Cavaco reúne fundos soberanos e empresas no Dubai e Abu Dhabi
Presidência admite que a tarefa de Cavaco Silva não é fácil porque as decisões nos Emirados Árabes Unidos estão muito concentradas. Prevê-se a assinatura de acordos e memorandos de entendimento.
A visita de Cavaco coincide com o final da reunião da comissão mista Portugal-Emirados Árabes Unidos, cuja comitiva portuguesa de oito empresários e três secretários de Estado é liderada pelo vice-primeiro-ministro. O Presidente irá participar na assinatura dos acordos e memorandos de entendimento conseguidos na reunião, em áreas como a cultura, segurança interna, educação, defesa, farmacêutica, aviação, turismo, agro-alimentar e segurança alimentar. Não há ainda indicações sobre o conteúdo porque as negociações – trabalhosas, admitem fontes da Presidência e do Governo – ainda decorrem.
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A visita de Cavaco coincide com o final da reunião da comissão mista Portugal-Emirados Árabes Unidos, cuja comitiva portuguesa de oito empresários e três secretários de Estado é liderada pelo vice-primeiro-ministro. O Presidente irá participar na assinatura dos acordos e memorandos de entendimento conseguidos na reunião, em áreas como a cultura, segurança interna, educação, defesa, farmacêutica, aviação, turismo, agro-alimentar e segurança alimentar. Não há ainda indicações sobre o conteúdo porque as negociações – trabalhosas, admitem fontes da Presidência e do Governo – ainda decorrem.
Acompanham-nos os secretários de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário; da Inovação, Investimento e Competitividade, Pedro Gonçalves; e da Alimentação e Investigação Agroalimentar, Nuno Vieira e Brito. O ministro da Defesa também se junta ao grupo para um encontro com o seu homólogo, o xeque Mohammed bin Rashid al Maktoum.
A intenção do Presidente da República é dar visibilidade à realidade económica nacional e a Portugal como destino turístico mas sobretudo as “oportunidades” de um país aberto ao investimento estrangeiro e ao mesmo tempo exportador. Este forcing de Cavaco Silva destina-se sobretudo a abrir portas num “mercado muito difícil de penetrar”, admite fonte da Presidência, porque as decisões estão concentradas num número reduzido de famílias. A comitiva empresarial é pequena – estarão, por exemplo, a Galp, Bial, Gulbenkian, Martifer Solar, CEIIA, Vicaima, Visabeira, SRS Advogados ou a EDM – Empresa de Desenvolvimento Mineiro - precisamente para facilitar contactos entre todos em duas tardes e num pequeno-almoço oferecido por Cavaco na quinta-feira.
A mesma refeição em que se sentam à mesa dois fundos soberanos, depois de um primeiro encontro com o xeque Hamed Bin Zayed Al Nahyan, do fundo Abu Dhabi Investment Authority (ADIA), já amanhã. Dedica-se a investimentos de longo prazo, e o valor dos activos não é conhecido, mas um relatório próprio sobre 2010 fala em transacções de activos, nesse ano, de 550 mil milhões de dólares.
Na quinta-feira ao pequeno-almoço estarão os representantes do Mubadala, presidido pelo príncipe herdeiro, que tem activos espalhados pelo mundo no valor de 61 mil milhões de dólares, o equivalente a um quarto do PIB nominal português e quase um oitavo do PIB dos Emirados. No ano passado o Mubadala teve 8,5 mil milhões de dólares de receitas. E ainda o International Petroleum Investment Company (IPIC), dedicado ao petróleo e à energia, que é dono da Cepsa e de 70% da Ferrostaal AG. Tem activos de 68 mil milhões de dólares e receitas de 53 mil milhões de dólares em 2013. Há um mês, o Real Madrid anunciou uma parceria com o IPIC para financiar a remodelação e desenvolvimento do seu estádio, que poderá adoptar o nome do fundo.
As relações entre Portugal e os Emirados têm evoluído nos últimos anos. Sinais disso foram a abertura recíproca de embaixadas, a ligação aérea directa Lisboa-Dubai com a Emirates, as várias visitas governamentais e a constituição da comissão mista, assim como a ajuda diplomática recíproca em instâncias internacionais como o apoio português à candidatura do Dubai à Expo2020. Nas exportações para os Emirados houve um crescimento de 25% no primeiro semestre deste ano e há 613 empresas a fazer comércio para esta confederação de monarquias árabes. Mas os 160 milhões de euros registados em 2013 ficam aquém das expectativas do Governo.
Com um território e população pouco menores que Portugal, os Emirados têm, no entanto, um papel importante no equilíbrio geoestratégico da região, por isso o Presidente irá auscultar o príncipe herdeiro, o xeque Mohamed bin Zayed Al Nahyan, sobre as perspectivas de paz nesta zona do globo.
A diplomacia portuguesa acredita que há outro laço que pode ajudar a facilitar as relações entre os dois países. O país – formalmente uma confederação de sete emirados (Abu Dhabi, Ajman, Dubai, Fujairah, Ras al-Khaimah, Sharjah e Umm al-Quwain) – tem uma certa “herança portuguesa” na sua história, porque ao longo da costa foi frequente a presença portuguesa no século XVI, aquando da carreira da Índia.
Paulo Portas já aqui esteve em Março deste ano para captar investimento e promover as empresas portuguesas, mas a figura mais alta do Estado português que esteve nos Emirados foi José Sócrates, em Janeiro de 2011. O primeiro-ministro garantiu que a visita foi apenas para falar sobre o uso das renováveis, na Cimeira Mundial da Energia, mas o então ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado admitia que a visita servia também para vender dívida portuguesa aos fundos soberanos locais.
Se a Presidência e o Governo admitem que é difícil entrar neste mercado, resta esperar que os responsáveis dos Emirados não estejam atentos às notícias: a detenção de José Sócrates por alegada corrupção não passou despercebida, por exemplo, ao jornal Golf News, que no domingo publicava na versão impressa uma notícia da Reuters sobre o caso.
Casal presidencial entre palácios, hotéis, mesquita e a burj Khalifa
Pendente desde 2008, a viagem de Cavaco Silva aos dois principais emirados da confederação do Golfo Pérsico, terá como palco três dos edifícios mais emblemáticos da hierarquia política e religiosa, e também um dos ícones do Dubai – o casal presidencial subirá ao piso 125 da Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo.
A comitiva presidencial chega na próxima madrugada e Cavaco tem encontro e almoço marcado na quarta-feira com o príncipe herdeiro no Palácio Mushrif, onde serão também assinados os acordos e memorandos decorrentes da reunião da comissão mista. Depois reúne com o responsável pelo fundo soberano ADIA. Enquanto isso, Maria Cavaco Silva almoça no Palácio do Mar com a xeque Fatima bint Mubarak Al Ketbi, a viúva de Al Zayed bin Sultan Al Nahayan e depois visita Saadiyat, a ilha cultural onde estão em construção os museus do Louvre e Guggenheim do Abu Dhabi, sob uma autorização especial por 30 anos dos museus originais. À tarde, o casal presidencial visita a mesquita Xeque Zayed e encontra-se com empresários e participantes nacionais na comissão mista na residência da embaixada portuguesa no Abu Dhabi.
Na quinta-feira, depois do pequeno-almoço com os investidores dos três fundos soberanos no Hotel Emirates Palace, a comitiva parte para o Dubai. O Presidente reúne com investidores e empresários do Dubai e responsáveis da Expo 2020. Depois da visita com Maria à famosa torre, Cavaco segue, já com José Pedro Aguiar-Branco, para um encontro no palácio Al-Marmun com o xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum, que acumula os cargos de vice-presidente, primeiro-ministro, ministro da Defesa e Emir do Dubai. Enquanto isso, Maria Cavaco Silva, visita a princesa Haya, filha do rei da Jordânia e mulher do Emir no Palácio da Praia. O programa termina ao final da tarde com um encontro com a comunidade portuguesa no Hotel Al Qasr.
O PÚBLICO viajou a convite do National Media Council dos EAU