Um especialista de “excelência” em direito bancário e com um “estilo gozão”

João Araújo, natural de Goa, 65 anos, é o advogado de José Sócrates neste processo.

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Enric Vives-Rubio

O também advogado do empresário de sucatas Manuel Godinho no processo de corrupção Face Oculta destaca, ainda, o “sentido de ironia extremamente cáustico” de alguém que garante ter uma capacidade de intervenção invulgar na barra dos tribunais.

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O também advogado do empresário de sucatas Manuel Godinho no processo de corrupção Face Oculta destaca, ainda, o “sentido de ironia extremamente cáustico” de alguém que garante ter uma capacidade de intervenção invulgar na barra dos tribunais.

O retrato traçado de João Araújo, pelo menos no que à parte da ironia diz respeito, combina com a postura com que o representante de Sócrates se tem apresentado no Campus de Justiça, onde no primeiro dia se identificou aos jornalistas como “advogado estagiário”, utilizando a expressão “azarucho” num comentário sobre a falta de informação dada à comunicação social. Às 20h45 de domingo, o advogado deixou o Tribunal Central de Instrução Criminal. Tinha prometido uma “eventual” declaração para o final do dia, mas, à semelhança do que aconteceu no sábado, limitou-se a repetir frases soltas. João Araújo confirmou que o seu cliente tem respondido às perguntas do juiz Carlos Alexandre, justificando: “Se não respondess,e não estávamos aqui a esta hora.”

Sobre o estado de espírito de José Sócrates, repetiu por várias vezes “está melhor ele do que eu”, e garantiu que o interrogatório está a correr “muito bem” e que o seu cliente também está “muito bem”. Em relação às suas impressões sobre o processo e a forma como Sócrates foi detido, à porta do avião, João Araújo afirmou que “os advogados não se espantam, não têm estados de espírito e não têm sentimentos”.

Depois, João Araújo – mantendo a atitude inusitada com que se apresentou no primeiro dia – solicitou a ajuda dos jornalistas para tentar encontrar o seu carro estacionado nas imediações do Campus de Justiça. Localizado o veículo, disse que não entrava com as câmaras ligadas. “Fico ridículo porque sou gordo e o meu Smart é pequenino”, justificou, em mais uma despedida insólita – depois de no sábado ter explicado que precisava de “sopas e descanso” e que tem “problemas sérios e complicados”.

Um comportamento que Artur Marques assegura que apenas distrai da experiência que João Araújo adquiriu com a passagem pela Caixa de Crédito Agrícola Central e que pode ser fundamental no processo. Foi aqui que foi consultor na década de 1990, prestando assessoria jurídica no banco com poderes de supervisão das restantes Caixas de Crédito Agrícola instaladas a nível concelhio. Tem também experiência na área do direito comercial, bancário e cível. Além disso, o advogado de Braga já sabia “há meses” que o colega estava a representar o ex-primeiro-ministro.

Porém, várias fontes da advocacia contactadas pelo PÚBLICO manifestaram a sua surpresa face à intervenção do advogado neste processo, já que, existindo poucas referências sobre a sua presença noutros processos-crime anteriores, não terá uma experiência considerável na área do Direito Penal.

Marques classifica Araújo como um advogado à moda antiga, uma caracterização com a qual também se identifica. E esclarece: “Fazemos um trabalho de artesanato.” Artur Marques possui um pequeno escritório de advocacia em Braga. Como consegue concorrer com as grandes sociedades de advogados em processos mediáticos? “Com a aposta na qualidade e na competência”, remata. Araújo, de 65 anos e formado na Faculdade de Direito de Lisboa, também trabalha sozinho, partilhando as instalações com um colega, mas de quem não é sócio.