Com Obama em fim de mandato, a China tenta marcar pontos na Ásia
Na cimeira de Pequim, chineses e americanos defendem parcerias comerciais distintas, que espelham a sua rivalidade no Pacífico. Houve também um tímido “degelo” entre chineses e japoneses.
Barack Obama, que procura salvar o seu “pivot para a Ásia”, faz um grande investimento político nesta reunião. Mas, para a generalidade dos observadores, a “dispersão” da política externa americana e a derrota dos democratas nas eleições de há uma semana, fazem com que, aos olhos da China, ele apareça como um líder enfraquecido. O que alarga a margem de manobra de Xi.
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Barack Obama, que procura salvar o seu “pivot para a Ásia”, faz um grande investimento político nesta reunião. Mas, para a generalidade dos observadores, a “dispersão” da política externa americana e a derrota dos democratas nas eleições de há uma semana, fazem com que, aos olhos da China, ele apareça como um líder enfraquecido. O que alarga a margem de manobra de Xi.
Na APEC, decide-se por consenso. Não é uma organização puramente comercial, mas também política. As discussões bilaterais à margem da cimeira são tão importantes como o debate em conjunto. No plano económico, estavam na mesa três grandes projectos, que não têm apenas uma dimensão comercial mas geopolítica.
Os EUA propõem uma Parceria Trans-Pacífico (TPP) para acelerar a liberalização do comércio e do investimento entre os países asiáticos e a América do Norte. Tem a oposição de Pequim que, não fazendo parte do projecto TPP, defende uma Zona de Comércio Livre para a Ásia e Pacífico (FTAAP) que, além do comércio, envolveria um imenso plano de infra-estruturas — uma nova “Rota da Seda”.
Os americanos discordam da FTAAP e os japoneses levantam objecções à TPP, por se oporem à abertura dos mercados agrícolas. Por sua vez, os países do Sueste Asiático (ASEAN) defendem uma Parceria Económica Global e Regional (RCEP) que, além da sua região, englobaria a China, o Japão e a Índia.
No domingo, Xi assinou com Vladimir Putin um acordo para fornecimento de gás no valor de 400 mil milhões de dólares. Nesta segunda-feira, assinou um acordo de comércio livre com a Coreia do Sul. A cimeira termina terça-feira e foi o primeiro acto duma maratona diplomática. Obama, Xi e Abe reencontram-se nos dias 12 e 13, na cimeira da ASEAN em Myanmar (Birmânia) e, depois, a 15 e 16, na cimeira do G-20, na Austrália.
Xi e Obama
A APEC é composta por 21 Estados, da Austrália ao Peru. Representa 40% da população mundial, 44% do comércio mundial e 50% do PIB mundial. Mas o comércio não é tudo. A tensão no Mar do Sul da China preocupa toda a região.
As relações entre a China e o Japão têm sido marcadas por uma perigosa tensão desde 2012, a querela sobre as ilhas Senkaku (Diaoyu para a China) que se ameaça transformar numa “guerra fria” asiática. A última cimeira entre os líderes dos dois países remonta a Dezembro de 2012. Pequim tinha interesse em não “estragar” a cimeira, mas foi necessário um “milagre diplomático” à última hora para se encontrar um acordo sobre o começo da normalização das relações entre os dois países, que reconhecem ter “diferentes opiniões” sobre o diferendo. Simbolicamente, Xi fez esperar Abe e o aperto de mão não foi caloroso.
No seu discurso, Obama defendeu o TPP. Falou de direitos humanos, da liberdade de imprensa e da Internet, de Hong Kong, do ébola e do terrorismo internacional. Fez ao mesmo tempo um “discurso de charme” aos asiáticos e, em especial, a Pequim. “Os Estados Unidos são decididamente uma nação da região do Pacífico. O nosso futuro, a nossa segurança e a nossa prosperidade estão indissociavelmente ligadas à Ásia. (...) Saudamos a emergência da China, uma China próspera, pacífica e estável.”
Escrevia no Financial Times o analista Edward Luce a propósito das relações sino-americanas: “À excepção da Coreia do Norte, os vizinhos da China clamam por uma mais forte presença dos EUA na região. (...) Mas o resto do mundo e a China em particular olham Obama sob uma luz diferente — um líder fraco, no Outono da sua presidência. Os observadores da China assinalam que o fervente activismo de Xi, desde que assumiu o poder, foi incentivado pela ideia de que Obama tem pouco tempo à frente.” Tentará aproveitar esta conjuntura para marcar pontos na Ásia.