Poema inédito de Nuno Júdice evoca Manoel de Barros (1916-2014)

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Deus é uma grande aranha, pensou

manoel de barros. E agarrou um dos

fios da sua teia para subir, com

todo o cuidado de um tecedor

de palavras, até ao infinito. «E

onde está o deus que fabricou

tudo isto?», perguntou ao chegar

à floresta que nasce no cume

dos sonhos. E um dos pavões,

de sílabas coloridas com as tintas

vermelhas e roxas do crepúsculo,

respondeu: «Deus vive na rede

dos teus versos.» E abriu a sua

cauda onde as cores da madrugada

reflectiam, como num espelho

de ouro poliédrico, o rosto de deus.


Nuno Júdice

 14-11-2014


 

Poema inédito cedido pela Casa da América Latina