Homens e mulheres nunca podem ser iguais, afirma Erdogan
A maternidade é o estatuto definido para a mulher nas sociedades islâmicas, define o primeiro-ministro turco.
São bem conhecidas as posições conservadoras de Erdogan, que durante 11 anos foi primeiro-ministro da Turquia, antes de ser eleito Presidente neste Verão. O conservadorismo islâmico tem-se transformado, cada vez mais, numa vontade declarada de interferir nos comportamentos privados, como por exemplo o aconselhar que cada mulher tenha pelo menos três filhos, fazer campanha contra os partos por cesariana e classificar o aborto como “homicídio”, relata a Reuters.
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São bem conhecidas as posições conservadoras de Erdogan, que durante 11 anos foi primeiro-ministro da Turquia, antes de ser eleito Presidente neste Verão. O conservadorismo islâmico tem-se transformado, cada vez mais, numa vontade declarada de interferir nos comportamentos privados, como por exemplo o aconselhar que cada mulher tenha pelo menos três filhos, fazer campanha contra os partos por cesariana e classificar o aborto como “homicídio”, relata a Reuters.
Desta vez, ao discursar num debate internacional promovido pela Associação Mulheres e Justiça (KADEM, na sigla em turco), Erdogan aproveitou para atacar “o feminismo e as feministas”, afirmando que as mulheres que lutam pelo reconhecimento dos seus direitos “rejeitam o conceito de maternidade.” E este conceito, defendeu, é definidor da posição da mulher nas sociedades islâmicas.
“A nossa religião [o islão] definiu a posição da mulher: a maternidade. Algumas pessoas conseguem entender isto, outras não. Não é possível explicar isto às feministas, porque elas não aceitam o conceito da maternidade”, afirmou Erdogan, citado pela versão em inglês do jornal turco Hürriyet.
Para dar força a este argumento, usou uma citação atribuída ao profeta Maomé: “O Paraíso está aos pés das mães”.
Grande desigualdade
A Turquia não está nada bem colocada no Índice de Igualdade de Género do Fórum Económico Mundial de 2013: está em 120 num total de 136 nações, e desde 2006 caiu 15 lugares. Um outro relatório das Nações Unidas, de 2011, indicava que os índices de violência doméstica na Turquia são quase o dobro dos norte-americanos, e chegam a ser dez vezes mais altos do que em alguns países europeus, sublinha o Hürriyet.
As associações de defesa das mulheres turcas denunciam sistematicamente as declarações sexistas do Governo conservador, que acusam de encorajar a violência conjugal. Segundo estas organizações não-governamentais, diz a AFP, mais de 200 mulheres foram assassinadas na Turquia pelo seu marido ou o seu companheiro só desde o início de 2014.
Apesar disto, o Presidente Erdogan defendeu, neste encontro sobre mulheres e justiça, que homens e mulheres não podem ser tratados da mesma maneira. “O seu carácter, os seus hábitos e o seu físico são diferentes. Não se pode por em pé de igualdade uma mulher grávida e um homem”, afirmou. A “sua natureza é diferente”, defendeu. Com esse argumento, acrescentou que “não se pode pedir a uma mulher que faça todos os tipos de trabalho que um homem faz, como acontecia nos regimes comunistas”.
Os economistas, no entanto, sublinham que a reduzida presença das mulheres no mercado de trabalho é um obstáculo ao desenvolvimento da Turquia, e a União Europeia, com a qual Ancara está a negociar a adesão há mais de uma década tem incentivado o Governo turco a esforçar-se para aumentar a igualdade entre os géneros.
Mas persistem coisas bastante incompreensíveis. Por exemplo, há vários artigos da enciclopédia online Wikipédia em turco censurados, e alguns deles dizem respeito a temas sexuais, diz o Hürriyet. Mas não são pornográficos, mas sim temas básicos de educação sexual, como "orgão reprodutor sexual feminino", "vagina", "pénis humano". A maior empresa fornecedora de acesso à Internet turca, TTNET, anunciou na semana passada que o acesso a estas páginas foi bloqueado a pedido da Directoria de Telecomunicações da Turquia.
Fisiologia e direitos
Dados todos os antecedentes de Erdogan, estas palavras não foram uma surpresa absoluta. Mas ainda assim chocaram.
A deputada Aylin Nazliaka, do Partido Republicano do Povo, acusou Erdogan de ter “ostracizado” as mulheres. “Vou continuar a combater este homem que não faz diferença nenhuma entre terroristas e femininas”, afirmou, citada pela AFP.
“Sabemos que homens e mulheres não são iguais em termos fisiológicos. Mas igualdade é ter direitos iguais, estatuto igual e oportunidades iguais”, afirmou à Reuters Gonul Karahanoglu, presidente do grupo KADER, que organizou o encontro em que falou o Presidente turco. “Erdogan define as mulheres apenas como mães. Está a discriminar todas as mulheres que não têm filhos. Ele diz sempre as mesmas coisas.”