Reposição contínua de areia nas praias apontada como solução para erosão
Grupo de Trabalho do Litoral liderado por Filipe Duarte Santos defende operações sistemáticas de reposição de sedimentos, que poderiam custar 221 milhões até 2020.
Filipe Duarte Santos participou no segundo e último dia de trabalhos do seminário sobre Gestão da Orla Costeira, que esta sexta-feira terminou em Esposende, num hotel junto às famosas torres de Ofir e à praia que, há mais de uma década, serviu de palco ao lançamento do Finisterra, um dos vários programas de ataque aos problemas do litoral. Plano em cima de plano, a situação continua crítica neste e noutros pontos do país, e para o investigador, atirar areia para cima do problema, ou espalhá-la pela linha de costa para que o mar faça o trabalho de encher as praias, é uma solução que deve ser ponderada.
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Filipe Duarte Santos participou no segundo e último dia de trabalhos do seminário sobre Gestão da Orla Costeira, que esta sexta-feira terminou em Esposende, num hotel junto às famosas torres de Ofir e à praia que, há mais de uma década, serviu de palco ao lançamento do Finisterra, um dos vários programas de ataque aos problemas do litoral. Plano em cima de plano, a situação continua crítica neste e noutros pontos do país, e para o investigador, atirar areia para cima do problema, ou espalhá-la pela linha de costa para que o mar faça o trabalho de encher as praias, é uma solução que deve ser ponderada.
No âmbito do grupo de trabalho fizeram-se já alguns cálculos de necessidades financeiras para intervenções de reposição de areia na linha de costa, e, segundo Filipe Duarte Santos, os valores em causa podem chegar aos 221 milhões, até 2020, se se fizer uma primeira acção mais intensa nas zonas mais problemáticas. Até 2050, os custos poderão chegar, com estas operações de maior envergadura iniciais, aos 734 milhões de euros. A verba é enorme, mas o académico sublinha que, se se fizer uma projecção no tempo, os investimentos já previstos no Plano de Acção, Protecção e Valorização do Litoral 2012-2015 até são superiores.
O secretário de Estado do Ambiente, Paulo Lemos, que encerrou os trabalhos deste seminário, escusou-se a adiantar as conclusões do grupo de trabalho, mas assumiu que a linha de orientação que está a ser seguida pela equipa nomeada pelo ministro Jorge Moreira da Silva privilegia a questão do chamado “equilíbrio sedimentar”, ou seja, a reposição da deriva de sedimentos (areias), que deixou de acontecer na nossa costa, de norte para sul, com as barragens construídas nos rios e os portos e outras barreiras que, no mar, interrompem esse fluxo.
Aliás, Paulo Lemos lembrou que foi essa já a opção seguida nas acções de emergência de maior vulto levadas a cabo na sequência das tempestades do último Inverno. “Na praia da Barra colocamos, tal como na Caparica, um milhão de metros cúbicos de areia que estavam acumulados numa pilha enorme no porto de Aveiro - onde há mais três milhões que tencionamos usar. Fomos lá buscá-los e colocamos na costa. Há diversas maneiras de repor a deriva. É isso que os cientistas vão ter de estudar”, explicou aos jornalistas no final do seminário.
Presente neste seminário, o presidente da Câmara de Aveiro, concelho situado na zona mais vulnerável do país, disse esperar que o relatório não ponha de parte intervenções de engenharia pesada, para as situações mais críticas mas, em declarações ao PÚBLICO, Ribau Esteves exigiu principalmente que, no prazo de seis meses, o documento do GTL possa ser materializado num plano de acção e num plano de investimentos a longo prazo, que aponte, desde logo, às disponibilidades do próximo quadro comunitário.
Noutra intervenção, o especialista em engenharia hidráulica Veloso Gomes, criticou alguns mitos “colocados a circular na imprensa” após as tempestades deste ano, como a ideia de que a única maneira de defender a Costa é “construir mais quebramares” ou que “colocar areia nas praias é deitar fora dinheiro dos contribuintes”. Filipe Duarte Santos assumiu que é preciso ajudar a população a perceber a natureza do problema e a necessidade do investimento. Que não é tão elevado se virmos, por exemplo, o caso da Holânda, país que há duas décadas deixou de olhar para a defesa da costa como um problema de água, controlável por diques e esporões, para o ver como uma questão de equilíbrio sedimentar, precisamente.
Presente em Esposende, o consultor em gestão costeira Jan Mulder explicou que aquele país que tem 25% da sua área abaixo do nível do mar investe na manutenção do seu sistema dunar, alimentando ciclicamente a sua linha de costa com milhões de metros cúbicos de areia que vai buscar não muito longe, no Mar do Norte. Todo este trabalho custa 80 milhões de euros anuais - Portugal tem investido no litoral 8,5 milhões/ano, nos últimos vinte anos - mas “ninguém o contesta, porque se trata de defender o território”, frisou o holandês.