Sindicato Nacional da Polícia vê demissão com "enorme preocupação"
Oficiais de polícia também manifestam "apreensão" em relação à demissão do ministro e o presidente da Liga dos Bombeiros lamenta "perda de parceiro fundamental".
“É com enorme preocupação que observamos a demissão do ministro da Administração Interna, num momento em que estavam prestes a ser iniciadas as negociações do novo Estatuto Profissional da PSP”, afirmou Armando Ferreira.
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“É com enorme preocupação que observamos a demissão do ministro da Administração Interna, num momento em que estavam prestes a ser iniciadas as negociações do novo Estatuto Profissional da PSP”, afirmou Armando Ferreira.
O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, anunciou neste domingo que pediu a demissão do Governo, que foi aceite pelo primeiro-ministro.
“Com esta demissão desconfiamos e temos sérias dúvidas de que venha a ser aprovado um novo estatuto até ao final do ano, porque o novo titular do cargo não vai ter tempo para se inteirar das pastas e não vai ter a capacidade de negociar um estatuto de forma a que este possa servir o interesse do país e dos polícias portugueses”, referiu o presidente do Sinapol.
Para Armando Ferreira, “de um ponto de vista técnico, a demissão do ministro foi um acto sensato”.
Assuntos pendentes
Também o Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP) manifestou “apreensão” em relação à demissão do ministro, por acontecer num momento em que assuntos “de grande importância estavam em avançado estado de discussão”.
O SNOP, lê-se num comunicado, espera que “a mudança de ministro não concorra para protelar, ainda mais, a aprovação de medidas essenciais e urgentes ao funcionamento da PSP, entre as quais se destaca claramente a aprovação do estatuto de pessoal”.
“Apesar de lhe dever ser reconhecido empenho na resolução de alguns dos principais problemas da PSP, incluindo o desbloqueamento das promoções, a verdade é que não conseguiu, em mais de dois anos, aprovar um estatuto de pessoal para os polícias, num processo que esteve sempre demasiado permeável a interferências externas”, recordou o SNOP.
O Sindicato lembra ainda que “a passagem deste ministro fica também associada à demissão incompreensível de um director nacional, cujos reais contornos são ainda hoje desconhecidos”.
“Apenas o excelente trabalho e a estabilidade directiva na Polícia de Segurança Pública, que sucederam a este episódio, foram capazes de mitigar as consequências que a decisão poderia ter provocado”, pode ler-se na nota.
“Pacificação”
O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Soares, lamentou a demissão de Miguel Macedo, considerando que os bombeiros “perderam um parceiro fundamental”.
Com Miguel Macedo no Ministério da Administração Interna (MAI), “abriram-se muitas portas que estavam fechadas”, disse Jaime Soares à agência Lusa. “Os bombeiros portugueses estão preocupados”, já que, segundo o presidente da LBP, a saída de Macedo do Governo pode resultar “numa perda de ritmo nas negociações” em curso no sector.
Jaime Soares sublinhou que “havia uma pacificação nesta área” do socorro e Protecção Civil e que “não é fácil substituir um homem da sua dimensão” na liderança do MAI.
“Estava sempre pronto a abrir portas com outros ministérios”, disse, para concluir que, “para os bombeiros portugueses”, Miguel Macedo foi “o melhor ministro da Administração Interna depois do 25 de Abril” de 1974.
Jaime Soares salientou que a LBP estava a negociar com o MAI e o Governo “um conjunto de dossiês importantes”, designadamente nas áreas do financiamento, do transporte de doentes e do voluntariado.
Numa declaração lida no Ministério da Administração Interna neste domingo, Miguel Macedo disse não ter “qualquer responsabilidade pessoal” no caso de atribuição alegadamente fraudulenta de vistos dourados, que está a ser investigado no âmbito da Operação Labirinto, mas reconheceu que não tinha condições políticas para se manter no cargo.
Algumas pessoas com relações pessoais e profissionais a Miguel Macedo estão a ser averiguadas no âmbito dessa operação policial.