Um lugar especial
A música de Norberto Lobo expande-se entregue a um maravilhoso e maravilhado talento
Já não é a guitarra, simplesmente a guitarra e a capacidade de se pôr a si próprio e a tanta gente, tanta informação, dentro dela. Já não é apenas isso, sabe quem o acompanha ao vivo. Não é apenas esse tanto há muito. A música de Norberto Lobo expande-se entregue à viagem (uma intuição consequente, digamos) e à curiosidade e ao talento do seu autor, tão maravilhado com o som como capaz de o moldar ao seu desejo (coração e cabeça trabalhando em uníssono).
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Já não é a guitarra, simplesmente a guitarra e a capacidade de se pôr a si próprio e a tanta gente, tanta informação, dentro dela. Já não é apenas isso, sabe quem o acompanha ao vivo. Não é apenas esse tanto há muito. A música de Norberto Lobo expande-se entregue à viagem (uma intuição consequente, digamos) e à curiosidade e ao talento do seu autor, tão maravilhado com o som como capaz de o moldar ao seu desejo (coração e cabeça trabalhando em uníssono).
Fornalha. Com ela, também baptismo do disco, arranca esta colecção de cinco canções, qual música de câmara dilacerada, com as cordas da guitarra atacadas com arco, com o som produzido a multiplicar-se em novas dimensões através dos pedais de efeitos. Ouvimo-lo a ser moldado, a liquefazer-se sem que o impacto se dilua. Há uma força majestosa, mistério telúrico, a emanar desta música.
O quinto álbum em nome próprio de Norberto Lobo parece abrir um novo caminho no seu percurso. Não o entendamos como um corte com o que lhe conhecemos — Norberto não é homem para apagar as pegadas que foi deixando. A gravidade de uma certa melancolia, latina e mediterrânica, com sensibilidade à flor da pele, continua aqui, ou sugerida ou explícita como na belíssima Fran, mas a música expande-se. É construída com guitarra, loops e pedais de efeitos, e tem a voz a surgir espaçada e discreta, mas lá dentro cabem bordões que serenam, imaginamos sanfonas e violoncelos, deliramos com bailados de Shiva (e o Oriente aqui tão perto) e sonhamos que é o som rude mas encantatório do n’gnoni, o cordofone africano, aquilo que ouvimos.
Na Eu amo final, longa de dez minutos (justíssimos dez minutos), caminhamos do zumbido, massa sonora densa, ao bailado em frenesim (e damos por nós a pensar que Norberto Lobo já musicou as perseguições mares adentro e os rituais tribais do Tabu de Murnau, filmado sob o sol da Polinésia). Isso antes de, aparentemente, tudo serenar quando a voz ensaia uma melodia dolente, solar. Aparentemente, porque a guitarra há-de caminhar de forma surpreendente sobre o tapete sonoro criado. Em Fornalha, Norberto Lobo é mais do que lhe conhecíamos. Mantém a familiaridade que fomos construindo ao longo de quatro álbuns enquanto nos desafia as expectativas. Continua num lugar especial. Dele, totalmente dele. É um privilégio que nos abra as portas para que o possamos visitar.