Tensão máxima em Israel, depois de a polícia abater a tiro um jovem árabe
Líderes árabes israelitas convocaram uma greve geral e universitários organizaram manifestações em protesto contra a violência das forças policiais e militares de Israel
Estudantes das universidades de Telavive e Haifa organizaram manifestações em protesto pela morte do jovem, na aldeia árabe de Kafr Kanna, no Norte de Israel. A polícia informou que o indivíduo tentara esfaquear agentes em serviço e fora atingido em legítima defesa, depois de ter sido disparado um tiro de aviso para o ar. Mas as imagens de uma câmara de vigilância entretanto difundidas contradizem esta versão e mostram o homem com um objecto na mão a bater no vidro de um veículo blindado da polícia: quando os agentes saem da viatura para o confrontar, o homem começa a afastar-se e está já longe quando é abatido a tiro.
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Estudantes das universidades de Telavive e Haifa organizaram manifestações em protesto pela morte do jovem, na aldeia árabe de Kafr Kanna, no Norte de Israel. A polícia informou que o indivíduo tentara esfaquear agentes em serviço e fora atingido em legítima defesa, depois de ter sido disparado um tiro de aviso para o ar. Mas as imagens de uma câmara de vigilância entretanto difundidas contradizem esta versão e mostram o homem com um objecto na mão a bater no vidro de um veículo blindado da polícia: quando os agentes saem da viatura para o confrontar, o homem começa a afastar-se e está já longe quando é abatido a tiro.
Horas depois do incidente, a localidade de Kafr Kanna estava a ferro e fogo: os confrontos entre os residentes e a polícia prosseguiram este domingo, com a imprensa israelita a descrever a situação como um “motim”. Depois de hastearem a bandeira palestiniana, os moradores armaram barreiras e incendiaram pneus para bloquear a entrada das autoridades, que foram recebidas à pedrada e com cocktails Molotov. Pelo menos 20 pessoas, algumas das quais menores de idade, foram detidas.
Embates entre manifestantes e polícias repetiram-se em Jerusalém oriental, onde o braço-de-ferro já dura há duas semanas, por causa de uma alteração nas regras de acesso ao Pátio das Mesquitas. O local é recinto sagrado tanto para os judeus, que lhe chamam Monte do Templo, como para os muçulmanos, que o consideram o Nobre Santuário. As mudanças, por pressão da direita israelita, retiraram aos muçulmanos a “exclusividade” das orações no local, e garantiram aos judeus o direito de rezar no mesmo espaço. De acordo com o Ha’aretz, os dirigentes do aparelho de segurança temem uma deterioração da situação, e o possível alastramento da instabilidade ao território da Cisjordânia.
Os líderes das comunidades árabes israelitas convocaram uma greve geral “em luto e solidariedade” com a família do jovem morto pela polícia – um apelo que levou centenas de comerciantes, mas também escolas e até serviços públicos a manter os seus estabelecimentos fechados este domingo – e nalgumas marchas ouviram-se slogans incitando à revolta e revolução.
À saída da reunião do Conselho de Ministros, Benjamin Netanyahu ignorou todas as recomendações à contenção para apaziguar os ânimos, e declarou que não iria tolerar contestações ou acções de protesto que levassem à perturbação da ordem, a motins. “Israel é uma nação de leis”, sublinhou o primeiro-ministro, dizendo que “quem escolher violar a lei será severamente punido”. O ministro do Interior foi instruído a “usar todos os meios” para lidar com aqueles que “advogam a destruição do Estado de Israel” e que poderão ver a nacionalidade revogada, acrescentou. Além disso, o Governo elevou o nível de alerta nacional para “C”.
E numa outra medida que poderá contribuir para a escalada da situação entre árabes e judeus, Netanyahu anunciou a sua intenção de avançar com a aplicação da legislação israelita no território ocupado pelos colonatos judeus na Cisjordânia. No mesmo dia, os 1700 moradores da vila de Beit Iksa receberam um aviso distribuído pelas Forças de Defesa de Israel, informando que o Exército se preparava para confiscar 1290 hectares de terrenos palestinianos para o alargamento da zona militar entre Israel e Palestina. O aviso dizia que a localidade terá de ser evacuada até ao fim de 2017.