Bancos alimentares prestes a esgotar capacidade de armazenamento
Algumas delegações nunca tinham distribuído fruta no âmbito da sua actividade.
“O embargo acabou, indirectamente, por beneficiar os mais necessitados. Começou por ser uma medida de apoio aos agricultores, que têm algumas vantagens e escoamento garantido, mas é evidente que as instituições e os beneficiários finais tiveram fruta nestes meses como nunca tiveram antes”, disse ao PÚBLICO Manuel Paisana, secretário-geral da Federação dos Bancos Alimentares.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“O embargo acabou, indirectamente, por beneficiar os mais necessitados. Começou por ser uma medida de apoio aos agricultores, que têm algumas vantagens e escoamento garantido, mas é evidente que as instituições e os beneficiários finais tiveram fruta nestes meses como nunca tiveram antes”, disse ao PÚBLICO Manuel Paisana, secretário-geral da Federação dos Bancos Alimentares.
Por esta altura, os bancos mais activos (13 dos 21 que existem em Portugal) têm “quase a capacidade esgotada e comprometida”. Cerca de 80 a 90% da quota atribuída por Bruxelas a Portugal para retirar fruta e legumes do mercado deverá ser escoada através dos BA, apesar de a segunda fase de ajudas comunitárias ter alargado o tipo de instituições para onde os produtores podem encaminhar os seus excedentes.
De acordo com dados do Ministério da Agricultura facultados ao PÚBLICO, até 12 de Novembro as organizações de produtores já retiraram do mercado 3249 toneladas de produtos que serão entregues a instituições de solidariedade social, creches, escolas ou prisões. Os agricultores poderão receber um total de 1,4 milhões de euros de ajudas comunitárias. A estes números, juntam-se as autorizações mais recentes para retirar mais 1130 toneladas de produtos, nomeadamente maçã, pêra, tomate, cenouras, ameixas e couves.
Na segunda fase de ajudas, Portugal pode obter financiamento 4120 toneladas de pêras e maçãs, 225 toneladas de kiwis, ameixas e uvas de mesa. Está prevista uma quantidade adicional de três mil toneladas por Estado membro para aplicar nas categorias de produtos definidas. É ao Banco Alimentar que têm chegado os excedentes de produção.
No Porto e em Braga pela primeira vez foi preciso alugar câmaras frigoríficas para conservar os produtos, despesa paga pelas próprias instituições. Algumas das instituições “nunca tinham distribuído fruta”. “A reacção teve de ser imediata e houve grande mobilização. Pela primeira vez, a delegação de Braga foi levar a Vila Real e a Bragança 20 toneladas. São locais onde não há banco alimentar, mas os BA mobilizaram-se com o apoio das autarquias e da Cruz Vermelha”, conta Manuel Paisana.
Na Frutoeste, Domingos dos Santos mostra as caixas de pêra rocha destinadas ao Banco Alimentar. São de madeira, para se diferenciarem das de cartão, que seguem para os clientes comerciais. A solução agrada aos produtores, mas tem um reverso da medalha. O presidente desta organização de produtores (OP), lembra que “parte da fruta vai conflituar com o mercado”. “Há muitas famílias que até iam comprar fruta, mas agora recebem através do BA”, afirma.
A Hortapronta foi das primeiras a conseguir ajudas de Bruxelas para escoar cenouras. Na Autoguia da Baleia, há sacos de dez quilos em preparação, que serão entregues em todo o país. Só esta OP conseguiu apoios para entregar ao BA de mais de um milhão de quilos na primeira tranche de ajudas comunitárias. Na segunda fase de apoios, até 12 de Novembro teve ajudas para perto de 644 mil quilos de cenoura e outros hortícolas, mas a perspectiva é aumentar.