A política do Social
Numa fase em que a austeridade impera na Europa, em que as pessoas se sentem injustiçadas, e com razão, das taxas e sobretaxas a que são sujeitas, parece-me que o que este novo partido fez foi uma excelente jogada de levantamento de opinião nas redes-sociais
Numa fase em que a extrema-direita conquista terreno em alguns países, em Espanha é um movimento de esquerda que cresce, com resultados visíveis.
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Numa fase em que a extrema-direita conquista terreno em alguns países, em Espanha é um movimento de esquerda que cresce, com resultados visíveis.
PODEMOS é o movimento que, diz-se, nasceu do 15M, a grande manifestação espanhola, realizada a 15 de Março. No entanto, também é muito mais do que isso, é um conjunto de politólogos formados, que, em Maio último, elegeu cinco eurodeputados, após uma campanha realizada por Crowdfunding. E, agora, em vésperas de tornar-se um partido firmado, pelos trâmites legais, aparece como a força política mais forte no país vizinho, com 27,7% das intenções de voto, segundo uma sondagem realizada há pouco tempo.
Pablo Iglésias, um professor universitário, presença constante na televisão para moderação e participação em debates e tertúlias políticas, lidera este novo partido que nasce, ou já nasceu. A justificação dele para a sua criação, em conjunto com Juan Carlos Monedero e Íñigo Errejón, é que, após análise, concluíram que o atual sistema partidário está esgotado e as pessoas precisam de alternativas, criadas por elas.
Até aqui, parece uma vulgar história de jovens empreendedores, voltados para as ciências políticas, que decidiram seguir as suas ideologias. Porém, o que me alarma é que, consultando o seu plano, encontramos as metas como estas:
- Proibição de despedimentos em empresas com benefícios fiscais;
- Auditoria dos cidadãos à dívida pública;
- Nacionalização dos sectores estratégicos da economia;
- Impostos sobre as grandes fortunas;
- Passagem da idade da reforma para os 60 anos;
Numa fase em que a austeridade impera na Europa, em que as pessoas se sentem injustiçadas, e com razão, das taxas e sobretaxas a que são sujeitas, parece-me que o que este novo partido fez foi uma excelente jogada de levantamento de opinião nas redes-sociais.
As redes-sociais parecem um terreno de libertação, onde podemos fazer imperar a nossa opinião livremente e sem consequências, mas a verdade é que não é assim. Actualmente, as redes-sociais são a plataforma de aceitação social, pelo que ninguém, nelas, pretende pisar ramo verde. O que é que isto nos pode dizer em relação ao PODEMOS? Pode alertar-nos que as opiniões vincadas das redes-sociais são a libertação de algumas pessoas, cansadas do peso do capitalismo e com opinião, que leva a reboque muitas outras, essas sem opinião formada e muito menos consciência económica, social ou política, que acreditam que ali é que está a voz do povo e da indignação.
É óbvio para todos que o sistema político está esgotado, que a austeridade aniquila possibilidades de crescimento, mas não podemos correr o risco, no meu entender, de estruturarmos a política em bases extremas. O populismo é extremar, ao contrário do que se pensa. É extremar a opinião do povo até ao limite da parecença do exequível. O que precisa de terminar são as jogadas de interesse e as políticas combinadas, não as ideias de uma democracia assente no desenvolvimento. E onde todos mandam, ninguém controla.