O amor em tempos de ébola

O amor entre Zeinal Bava, Henrique Granadeiro e Ricardo Salgado é uma história que vem de longe

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São impressionantes os casos de amor que se têm revelado nestes tempos de ébola. Amores antigos, novos, requentados, reaquecidos, ciúmes, inveja, paixão enlouquecida. O amor nutrido por certas pessoas por aquilo que é de todos, pela riqueza alheia e pelo poder total é acompanhado pelo sadismo de humilhar, roubar e subjugar os muitos que são expoliados pelos embriagados de Vénus.

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São impressionantes os casos de amor que se têm revelado nestes tempos de ébola. Amores antigos, novos, requentados, reaquecidos, ciúmes, inveja, paixão enlouquecida. O amor nutrido por certas pessoas por aquilo que é de todos, pela riqueza alheia e pelo poder total é acompanhado pelo sadismo de humilhar, roubar e subjugar os muitos que são expoliados pelos embriagados de Vénus.

Comecemos por um trio escaldante. O amor entre Zeinal Bava, Henrique Granadeiro e Ricardo Salgado é uma história que vem de longe. Hoje já estão distantes os românticos banhos a la Tio Patinhas com as dezenas de milhões de euros que iam sendo produzidos pelos trabalhadores e trabalhadoras da PT. Este trio alargava-se em orgias com uns poucos accionistas: épicas, diz-se. A chuva dourada de notas de 200€ sob o leito carmim de notas de 500€, transpirava toda a luxúria que envolvia a operação da Portugal Telecom.

Para que este amor se desenrolasse num clima tranquilo, os 28 mil trabalhadores da PT, a grande maioria dos quais altamente precarizados e mal pagos, mantinham a empresa, enquanto o produto do seu trabalho era cobiçado e consumido pela paixão milionária. Este trio não acabou bem. Salgado começou a tornar-se egoísta na sua paixão e a autosatisfazer-se longe dos outros. Num derradeiro acto de loucura, Granadeiro e Zeinal injectaram em Abril 900 milhões de euros de puro amor na Rioforte, apesar de em Março já se saber que estava falida.

O investimento final numa relação falhada deixou-os de rastos. Foram-se embora com uma fotografia de outros tempos, no valor de 5,4 milhões. Para trás ficou a casa do amor, a PT, descapitalizada e sem o perfume do amor que por lá se viveu durante tantos anos. Mas já há muitos amigos do amor alheio a cobiçá-la.

O segundo romance é de um homem, com ar tímido, que se esconde atrás de grossos aros de óculos. Bruno Maçães, secretário de Estado dos Assuntos Europeus, está embevecido pelo Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento entre os Estados Unidos e a União Europeu (TTIP). Mas não é o único. Em conjunto com outros membros de governos europeus, Maçães escreveu uma carta de amor à União Europeu, em que exprimiu o seu desejo apaixonado de se deitar e rolar com as grandes multinacionais e grupos financeiros, esquecendo o casamento de conveniência que foi assumir um lugar no governo português e comprometer-se a defender o interesse dos cidadãos. Mas o TTIP não liga aos amores periféricos, apenas quer o amor das grandes potências: Alemanha, França e Estados Unidos.

Para terminar, um amor à prova de bala. Aníbal, Cavaco Silva, está apaixonado de morte pelo governo PSD-CDS. É um desejo que ultrapassa fronteiras, lógica, lei, que desafia os poderes, o tempo e a razão. Depois de décadas a comandar os destinos políticos do país, como ministro das Finanças, primeiro-ministro e Presidente da República, Cavaco ama hoje, mais do que nunca, os seus. É fiel na sua paixão. As suas mãos suam e tremem quando ouve Passos Coelho dizer aquilo que ele mesmo dizia há anos. E nada o fará deixar cair o governo a quem fez jura de amor eterno. Tal como os maiores apaixonados arranjam sempre nomes fofinhos para o objecto do seu amor, Cavaco também. “Ó, minha respeitabilidadezinha, gosto tanto de ti” ou “Quanto mais lhes bates, mais gosto de ti, estabilidadezinha” é o que se pode ler nos bilhetinhos e SMS que Cavaco Silva envia para os Conselhos de Ministros. As coligações podem desfazer-se, os ministros estar envolvidos em corrupções, esquemas, tutelarem áreas nas quais têm interesses privados, os orçamentos podem ser inconstitucionais, todos, tudo. Estas adversidades só servem para fazer prova que Silva ama além lei, além de tudo.

Os amantes do alheio amam apesar e além de tudo, porque os seus corações são grandes, mas ainda maiores são as suas carteiras e as dos seus amores. Já nós, pessoas normais, somos acusados de ser ciumentos por estes grandes apaixonados. É que aquilo é amor demais para tão pouca gente. E nós achamos que o amor deve ser para todos.