Ébola, agente de cooperação

Portugal deveria ter sido, a meu ver, o primeiro dos primeiros a mostrar as suas credenciais ao povo irmão da Guiné-Bissau

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Susana Vera/Reuters

Há gestos que pela sua grandeza ética e pelo seu conteúdo político, valem bem a pena serem dados a conhecer ao grande público e não permanecerem no fundo da gaveta quando deviam servir de exemplo e contagiar os demais. Especialmente aos agentes políticos que aos microfones ou do alto da tribuna se multiplicam em mil palavras encantatórias exaltando o sentido histórico e fraterno com os Países Africanos de Língua Portuguesa, sem que se vejam quaisquer acções concretas neste domínio.

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Há gestos que pela sua grandeza ética e pelo seu conteúdo político, valem bem a pena serem dados a conhecer ao grande público e não permanecerem no fundo da gaveta quando deviam servir de exemplo e contagiar os demais. Especialmente aos agentes políticos que aos microfones ou do alto da tribuna se multiplicam em mil palavras encantatórias exaltando o sentido histórico e fraterno com os Países Africanos de Língua Portuguesa, sem que se vejam quaisquer acções concretas neste domínio.

Vem isto a propósito da ameaçadora epidemia de ébola que grassa em três países da costa ocidental africana (Libéria, Serra-Leoa e Guiné-Conacri) e dos perigos que daí podem resultar para a pequena Guiné-Bissau e, como se compreenderá, também para Portugal dado o fluente intercâmbio de viajantes.

De facto, não fora o gesto decidido e clarividente do Director-Geral da Saúde Francisco George, de viajar para Bissau em testemunho de uma presença responsável e confiável de Portugal, e a representatividade do Governo teria ficado comprometida, se não mesmo silenciada, pondo em causa a tão badalada fraternidade sem que fossem até ao momento em que escrevo divulgadas quaisquer medidas de colaboração com as autoridades sanitárias Guineenses no combate a tão grave ameaça e que tanto tem preocupado a comunidade internacional.

Se bem que entre nós, tudo leva a crer, tenham já sido tomadas as medidas preventivas com alertas e informações seguras para todas as unidades médicas, bem como dado a conhecer quais os Hospitais escalados para diagnóstico e tratamento dos casos suspeitos, era desejável e por demais justificado que este país irmão africano recebesse a ajuda que necessita, tanto mais que o seu Governo saído recentemente de eleições democráticas e aceite pela comunidade internacional, ainda agora dá os primeiros passos e enfrenta carências de toda a ordem.

Burocracia

De resto, é com alguma esperança que assistimos agora através dos noticiários, que a comunidade internacional se move já decididamente enviando para esta região do continente africano as competentes e bem preparadas equipas de combate à epidemia e até mesmo forças militares encarregadas de zelar pela ordem e segurança dos corajosos intervenientes.

Ao invés e como de costume, a União Europeia enredada em mil processos burocráticos, demora a despertar e por enquanto ainda ninguém sabe quais as medidas preventivas nem sequer quais as ajudas no combate à referida ameaça.

Na verdade, poucos dos que nos lêem saberão das reais dificuldades com que as equipas sanitárias se defrontam no terreno, dado o choque de culturas com consequências desagradáveis algumas vezes. Recentemente e em conversa mantida com o Dr. Luís Sambo, Director Regional da OMS para Africa, ficamos a saber dos riscos que algumas equipas, correram em regiões remotas da região centro africana.

Seja como for e num mundo globalizado como o nosso, com o progressivo desaparecimento de fronteiras e a facilidade de comunicações, é dever dos Estados prestarem assistência a países em dificuldades, sendo certo que no caso presente por um imperativo histórico e de secular convivência, Portugal deveria ter sido, a meu ver, o primeiro dos primeiros a mostrar as suas credenciais ao povo irmão da Guiné-Bissau.