Morreu a pianista centenária Nella Maissa

Intérprete nascida em Turim mas naturalizada portuguesa fizera cem anos em Maio.

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Nella Maissa no seu último concerto, em Junho de 2008, na Casa da Música. Mário Augusto Carneiro/Arquivo

Em declarações à Lusa, Ricardo Maissa, filho da pianista, indicou que a mãe teve problemas respiratórios na noite de terça-feira e foi transportada para aquele hospital, onde viria a falecer pouco tempo depois. O funeral realiza-se esta sexta-feira, às 13h, no Cemitério Israelita, em Lisboa.

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Em declarações à Lusa, Ricardo Maissa, filho da pianista, indicou que a mãe teve problemas respiratórios na noite de terça-feira e foi transportada para aquele hospital, onde viria a falecer pouco tempo depois. O funeral realiza-se esta sexta-feira, às 13h, no Cemitério Israelita, em Lisboa.

Nascida em Itália, em 1914, Nella Maissa tornou-se portuguesa pelo casamento com Renato Maissa, em 1936, na sinagoga de Milão, tendo-se fixado em Portugal três anos mais tarde.

Foi a partir daqui que desenvolveu uma longa e intensa carreira como concertista, tanto em Portugal como no estrangeiro, tendo tido um papel determinante na divulgação da música portuguesa.

“Nella Maissa foi uma figura importantíssima da música, uma intérprete de eleição, que dedicou grande parte da sua carreira aos compositores portugueses, como Armando José Fernandes e Fernando Lopes-Graça”, disse ao PÚBLICO o compositor Alexandre Delgado, apanhado de surpresa pelo seu desaparecimento. Ruy Coelho, Luís de Freitas Branco e Joly Braga Santos são outros compositores que a pianista interpretou em palco, e em gravações, e que muitas vezes compuseram de propósito para Maissa.

Alexandre Delgado cita a gravação da integral da música para piano de Domingos Bomtempo como um dos feitos maiores da carreira de Maissa, não esquecendo, também, as primeiras audições que a pianista fez em Portugal de música do século XX, como a peça Ludus Tonnalis, de Paul Hindemith, ou os Prelúdios, de Franck Martin. Messiaen, Prokofiev, Bartók, Dallapicola, Chostakovich e Gershwin são outros compositores que Maissa revelou em estreia nos palcos portugueses.

“Desde o início da sua carreira, Nella Maissa manifestou preferência pela interpretação de obras menos conhecidas do período clássico e romântico, pelo reportório contemporâneo e por obras de compositores portugueses, que divulgou nacional e internacionalmente”, escreve Cristina Fernandes (crítica e colaboradora do PÚBLICO), na entrada dedicada à pianista na Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX.

“Nella Maissa era possuidora de uma grande capacidade técnica, de um estilo expressivo, mas ao mesmo tempo muito racional no modo como executava as obras”, acrescenta Alexandre Delgado, realçando que a pianista não era adepta “de grandes brilharetes, nem tinha a pose do grande solista que muitas vezes se coloca acima do compositor”.

Além disso, Delgado, que conheceu bem, privou de perto e foi amigo de Maissa, nota que se tratava de “uma senhora de uma frontalidade espantosa, característica que manteve até ao fim”.

De resto, para além da longevidade física, Nella Maissa manifestou também uma grande longevidade artística, já que o seu último concerto em público fê-lo já com 94 anos, em Junho de 2008, na Casa da Música, no Porto. E só abandonou os palcos quando ficou cega.

Com cerca de 80 anos, Maissa fora alvo de uma homenagem nacional no Teatro Tivoli, em Lisboa, onde tocou com a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Manuel Ivo Cruz. Uma década antes, em 1986, a Secretaria de Estado da Cultura atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Cultural, a que se seguiu, em 1989, a distinção com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.

Na carreira de Nella Maissa, conta-se também a conquista do 1º Prémio do Concurso Vianna da Motta, e um percurso internacional que passou pelos principais palcos de vários países europeus, de Espanha a Itália, de Inglaterra à Roménia, mas também do Brasil à África do Sul.

A Secretaria de Estado da Cultura, numa nota enviada à comunicação social, manifestou "público pesar pelo falecimento de Nella Maissa", a quem classifica como "notável pianista e concertista". E salienta "a forte relação" que a pianista manteve, "desde muito cedo, com Portugal e com a Cultura Portuguesa, desempenhando um importante papel na divulgação de autores portugueses, a nível nacional e internacional".