O seu pai era negociante de cavalos e desde os nove anos que Ricardo tocava guitarra — sem saber ler uma única nota de música — influenciado pelo seu tio e pelo estilo do grande guitarrista jazz Django Reihardt, também cigano, com quem viria a ser comparado.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O seu pai era negociante de cavalos e desde os nove anos que Ricardo tocava guitarra — sem saber ler uma única nota de música — influenciado pelo seu tio e pelo estilo do grande guitarrista jazz Django Reihardt, também cigano, com quem viria a ser comparado.
O seu primeiro disco, porém, surgiria apenas nos anos 1960, década em que se tornou um músico conhecido mundialmente, actuando no Royal Albert Hall, em Londres (fá-lo-ia onze vezes ao longo da carreira) ou no Carnegie Hall, em Nova Iorque.
Nesse período, quando já lhe chamavam Manitas de Plata, actuava em esplanadas da Côte d’Azur e entrou no círculo de amigos do poeta Jean Cocteau, dos artistas plásticos Picasso e Salvador Dalí e da actriz Brigitte Bardot. Picasso aliás, em 1964, terá subido ao palco durante um concerto e dito: “A arte deste homem é superior à minha”.
Através do fotógrafo Lucien Soergue, que o recomendou a produtores norte-americanos, foi para Nova Iorque, triunfando no já citado Carnegie Hall, como recorda a AFP.
Morreu na ruína. Dizia ter duas paixões — a música e as mulheres. Tocava com paixão e sempre viveu o dia-a-dia sem preocupações com o futuro. Ao longo da sua vida vários foram os que dependeram monetariamente dele — mulheres, filhos, tios, sobrinhos... Confessou ter tido várias mulheres ilegítimas e não sabia quantos filhos tinha ao certo. Dizia ter tido entre 24 e 28 mas só reconheceu 13 (três deles integram os Gipsy Kings). Houve um tempo em que foi considerado o artista europeu mais conhecido no mundo, refere a AFP, deixando mais de 80 discos gravados e 93 milhões de álbuns vendidos em todo o mundo.
Brigitte Bardot homenageou-o esta quinta-feira em comunicado. Escreveu: “É uma grande tristeza para mim e uma grande perda para todos os meus irmãos ciganos. Manitas leva com ele toda a alegria de viver e a despreocupação da minha juventude”. Continuava, acrescentando que Manitas “recebeu o dom único de maravilhar pela força e rapidez da sua arte que inflamava o público, mantendo sempre uma grande simplicidade, cheia de uma nobreza inata. Tê-lo conhecido é uma honra, tê-lo perdido é uma infelicidade. Ficará para sempre inscrito no património mundial da Humanidade”.