar a TAP.

Neste lote estão outras três transportadoras aéreas: a brasileira Azul, detida por David Neeleman, a sul-americana Avianca, de Gérman Efromovich, e a espanhola Air Europa, que faz parte do grupo Globalia. O Governo tem ainda em mãos uma proposta do consórcio financeiro liderado pelo empresário português Miguel Pais do Amaral e pelo antigo dono e presidente da Continental, Frank Lorenzo, que conta ainda com o grupo nacional Barraqueiro.

À semelhança da Gol, e mesmo havendo garantias escritas, não é certo que estes investidores avancem. Só quando chegar a altura de apresentar propostas vinculativas se saberá qual o real número de candidatos. Nas últimas semanas também surgiu uma aproximação de um investidor chinês, que não teve efeitos práticos.

Todos os potenciais compradores terão de analisar as contas do grupo, com base na avaliação financeira que a Parpública, a holding que gere as participações do Estado em empresas, vai encomendar a consultores ou bancos nos próximos dias. Haverá também lugar a visitas técnicas às várias participadas da TAP, incluindo ao deficitário negócio de manutenção no Brasil.

O Governo dará prioridade à compra por parte de um investidor estratégico – ou seja, que esteja ligado ao sector da aviação. E, neste universo, será sempre preferível vender a TAP a uma transportadora aérea com a qual possa haver sinergias e complementaridade na rede, sem pôr em causa o hub [placa giratória] de Lisboa. Numa primeira fase, a intenção é vender 66% da companhia, mas o objectivo a médio prazo é que o Estado saia totalmente do capital.

Angola retém receitas
O relançamento da privatização e os problemas registados no Verão vão obrigar a TAP a colocar em marcha um plano para equilibrar a tesouraria, visto que, nestes processos, a banca deixa de conceder financiamento e já não será possível recorrer à Parpública, porque passou a estar incluída no perímetro das contas públicas.

As contas da TAP também têm vindo a ser pressionadas pela retenção de receitas em alguns mercados. O problema mais grave está a acontecer na Venezuela, que já deve mais de 100 milhões de euros à companhia de aviação portuguesa relacionados com a venda de bilhetes. O conflito, que é transversal ao sector, está relacionado com os câmbios que o Governo de Nicolás Maduro pretende impor às transportadoras.

Mas a TAP também está a ter dificuldades em receber pagamentos por parte de Angola, cuja dívida situa-se, neste momento, entre os 20 e os 25 milhões de euros. Neste caso, a retenção está ligada à queda do preço do petróleo. O Governo angolano, liderado por José Eduardo dos Santos, tinha inscrito no Orçamento do Estado para 2014 um preço de referência de 98 dólares por barril, mas os valores têm estado sempre abaixo dos 80 dólares.

O PÚBLICO contactou a TAP para saber se a verba já foi paga, mas não obteve resposta. Tanto no caso da Venezuela, como de Angola, a TAP tem contado com o apoio do Governo nas negociações, mais concretamente do gabinete vice-primeiro ministro, Paulo Portas.