Um morto e 90 infectados por legionella num surto que continua por explicar
Autoridades de Saúde ainda não identificaram origem do surto e admitem que número de infectados possa aumentar. Há 16 doentes internados em unidades de cuidados intensivos de vários hospitais da Grande Lisboa.
Os doentes residem quase todos nas três freguesias do Sul do concelho: Forte da Casa, Póvoa de Santa Iria e Vialonga. Só 10% são provenientes de outras zonas.
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Os doentes residem quase todos nas três freguesias do Sul do concelho: Forte da Casa, Póvoa de Santa Iria e Vialonga. Só 10% são provenientes de outras zonas.
Foi depois de uma longa reunião do grupo criado para acompanhar este caso “invulgar” de contaminação pela bactéria legionella que o director-geral da Saúde, Francisco George, confirmou 90 casos diagnosticados e adiantou que ainda não foi identificada a "fonte do problema". "Ainda não encontrámos explicação para este fenómeno", disse. "Naturalmente, tem que ver com a água."
George admite que possam surgir mais casos. "Estamos preparados. Ainda não atingimos um patamar satisfatório em termos de saúde pública. Estamos preocupados, mas estamos tranquilos", afirmou. A infecção, que pode provocar problemas respiratórios graves, pode demorar entre sete e dez dias a manifestar-se, pelo que os atingidos podem ter sido infectados já há alguns dias.
O director-geral da Saúde aconselhou também as pessoas a não tomar duches nem utilizar hidromassagens ou <i>jacuzzi</i> até que seja identificada a fonte da infecção, mas garantiu que é seguro consumir água da rede pública.
Accionado plano de contingência
À entrada para a reunião, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, anunciou que foi accionado um plano de contingência para lidar com o surto e que “há um conjunto de medidas que têm vindo a ser tomadas, sendo a primeira tratar das pessoas e assegurar número suficiente de camas e a possibilidade de ventilar os doentes com dificuldades especiais”.
Paulo Macedo confirmou tratar-se de “um caso que não é normal”, mas lembrou que todos os anos “há um número significativo” de casos de legionella no país e que não há, por isso mesmo, razões para alarme.
Francisco George acrescentou que a vítima mortal era um “fumador pesado” e que esse é um dos factores de risco, porque grandes fumadores terão menor capacidade pulmonar para limpar possíveis infecções. E reafirmou que esta doença não se propaga por contacto entre as pessoas, nem pela ingestão de água, mas sim pela inalação de gotículas. Referiu também que uma das prioridades é identificar a fonte da bactéria e encerrá-la, sublinhando que este ano já havia registo de 88 casos de legionella em Portugal, mas todos esporádicos e nenhum com esta dimensão.
De acordo com Francisco George, há diversas possibilidades para a origem do problema, que estão a ser procuradas pelas autoridades de saúde pública e pelos serviços camarários, sublinhando que já houve casos anteriores em que a origem da bactéria estava num simples repuxo de água.
Carlos Rabaçal, director clínico do Hospital de Vila Franca de Xira, garantiu que tem havido capacidade de resposta para este afluxo de doentes infectados pela legionella, acrescentando que o hospital está em articulação com unidades de saúde de Lisboa para eventuais necessidades de apoio.
“Estes casos estão a ser tratados de forma adequada. Não sabemos se estamos no pico ou se estamos fora do pico de aparecimento destas situações, mas estamos a dar a resposta adequada”, garantiu, reafirmando que os sintomas da doença respiratória originada pela legionella são febres altas, dores de cabeça e musculares e pontadas no peito. O director-geral da Saúde aconselhou as pessoas a contactarem a Linha Saúde 24 antes de se dirigirem a um hospital.
A vítima mortal deu entrada no hospital cerca das 23h de sexta-feira e veio a falecer próximo das 3h da madrugada deste sábado.
Centenas de casos em Portugal
Portugal registou, entre 2009 e 2013, centenas de casos de doença do legionário, resultante da infecção pela bactéria legionella, segundo dados divulgados pela DGS e pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). Os números constam do relatório Doenças de Declaração Obrigatória 2009-2012, divulgado pela DGS, e indicam que, neste período, foram notificados, no país, 459 casos.
Numa análise mais recente feita pelo INSA, o organismo refere que, nos 284 casos registados entre 2010 e 2013, se evidencia que mais de 60% eram de residentes na região norte, com destaque para os distritos do Porto e de Braga.
De acordo com o relatório do INSA, a maioria do total de casos notificados em Portugal deu-se em homens com mais de 30 anos, com o período do Inverno e da Primavera a serem os que registaram menos casos, "o que corresponde à distribuição sazonal esperada".
Esta expectativa justifica-se pelo facto de a multiplicação da legionella ser favorecida pela temperatura e pela humidade. Aliás, estas bactérias podem existir em reservatórios naturais ou artificiais, como humidificadores ou sistemas de ar condicionado, piscinas ou jacuzzi.
É ainda salientado que a doença, apesar de ser de declaração obrigatória, estará a ser subnotificada e subdiagnosticada. Ainda assim, o número de casos tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos, tal como acontece no resto da Europa.
No final de Setembro, em Almodôvar, no Alentejo, foi identificada a presença da bactéria legionella nos reservatórios da rede pública de distribuição de água da vila, mas, por se tratar da estirpe legionella spp, considerada a "menos perigosa", a Administração Regional de Saúde do Alentejo concluiu não haver um risco grave para a saúde pública pelo consumo da água.
Ainda assim, a autarquia aconselhou a população a evitar ou minorar a exposição por inalação de partículas de água provenientes de actividades como banhos de chuveiro, rega por aspersão e lavagem de automóveis e pavimentos com mecanismos de pressão. Não foram registadas, a propósito deste caso, quaisquer infecções pela bactéria.