Ataque contra uma escola de Donetsk prova que cessar-fogo na Ucrânia é cada vez mais frágil

Obus matou rapazes que jogavam à bola em Donetsk. Responsáveis ucranianos, russos e separatistas encontraram-se mas não houve resultados práticos.

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Vestígios de um dos últimos bombardeamentos em Donetsk ALEXANDER KHUDOTEPLY/AFP

O ataque ocorreu depois do almoço, explicou à BBC Rimma Fil, que dirige o fundo humanitário criado pelo multimilionário Rinat Akhmetov, que recuperou a escola, reaberta no ano passado. Os quatro feridos estão nos cuidados intensivos.

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O ataque ocorreu depois do almoço, explicou à BBC Rimma Fil, que dirige o fundo humanitário criado pelo multimilionário Rinat Akhmetov, que recuperou a escola, reaberta no ano passado. Os quatro feridos estão nos cuidados intensivos.

A escola fica perto do aeroporto, que tem sido palco dos mais acesos combates das últimas semanas. Um balanço das autoridades ucranianas, anterior ao ataque à escola, informou da morte de três pessoas, dois militares e um civil, e de ferimentos em 13, nas 24 horas anteriores.  

O episódio soma-se a sucessivas violações do cessar-fogo acordado a 5 de Setembro em Minsk, capital da Bielorrússia, que nunca significou uma total paragem de uma guerra que já fez mais de 4000 mortos, desde Abril.

As recriminações aumentaram na sequência das eleições realizadas no domingo pelos separatistas nas regiões de Donetsk e Lugansk – um escrutínio considerado uma farsa” pelo Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, e visto como um “novo obstáculo” à paz pela União Europeia.

Responsáveis ucranianos, russos e separatistas encontraram-se esta quarta-feira em Donetsk, para tentar salvar o frágil cessar-fogo, mas não houve progressos. O “nível de confiança” continua a ser “muito baixo”, disse à imprensa o chefe adjunto da missão de observação da OSCE (Organização para a Cooperação e Segurança na Europa), Alexander Hug. “O facto de as partes adversas discutirem uma com a outra é encorajador”, acrescentou, porém, citado pela AFP.

As eleições de domingo levaram a um endurecimento da política ucraniana para as regiões rebeldes. Poroshenko anunciou na terça-feira medidas de “isolamento” daquelas áreas e o envio de novas unidades militares para cidades como Mariupol e Kharhov, para fazer face ao “cenário pessimista” de ataques de separatistas apoiados por Moscovo.

Já esta quarta-feira, o Governo anunciou a interrupção do financiamento público a Donetsk e Lugansk, mas, ao contrário do que fora anteriormente admitido, não será cortado o gás nem a água, para evitar uma “catástrofe humanitária”, disse o primeiro-ministro, Arseni Iatseniuk.

As autoridades de Kiev anunciaram igualmente a intenção de revogarem a lei que prevê um “estatuto especial” para Donetsk e Lugansk, o que levou as autoproclamadas autoridades separatistas a acusarem o poder central de ter violado o cessar-fogo e de “causar grave prejuízo” ao processo de paz. A lei sobre o “estatuto especial” tem sido vista como um primeiro passo para uma autonomia.

O Presidente russo, Vladimir Putin, declarou-se preocupado com o facto de o cessar-fogo não tenha acabado com o que considera uma guerra civil. “Apesar dos acordos de Minsk, os ataques a cidades pacíficas continuam e ainda estão morrer civis”, afirmou, citado pela agência RIA.