Estudo em escola revela que Internet é cada vez mais usada para ameaçar colegas
"Este é um problema que diz respeito a toda a sociedade e não apenas às escolas", aponta José Ilídio Sá, autor da tese de doutoramento "Bullying nas Escolas: Prevenção e Intervenção", realizada no Departamento de Educação da UA, que durante um ano lectivo estudou o comportamento de alunos de uma escola secundária de Espinho.
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"Este é um problema que diz respeito a toda a sociedade e não apenas às escolas", aponta José Ilídio Sá, autor da tese de doutoramento "Bullying nas Escolas: Prevenção e Intervenção", realizada no Departamento de Educação da UA, que durante um ano lectivo estudou o comportamento de alunos de uma escola secundária de Espinho.
"O cyberbullying traduz inquestionavelmente uma forma mais complexa de bullying. Em muitos casos, surge como a continuação do bullying presencial, mas noutras situações desponta como o "espaço predilecto do agressor", explica o investigador.
O anonimato ou a falsa identidade do ofensor, a enorme quantidade de observadores presentes, a velocidade "viral" de propagação das ofensas, agressões e humilhações, são factores que levam os agressores a fazer essa escolha.
Para a executar, dispõem hoje de variados meios ao seu dispor, como 'smartphones' com câmara fotográficas e de vídeo, tablets, numerosos postos com computadores disponíveis e facilidade de acesso à Internet.
"É uma nova forma de violência que amplia as consequências do bullying tradicional. A difusão de ameaças, difamações e violência psicológica através da Internet é um meio cada vez mais utilizado pelos jovens para ofender terceiros", retrata.
Segundo dados da investigação realizada numa escola secundária com o 3.º ciclo do Ensino Básico, que envolveu o estudo de duas turmas - uma do 7.º e outra do 10.º ano - 31% dos alunos admitiram conhecer um colega que já foi "gozado ou ameaçado na Internet" e 13% dos estudantes do 10º ano já foram ameaçados, pelo menos numa ocasião, no ciberespaço, sendo essa percentagem mais significativa (19%) no caso dos jovens dos cursos profissionais.
Outro "dado preocupante", apontado pelo estudo de José Ilídio Sá, diz respeito ao número significativo de jovens que admite desconhecer a identidade do seu agressor e que revelou não ter reportado a agressão de que foi alvo.
A pesquisa permitiu apurar, na óptica dos agredidos, que perto de 45% dos jovens vítimas de agressão admitiram não ter reportado o sucedido a uma terceira pessoa, tendo, por isso, "sofrido em silêncio de modo presumivelmente continuado e prolongado".
Os que optaram pela denúncia fizeram-no a um colega (42,6%) ou a um familiar (29,7% dos casos, sendo que 23,8% aos respectivos pais e 5,9% aos irmãos). "Note-se que apenas uma percentagem muito residual de jovens (13%) mencionou ter participado essa agressão a um adulto da escola", diz.
No caso concreto do bullying eletrónico, "a fronteira entre o espaço escolar e o exterior torna-se quase impossível de delimitar" e por isso, "a responsabilização do agressor, quer seja na vertente disciplinar ou na criminal, torna-se assim muito difícil de comprovar".
As famílias podem ter uma intervenção decisiva neste tipo de casos, "uma vez que um número significativo de situações de ciberagressão tem como palco o espaço do domicílio", para a vítima ou para o agressor.
"O papel das famílias assume particular relevância, designadamente no que diz respeito à vigilância e à monitorização dos padrões de uso e de consumo da Internet por parte dos jovens, e à definição de regras por parte dos pais", afirma.
Aconselham-se, por isso, os pais a estarem atentos e a definirem os tempos de utilização e dos conteúdos e a localização dos equipamentos, procurando inverter a "cultura do quarto" característica nessas faixas etárias.