Videojogos: os "youtubers" trocam o respeito pelo dinheiro?
Vários "youtubers" reconheceram que recebem produtos das mais determinadas marcas e que são pagos para falar sobre os mesmos
Confesso. Esta crónica é inspirada numa conversa que tive com o Miguel Nogueira da Rubber Chicken durante o evento Altera Game Jam, onde debatemos o estado actual da comunicação social especializada em videojogos (o debate está disponível no canal dos Critic Play).
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Confesso. Esta crónica é inspirada numa conversa que tive com o Miguel Nogueira da Rubber Chicken durante o evento Altera Game Jam, onde debatemos o estado actual da comunicação social especializada em videojogos (o debate está disponível no canal dos Critic Play).
Sem dúvida nenhuma que o Youtube tem proporcionado o aparecimento de novas formas de comunicação, que têm dado aos videojogos um grande destaque. Provavelmente, muitos canais são até maiores que algumas das referências da imprensa escrita ou digital e têm uma influência verdadeiramente colossal, fruto dos seus impressionantes milhões de subscritores.
O problema é a grande questão sobre a isenção e moralidade dos donos destes canais e seus principais intervenientes. Há relativamente pouco tempo, vários "youtubers" reconheceram que recebem produtos das mais determinadas marcas e que são pagos para os analisar. Nalguns casos, fazendo recomendações glorificadas e omitindo as suas falhas. Este processo é chamado “advertorial”. Um dos mais famosos "youtubers", chamado Steven Williams, mais conhecido mundialmente por Francis, afirmou, recentemente, que isto não é problema. Na sua perspectiva, ele não é um jornalista, e só se identifica como sendo um "reviewer", por isso não existe qualquer principio ético ou de imparcialidade pelo qual se deva reger. Este tipo de situação está a tornar-se num grande dilema.
Estes "youtubers" podem, simplesmente, fazer um pré-aviso no seu vídeo, avisando o espectador que receberam o produto proveniente duma marca ou que assinaram algum tipo de contrato. Alguns como o popular ReviewTechUSA reconhecem a importância de alertar o seu público e fazem-no antecipadamente. O problema são aqueles que não sentem a necessidade de o fazerem.
Recomendações dúbias
De repente, temos recomendações, no mínimo, dúbias, vindas de pessoas com uma credibilidade enorme na sua comunidade, e que, literalmente, trocam esse respeito por dinheiro. John Bain, conhecido por Total Biscut, afirmou, há pouco tempo, numa entrevista, que em 2010 recusou este “câmbio”, porque para ele “é trocar a minha paixão por uns trocos. Moralmente ficaria falido”.
Evidentemente que esta manobra de publicidade e de "marketing" não é nova. As famosas publireportagens na imprensa, ou o aliciamento de figuras para serem rostos dum produto são usadas desde o século passado. No mundo dos videojogos, é algo novo a utilização do Youtube. Num recente artigo do site Eurogamer foi relevado que a Ubisoft alegadamente pagou a um "youtuber" cerca de 10.000 euros para ir ao evento Gamescom e criar uma série de vídeos exclusivos aos produtos da empresa.
Mesmo Bain reconhece que muitos "youtubers" “dançam à volta deste tópico”, mas que é da sua inteira responsabilidade agir justamente com o seu público, avisando-os sem complexos dos acordos estabelecidos. Por enquanto, o debate vai continuar e, se esta situação não ficar resolvida, muito provavelmente, a credibilidade dos "youtubers" pode sofrer um grande solavanco. Eventualmente, pelo pecador vai pagar o justo.