Energia mundial sob "tensão" nas próximas duas décadas e meia
Instabilidade no Médio Oriente e conflito Rússia-Ucrânia são apontados como foco de tensões pela Agência Internacional de Energia.
A "tensão" que a AIE identifica vai da instabilidade no Médio Oriente, “que nunca foi tão grande desde os choques petrolíferos da década de 1970”, até ao conflito Rússia-Ucrânia, do “futuro incerto” do nuclear até às escolhas políticas e decisões de mercado “insuficientes para fazer com que a descida do peso das energias fósseis leve a menores emissões de dióxido de carbono”.
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A "tensão" que a AIE identifica vai da instabilidade no Médio Oriente, “que nunca foi tão grande desde os choques petrolíferos da década de 1970”, até ao conflito Rússia-Ucrânia, do “futuro incerto” do nuclear até às escolhas políticas e decisões de mercado “insuficientes para fazer com que a descida do peso das energias fósseis leve a menores emissões de dióxido de carbono”.
A AIE lembra que o Médio Oriente continua a ser a “fonte do petróleo mais barato do mundo” e que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia “suscita preocupações de segurança energética”. Por outro lado, indica que o nuclear vai ter um crescimento "concentrado em mercados com preços regulados, com apoios estatais ou incentivos governamentais ao investimento privado", como na China, Índia, Coreia, Rússia e também EUA.
O documento, a divulgar esta manhã, parte de uma série de dados que a AIE lê como desafios. Por exemplo, no último ano, o planeta não mudou uma décima em relação ao caminho que o levará a um aumento da temperatura média global em 3,6 graus Celsius e aumentou os subsídios às energias fósseis em seis mil milhões de dólares, o que é quatro vezes mais do que os concedidos às energias renováveis, mostram os dados da Agência Internacional de Energia (AIE) no seu relatório Perspectivas de Energia 2014.
Já no relatório do ano passado, a AIE apontava para um aumento de 3,6 graus, pelo que considera “necessária uma acção urgente” de modo a respeitar o objectivo dos 2 graus de aumento acordado no âmbito das Nações Unidas e que estará no centro das negociações do clima, a realizar em Paris no próximo ano. A AIE antecipa pela primeira vez projecções até 2040, segundo as quais o petróleo, gás, carvão e fontes renováveis deterão partes quase iguais do mix energético do futuro, mas as emissões das energias fósseis ainda crescerão em cerca de 20%.
As estimativas de subsídios dados às energias fósseis no último no apontam para 550 mil milhões de dólares, mais seis mil milhões do que no ano anterior. Para a AIE, esta tendência está a travar o investimento em eficiência e energias renováveis.
A procura mundial de energia deverá crescer 37% até 2040, uma tendência estimada pela AIE que é mais lenta do que no passado: será a um ritmo de 1% ao ano quando nas últimas duas décadas foi superior a 2% anuais. A mudança na geografia da procura de energia “será dramática”, antecipa a agência, com estagnação na Europa, Japão, Coreia do Sul e América do Norte e com a Ásia a liderar o crescimento (60%).
Por volta do início da década de 2030, a China tornar-se-á o maior consumidor de petróleo do mundo, lugar que era dos EUA e “onde o consumo de petróleo cairá para níveis nunca vistos em décadas”. A mudança será tal que por cada três barris de petróleo que os países da OCDE vão deixar de consumir, dois barris serão acrescentados ao consumo do bloco não-OCDE.
Para responder à procura até 2030, os sectores do petróleo e gás vão precisar de investir anualmente 900 mil milhões de dólares na produção, mas a AIE alerta que “existem muitas incertezas sobre se este investimento chegará a tempo”, nomeadamente por causa dos focos de tensão e da complexidade das novas áreas de exploração como o Brasil e o Canadá.
A AIE entrega a liderança das tendências energéticas até 2040 ao gás natural e à electricidade. Nos combustíveis fósseis, o gás natural terá o maior crescimento, nomeadamente o gás natural liquefeito (que é o que os grandes navios metaneiros transportam), em grande parte (60%) devido ás novas fontes de gás natural não convencional. Na chamada energia final, a electricidade é a que mais crescerá e que mais contribuirá para a redução da fatia dos combustíveis fósseis no mix mundial de energia. As energias renováveis deverão contribuir com quase metade do aumento da produção de energia eléctrica, especialmente eólica e solar fotovoltaico.
Ainda assim, dentro de duas décadas e meia ainda haverá 500 milhões de pessoas na África subassariana sem acesso à electricidade.