Dhlakama: “Não queremos chamar Presidente a alguém eleito por fraude”
Líder da Renamo defende governo de gestão em Moçambique até às eleições de 2019. E considera que há condições para que a calma se mantenha. “Claro que há. Senão já estaríamos a estragar tudo.”
Dhlakama afirma que não pode ser ele, que teve 36,61%, a constituir governo e defende um “meio termo” – um executivo de gestão, não de “unidade nacional”, para dirigir o país entre Fevereiro ou Março de 2015, data prevista para a posse, e as próximas eleições, em 2019.
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Dhlakama afirma que não pode ser ele, que teve 36,61%, a constituir governo e defende um “meio termo” – um executivo de gestão, não de “unidade nacional”, para dirigir o país entre Fevereiro ou Março de 2015, data prevista para a posse, e as próximas eleições, em 2019.
“Sei que quem ganha forma governo. Eu não ganhei, porque estragaram tudo. O Nyusi ganhou com fraude. Não queremos chamar Presidente a alguém eleito por fraude”, disse o líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana, antiga guerrilha), ao semanário Savana, na primeira entrevista após as eleições.
“Ele sabe que não ganhou eleições. Pesa-lhe a consciência. Aliás, mesmo o meu amigo [Armando] Guebuza [Presidente cessante] sabe que não será fácil que Nyusi seja chamado presidente. Tem de haver aqui uma negociação. Não exijo que seja apenas a Renamo, podem entrar outros partidos”, disse na entrevista, publicada nesta sexta-feira.
O líder da Renamo não reclama um lugar no hipotético executivo. “Eu, Afonso Dhlakama, quero aproveitar o Savana e declarar que não vou entrar nesse Governo.” Manifesta, sim, vontade de indicar nomes para pastas ministeriais concretas e de ver formalmente reconhecido o estatuto de líder da oposição. O dirigente moçambicano considera que a solução governativa que defende não põe em causa a democracia, cuja paternidade reivindica.
Chefe do principal partido da oposição – que entre 1976 e 1992 combateu o Governo de partido único da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder desde a independência) –, Dhlakama diz que está a fazer encontros partidários para “acalmar as emoções dos simpatizantes e a população, sobretudo do Centro e Norte, que queriam demonstrar o seu descontentamento com a fraude e dizer basta”. E considera que há condições para que a calma se mantenha no país. “Claro que há. Senão já estaríamos a estragar tudo.”
“Estou a conseguir”
Dhalakama – que, segundo Comissão Nacional de Eleições, numa decisão validada por dez votos contra sete, teve 36,61% dos votos nas presidenciais – considera que as eleições demonstraram que é ele o “líder mais votado” e que Nyusi “não conhece qual é a percentagem real dele”.
Mas admite dialogar “sem problemas” com o rival na corrida eleitoral que, no regime presidencialista moçambicano, deve chefiar o Governo. Manifesta igualmente disponibilidade para falar com chefe de Estado cessante. “Estou preparado para sentar com o presidente Guebuza, tomarmos café, falarmos e termos uma solução.”
O chefe da oposição não tem dúvidas de que o Conselho Constitucional (CC), para o qual o seu partido recorreu, “vai chumbar” o pedido de anular as eleições. “Já tem ordens para daqui a 40 dias chumbar o nosso recurso. Por isso o diálogo político é mais importante”, disse.
Nas legislativas que se realizaram em simultâneo, no dia 15 de Outubro, a Frelimo teve 55,97% e a Renamo 32,49%. Com estes resultados, o partido no poder vê a sua bancada parlamentar diminuir de 191 deputados para 144 e a Renamo passa de 51 para 89.
Dhlakama é confrontado com o facto de ter exigido paridade nos órgãos eleitorais e vir agora alegar fraude. “Foi por causa da paridade que foi possível apanhar as pessoas que cometeram a fraude. Se estivessem sozinhos, tudo seria [feito] secretamente”, respondeu. “Sabe que em 1999 eu ganhei as eleições com 69%. Todo o mundo sabe”, disse, noutra passagem da entrevista.
“Uma das coisas que eu vou dizer ao presidente Guebuza é que vou fazer guerra com o Conselho Constitucional”, diz também o chefe da Renamo, que reclama, por exemplo, a anulação dos resultados na província de Gaza, onde a Renamo fez uma boa campanha e a Frelimo elegeu todos os 14 deputados. “Vou dizer-lhe que, meus amigos, eu nunca vou considerar os mandatos de Gaza.”
Uma eventual candidatura presidencial em 2019 é um cenário que Dhlakama, 61 anos, veterano de cinco eleições, ainda não ponderou. “Não sei se me candidataria. É cedo de mais para responder a essa pergunta. Nem sei se vou chegar lá. Mesmo chegando, se calhar chegarei cansado. Há jovens no partido. Eu poderei me voluntariar para não ser candidato. Estou cansado em lutar pela democracia no meu país, mas ao mesmo tempo estou satisfeito porque estou a conseguir o que outros líderes africanos não conseguiram.”