Dez por cento das queixas de violência doméstica são de jovens com menos de 16 anos

Entre os adolescentes, a violência difere da violência conjugal onde as vítimas são esmagadoramente mulheres, segundo a Associação Democrática de Defesa dos Interesses e da Igualdade das Mulheres, responsável pelo projecto Educação+.

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A influência parental e comunitária, drogas ou gangues são determinantes para o jovem desenvolver comportamentos violentos, diz a OMS Manuel Roberto

Em declarações à Lusa, Carla Mansilha Branco defendeu "a necessidade de começar este trabalho de sensibilização contra a violência doméstica na adolescência", estando, por isso, a associação a desenvolver desde Outubro o projecto Educação+, que envolve 1100 alunos de escolas do concelho do Porto. Segundo a presidente da ADDIM, "a violência nas relações de namoro assume entre os jovens valores inquietantes de vitimização e de perpetração. No namoro há muita violência e os agressores são os rapazes, mas também as raparigas".

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Em declarações à Lusa, Carla Mansilha Branco defendeu "a necessidade de começar este trabalho de sensibilização contra a violência doméstica na adolescência", estando, por isso, a associação a desenvolver desde Outubro o projecto Educação+, que envolve 1100 alunos de escolas do concelho do Porto. Segundo a presidente da ADDIM, "a violência nas relações de namoro assume entre os jovens valores inquietantes de vitimização e de perpetração. No namoro há muita violência e os agressores são os rapazes, mas também as raparigas".

A responsável acrescentou que neste caso "a violência é bi-unívoca, difere do contexto de violência conjugal onde as vítimas são esmagadoramente mulheres." O projecto Educação+ terminará no final do presente ano lectivo e constará de 13 sessões de esclarecimento com especialistas, divididas pelos três períodos escolares.

Perceber os alertas
A dirigente da ADDIM espera conseguir "que no final os jovens sejam capazes de perceber os sinais de alerta de uma situação de violência no namoro ou de bullying, e que eliminem comportamentos assentes em crenças, tais como 'ciúmes é prova de amor', ou que se deve responder à violência com violência".

E, para que sejam capazes de reagir perante estes sinais, pretende-se que os jovens em idade escolar consigam "desenvolver competências comunicacionais que lhes permitam resolver os conflitos tendo por base o diálogo e a assertividade". A presidente da instituição de solidariedade social referiu que nos últimos anos o combate à violência doméstica tem sido feito utilizando estratégias de intervenção secundárias e terciárias, isto é, atacando o problema quando ele já está instalado. O trabalho que está a ser levado a cabo pela ADDIM "privilegia a detecção precoce de sinais de violência e a intervenção imediata".

Segundo a Organização Mundial de Saúde, factores como as características biológicas, a influência parental e comunitária, drogas ou gangues são determinantes para o jovem desenvolver comportamentos violentos.
No entender de Carla Mansilha Branco, a resposta a este fenómeno passa pela "consciencialização para as consequências de actos violentos e a escola constitui-se como um espaço onde esses comportamentos são evidenciados, uma vez que é lá que grande parte dos jovens passa mais tempo por dia".

"É um espaço de transmissão de saberes e aprendizagem, mas também o palco onde se desenvolvem as primeiras amizades, relacionamentos amorosos e onde são aplicados os valores culturais e educacionais que lhes são transmitidos pelo meio em que se inserem", sublinhou a responsável da ADDIM.

Projecto em escolas
O projecto Educação+ está a decorrer nas escolas Alexandre Herculano e Cerco, no Porto, e de Valadares, em Vila Nova de Gaia. Carla Mansilha Branco referiu que "neste momento 32 mulheres foram assassinadas em Portugal por homens com quem partilhavam a vida. Em 2013, foram registadas 27.318 participações".

"O número de denúncias aumenta e aumentam os homicídios, há maior visibilidade e as pessoas estão mais consciencializadas. Não sabemos se há mais violência doméstica ou se há mais visibilidade do fenómeno", sublinhou.

De acordo com a responsável, a maior parte das vítimas de violência doméstica só apresenta queixa, em média, passado 13 anos, o que significa que "há mulheres 20, 30 e 40 anos a viver numa relação em que aguentam todo o tipo de torturas e maus tratos".

Carla Branco considerou que "a legislação protege as vítimas, mas falha na aplicabilidade e celeridade dos processos. No fundo há um desfasamento entre a lei e o tempo de vida da vítima". A ADDIM é uma das associações que trabalham no apoio às vítimas de violência doméstica que participam, no próximo dia 22, no Porto, numa marcha contra a violência doméstica e de género.