OCDE vê Europa e Portugal em risco de estagnação prolongada

A zona euro é a região que a OCDE mais teme que possa entrar num período persistente de crescimento baixo. E dentro dela, países como Portugal são os que enfrentam maiores riscos.

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Angel Gurría é o director-geral da OCDE AFP PHOTO / ERIC PIERMONT

No seu relatório semestral sobre a economia mundial, a organização sedeada em Paris mantém a perspectiva de uma retoma moderada na economia mundial durante os próximos três anos, mas com “um crescimento que continuará a ser modesto face aos padrões do passado e um desemprego que deverá continuar muito acima dos níveis anteriores à crise em várias economias”.

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No seu relatório semestral sobre a economia mundial, a organização sedeada em Paris mantém a perspectiva de uma retoma moderada na economia mundial durante os próximos três anos, mas com “um crescimento que continuará a ser modesto face aos padrões do passado e um desemprego que deverá continuar muito acima dos níveis anteriores à crise em várias economias”.

Este pessimismo é particularmente visível em relação à zona euro. Enquanto para a média dos 30 países que compõem a OCDE a taxa de crescimento prevista para o próximo ano é de 2,6%, a zona euro não consegue mais do que 1,1%, em contraste com os 3,1% dos Estados Unidos.

Este crescimento lento, acompanhado de uma taxa de inflação baixa e de um desemprego muito acima da média, faz a OCDE temer que possamos estar perante um cenário de estagnação persistente. “Se a procura não recupera como previsto, algumas economias, em particular a zona euro, podem ficar presas numa estagnação persistente, com a fraqueza na procura a afectar o crescimento potencial, o que por sua vez teria efeitos adversos na capacidade da política macroeconómica para apoiar a procura agregada”, afirma o relatório.

A OCDE vê nos indicadores da zona euro diversos sinais de que se possa estar a entrar num cenário de estagnação persistente. Por um lado,  há a queda muito forte do nível de crescimento potencial, com uma taxa de desemprego estrutural muito elevada. E, por outro, as taxas de juro neutrais (o nível de taxas de juro que teoricamente provoca um impacto nem contraccionista nem expansionista da política monetária) estão na zona euro a níveis negativos: -0,8% em 2014. Isto significa que o actual nível de taxas de juro, muito próximo de zero, pode não ser suficiente para dar um estímulo à economia europeia.

Por isso, a OCDE pede políticas mais agressivas. Ao Banco Central Europeu diz que “mais estímulos têm de vir de medidas não convencionais, incluindo expansão quantitativa (quantitative easing)”. Aos governos assinala que “mais estímulos orçamentais até se podem financiar a eles próprios”, embora reconheça que esta é uma estratégia com riscos. E pede que sejam feitas mais reformas estruturais, defendendo que algumas delas podem ter efeitos imediatos na procura.

Neste cenário, Portugal é um dos países em maior risco. O relatório da OCDE afirma que “estas características de estagnação têm sido particularmente fortes nos países mais vulneráveis”.

Nas suas previsões para Portugal, a organização repete os números que tinha apresentado em Outubro num relatório que dedicou exclusivamente ao país. Aponta para um crescimento de 0,8% este ano e de 1,3% em 2015, números ligeiramente inferiores aos do Governo. Para 2016 é prevista uma pequena aceleração para 1,5%. A retoma moderada é, de acordo com o relatório, ameaçada pelo crescimento mais lento do resto da zona euro, mas pode beneficiar do desempenho mais positivo da vizinha Espanha.

Em relação à inflação, a OCDE aponta para a permanência nos próximos anos de valores muito baixos. Depois de uma variação negativa dos preços de -0,2% este ano (o Governo estima uma estagnação), a OCDE prevê que a inflação portuguesa seja de 0,2% em 2015 e de 0,4% em 2016.

Estes números, apesar de serem também vistos como um factor de ganho de competitividade, trazem consigo uma ameaça para Portugal. “Uma inflação baixa durante um período prolongado de tempo ou, ainda pior, o regresso de pressões deflacionistas, vão tornar a redução da dívida mais difícil”, avisa a OCDE.