José Sócrates está a ser ouvido desde as 10h15 no terceiro dia de interrogatório

Antigo primeiro-ministro passou a terceira noite nos calabouços da PSP. Medidas de coacção deverão ser conhecidas nesta segunda-feira, mas só na parte da tarde.

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José Sócrates AFP/PATRICIA DE MELO MOREIRA

O antigo primeiro-ministro chegou ao Tribunal Central de Instrução Criminal pouco antes das 9h e entrou desta vez por uma porta de garagem diferente, escapando aos jornalistas e curiosos, depois de ter passado a terceira noite detido nos calabouços do Comando Metropolitano da PSP, em Moscavide.

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O antigo primeiro-ministro chegou ao Tribunal Central de Instrução Criminal pouco antes das 9h e entrou desta vez por uma porta de garagem diferente, escapando aos jornalistas e curiosos, depois de ter passado a terceira noite detido nos calabouços do Comando Metropolitano da PSP, em Moscavide.

O interrogatório foi interrompido cerca das 12h, depois de o advogado de José Sócrates, João Araújo, se ter ausentado sem dar explicações aos jornalistas presentes. Regressou ao tribunal poucos minutos depois e — como tem sido hábito — deu uma justificação para a saída pouco usual: "Tive de ir buscar o meu telemóvel que estava esquecido no carro." O interrogatório prossegue agora e quaisquer medidas de coacção nunca serão conhecidas antes da parte da tarde.

No domingo, no final de uma maratona de 12 horas de interrogatório a cargo do juiz Carlos Alexandre, o advogado de Sócrates garantiu que a inquirição estava a correr “muito bem” e que o seu cliente também estava “muito bem”. “Está melhor ele do que eu”, repetiu João Araújo várias vezes sobre o estado de espírito do ex-primeiro-ministro. Em relação às suas impressões sobre o processo e à forma como Sócrates foi detido na sexta-feira, à porta do avião, João Araújo afirmou que “os advogados não se espantam, não têm estados de espírito e não têm sentimentos”.

As medidas de coacção a aplicar aos quatro detidos neste processo — além de Sócrates, o empresário Carlos Santos Silva, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e o motorista João Perna — deverão ser conhecidas nesta segunda-feira e têm obrigatoriamente de ser comunicadas aos quatro ao mesmo tempo.

José Sócrates está a ser investigado no âmbito de um inquérito sobre suspeitas dos crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, aberto na sequência de uma "comunicação bancária" que terá sido prestada pela Caixa Geral de Depósitos às autoridades judiciais. Foi detido no aeroporto da Portela, na sexta-feira, quando regressava de Paris para Lisboa, no quadro de uma operação a que a Polícia Judiciária deu o nome de Marquês

Sócrates, de 57 anos, foi primeiro-ministro de Portugal entre Março de 2005 e Junho de 2011. Foi o primeiro socialista a governar com maioria absoluta, tendo deixado o Governo após o pedido de ajuda à troika de credores internacionais em Junho de 2011.

Depois dos mais de seis anos de governação, Sócrates mudou-se para Paris, onde estudou, afastando-se da vida política portuguesa. Em Março de 2013, regressou à ribalta, com uma entrevista à RTP, e em Abril desse ano tornou-se comentador da estação pública, com um programa semanal, ao domingo.

Nessa entrevista à RTP, Sócrates foi confrontado com as acusações de ter uma vida de luxo em Paris. “Tenho uma só conta bancária há mais de 25 anos. Nunca tive acções, offshores, nunca tive contas no estrangeiro. A primeira coisa que fiz quando saí do Governo foi pedir um empréstimo ao meu banco”, explicou então.

O nome do ex-primeiro-ministro já tinha sido envolvido em alguns processos judiciais, como o licenciamento do empreendimento Freeport em Alcochete e as polémicas escutas do processo Face Oculta, mas nunca a justiça tinha ido tão longe em relação a Sócrates.