Republicanos prometem luta contra a "guerra ao carvão" de Obama

Com a maioria nas duas câmaras do Congresso, o Partido Republicano está determinado a fazer tudo para que a Administração Obama não tenha sucesso no acordo "irrealista" assinado com a China. Em causa, dizem, está o aumento do desemprego no sector mineiro.

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O futuro líder da maioria do Senado, o republicano Mitch McConnell, critica o "plano irrealista" de Barack Obama Larry Downing/Reuters

"A nossa economia já não aguenta esta guerra ao carvão ideológica do Presidente, que vai espremer ainda mais as famílias da classe média e os mineiros. Este plano irrealista, que o Presidente atira para as mãos do seu sucessor, vai aumentar o preço dos serviços e diminuir ainda mais a criação de postos de trabalho", declarou McConnell.

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"A nossa economia já não aguenta esta guerra ao carvão ideológica do Presidente, que vai espremer ainda mais as famílias da classe média e os mineiros. Este plano irrealista, que o Presidente atira para as mãos do seu sucessor, vai aumentar o preço dos serviços e diminuir ainda mais a criação de postos de trabalho", declarou McConnell.

O próximo líder da maioria no Senado fez também questão de lembrar a Barack Obama a derrota que o seu Partido Democrata sofreu nas eleições para o Congresso, na semana passada, e deixou uma promessa: "O Presidente disse que as suas políticas também iriam ser julgadas nestas eleições, e a voz do povo americano falou contra elas. Uma das minhas prioridades no novo Congresso será aliviar o fardo que foi criado pela regulamentação da EPA."

Apesar de o acordo assinado entre Pequim e Washington não precisar da aprovação do Congresso, a maioria conquistada pelo Partido Republicano no Senado nas eleições de 4 de Novembro vai dificultar ainda mais a vida à Administração Obama – a hipótese de os republicanos apresentarem propostas que agradem ao Presidente é nula; a hipótese de aprovarem propostas vindas da Casa Branca é ínfima; e a hipótese de usarem todas as armas ao seu dispor para impedirem que Obama chegue ao fim do mandato com uma obra sólida na área do ambiente, que resista à agenda de futuros Presidentes, é o cenário mais provável.

Nas eleições de 4 de Novembro, o Partido Republicano passou de uma minoria de 45 senadores para uma maioria de pelo menos 53 (uma segunda volta no Louisiana, marcada para 6 de Dezembro, dá vantagem ao candidato republicano). Mesmo com 54 senadores, os republicanos precisariam de mais seis para representarem uma ameaça séria às intenções de Barack Obama, que pode vetar propostas do Congresso e aprovar leis através de ordens executivas. Ainda assim, a maioria republicana tem outras armas, como a possibilidade de fazer depender a aprovação de um novo Orçamento da passagem de algumas das suas propostas de lei – um choque que abre as portas a uma nova paralisação do Governo norte-americano, tal como aconteceu em Outubro de 2013.

O Presidente norte-americano terá agora de enfrentar também um Senado dominado por alguns dos mais ferozes opositores ao combate às alterações climáticas.

O mais poderoso de todos é o futuro líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, reeleito senador pelo estado do Kentucky, onde a indústria do carvão tem sido muito afectada pelo aperto das leis ambientais da EPA.

Mais do que a negação das provas científicas sobre as alterações climáticas, o argumento de muitos políticos norte-americanos que se opõem à diminuição das emissões de dióxido de carbono baseia-se no impacto no mercado de trabalho.

Numa reportagem publicada no mês passado na revista Washingtonian, o jornalista Luke Mullins traça um quadro negro da outrora vibrante indústria do carvão do Kentucky: "A produção de carvão na zona Leste do Kentucky atingiu o nível mais baixo dos últimos 50 anos, e quase metade dos postos de trabalho nas minas desapareceu desde meados de 2011."

Apesar da influência da mecanização do trabalho mineiro, e mais recentemente da corrida ao "fracking" para a extracção de gás natural, as principais vítimas do desemprego nas minas de carvão culpam a Administração Obama e a Agência de Protecção Ambiental. Bobby Spare, um engenheiro de 59 anos que começou a trabalhar nas minas de carvão do Kentucky mal chegou à maioridade, seguindo os passos do pai e do avô, não tem dúvidas na hora de apontar o dedo: "A regulamentação federal que sai de Washington. Eles estão a fazer com que seja muito difícil permanecer neste negócio", disse Spare ao Washingtonian.

Se a Casa Branca já terá fortes dores de cabeça com Mitch McConnell como líder da maioria do Senado e com o também republicano John Boehner como líder da maioria na Câmara dos Representantes, o cenário agrava-se com a esperada nomeação de Jim Inhofe para a presidência da Comissão de Ambiente e Serviços Públicos do Senado.

Eleito pelo estado do Oklahoma desde 1994, Inhofe tem uma longa lista de declarações e posições polémicas sobre o ambiente: em 1992, disse que os EUA não precisam de "uma burocracia à moda da Gestapo", referindo-se à Agência de Protecção Ambiental; e há dois anos escreveu um livro intitulado "O maior embuste: como a teoria da conspiração do aquecimento global ameaça o seu futuro".

À imagem de Mitch McConnell, tanto Jim Inhofe como John Boehner criticaram o acordo entre os EUA e a China. Enquanto o líder da maioria na Câmara dos Representantes acusou Obama de "redobrar as políticas que esmagam o emprego, independentemente do seu impacto devastador para o país", o senador do Oklahoma descreveu o acordo como “uma farsa não-vinculativa” e avisou o Presidente para os perigos de avançar sem ouvir o Congresso: "O povo americano falou contra as políticas ambientais do Presidente nas últimas eleições. Com a entrada em funções de um novo Congresso, farei tudo o que estiver ao meu alcance para travar e denunciar a regulamentação sem controlo da Agência de Protecção Ambiental."