Líderes dos protestos em Hong Kong detidos pela polícia
Acampamentos no bairro de Mongkok foram removidos pelas autoridades e 116 pessoas ficaram detidas.
O bairro financeiro de Mongkok já tinha sido alvo de pequenas “limpezas” das barricadas e acampamentos, mas nesta quarta-feira a polícia conseguiu restaurar o trânsito na Nathan Road, bloqueada há já 60 dias consecutivos.
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O bairro financeiro de Mongkok já tinha sido alvo de pequenas “limpezas” das barricadas e acampamentos, mas nesta quarta-feira a polícia conseguiu restaurar o trânsito na Nathan Road, bloqueada há já 60 dias consecutivos.
Durante o processo, a polícia deteve 116 pessoas nos últimos dois dias por acusações de ajuntamento ilegal e obstrução à justiça. Entre os detidos está Joshua Wong, o jovem de 18 anos que lidera a associação estudantil Scholarism, e Lester Shum, dirigente da Federação de Estudantes de Hong Kong.
Ao longo dos dois meses de protestos, ambos se tornaram figuras de proa das reivindicações dos manifestantes pró-democracia. A detenção de Wong, logo no início do movimento de contestação, motivou uma forte reacção e foi a partir daí que as acções de rua passaram a contar com dezenas de milhares de pessoas.
A remoção total dos acampamentos em Mongkok aconteceu depois da emissão de uma ordem de tribunal que autorizava a expulsão dos manifestantes. Segundo a BBC, a queixa foi interposta por uma companhia de táxis, que argumentou estar a ser prejudicada pelo bloqueio das ruas.
A auxiliar a polícia na limpeza das ruas estiveram oficiais de justiça e um grupo de pessoas com bonés vermelhos e t-shirts onde se lia “I love Hong Kong”. Segundo o jornal South China Morning Post (SCMP), neste grupo foram identificados membros de grupos que se têm mostrado contra os protestos, nomeadamente do sector dos transportes.
Desde terça-feira que mais de sete mil polícias têm levado a cabo as operações de desmantelamento e desocupação de Mongkok. Ao início da noite de quarta-feira, vários manifestantes ainda tentaram voltar a montar os acampamentos em algumas ruas do bairro, envolvendo-se em pequenas escaramuças com as autoridades.
A polícia local revelou que sete agentes foram detidos na sequência de agressões a um manifestante em Outubro. Imagens da detenção de Ken Tsang, membro do Partido Cívico (na oposição), mostraram um grupo de polícias a pontapeá-lo já depois de o terem sob custódia. A polícia lançou uma investigação e anunciou agora a detenção de sete agentes suspeitos de terem estado envolvidos no incidente.
Apesar da perda de um dos mais importantes pontos da cidade, os manifestantes prometeram não deixar esmorecer os protestos. “Estamos a planear continuar a nossa acção de desobediência civil”, disse ao SCMP Lester Shum, ainda antes de ser detido.
Menor mobilização
Os manifestantes ainda ocupam zonas nos bairros de Admiralty, onde se situa a sede do governo local, e em Causeway Bay, conhecido pelas lojas de luxo. No entanto, a desocupação da área de Mongkok representa um grande passo pelas autoridades no sentido de neutralizar os protestos, que nos últimos tempos já haviam perdido algum do fulgor inicial.
No seu auge, o movimento pró-democracia conseguiu mobilizar perto de cem mil pessoas, mas as acções mais recentes contavam apenas com algumas centenas de manifestantes que ainda ocupam algumas áreas da cidade.
A falta de progressos no diálogo com as autoridades de Hong Kong tem desmotivado o movimento. A principal reivindicação é a implementação do sufrágio universal para a escolha do líder da antiga colónia britânica que está sob administração chinesa desde 1997. O Governo de Pequim revelou este Verão que às eleições de 2017 podem concorrer apenas as listas que mereçam a autorização de um comité de personalidades próximas do regime — que os manifestantes dizem não ser uma verdadeira escolha democrática.
O movimento tem sido fortemente ancorado nos sectores estudantis, mas as reivindicações começaram a surgir com o grupo Occupy Central — fundado por dois professores universitários e por um pastor baptista.
Com o prolongar dos protestos, o movimento pró-democrático tem revelado algumas divisões sobre qual a melhor estratégia a seguir, entre os que perderam a esperança em conseguir preencher qualquer reivindicação e os que insistem na manutenção das ocupações.
Entre a população, o apoio aos manifestantes também tem caído acentuadamente, à medida que os negócios locais também se vão ressentindo. Uma sondagem da semana passada realizada pela Universidade de Hong Kong revelou que 80% dos 513 inquiridos defendiam a retirada dos manifestantes. Dias antes, um inquérito ainda mais abrangente (1030 pessoas) da Universidade Chinesa de Hong Kong mostrou que dois terços preferiam o fim dos protestos.