Estamo vai vender antigo celeiro pombalino de Lisboa

Movimento cívico pede classificação do edifício da Alfândega, no Terreiro do Trigo, pelo menos como monumento de interesse público.

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Câmara de Lisboa

O imponente edifício, com três andares e cerca de 110 metros de comprimento por 30 de largura, foi construído entre 1765 e 1768 para guardar as toneladas de cereais que ali eram deixadas pelos barcos que cruzavam o estuário do Tejo. No anúncio da venda, a empresa destaca a localização deste imóvel, bem servida de transportes públicos, “numa zona mista entre comércio, serviços e habitação”, perto do local onde vai nascer o novo terminal de cruzeiros de Santa Apolónia.

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O imponente edifício, com três andares e cerca de 110 metros de comprimento por 30 de largura, foi construído entre 1765 e 1768 para guardar as toneladas de cereais que ali eram deixadas pelos barcos que cruzavam o estuário do Tejo. No anúncio da venda, a empresa destaca a localização deste imóvel, bem servida de transportes públicos, “numa zona mista entre comércio, serviços e habitação”, perto do local onde vai nascer o novo terminal de cruzeiros de Santa Apolónia.

Pela “importância arquitectónica e histórica indiscutível” do edifício, os membros do movimento cívico Fórum CidadaniaLx consideram “incompreensível” que este esteja ainda por classificar, “no mínimo como Monumento de Interesse Público”.

Numa carta dirigida ao presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, e ao director-geral do Património Cultural, Nuno Vassallo e Silva, os membros do Fórum apelam “para que façam justiça” a este que é “um dos maiores edifícios de génese pombalina” da capital. Os signatários defendem a rápida classificação do imóvel, considerando que “será relativamente fácil reunir a memória descritiva” para elaborar a proposta.

Segundo a informação disponível no site Monumentos, do Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, o edifício apenas está parcialmente incluído na Zona de Protecção do Castelo de São Jorge e dos restos das cercas de Lisboa. Por isso, o comprador tem liberdade para fazer as alterações que entender.

O antigo Celeiro Público foi destinado para Alfândega pelo Marquês de Pombal e funcionou como tal até ao Estado Novo, quando foi transformado no chamado Palácio das Finanças. Mais recentemente foram ali instalados, além da Direcção-Geral de Contencioso e Controlo Aduaneiro de Lisboa, outros serviços da Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo. Segundo fonte do Ministério das Finanças, estes serviços, que são arrendatários do espaço, e os respectivos trabalhadores continuaram nas instalações. "Os edifícios serão vendidos mantendo os contratos de arrendamento", refere o ministério.

Segundo a descrição da Estamo, no piso de entrada existe uma zona central com luz natural. “Os espaços interiores são nos três pisos abobadados, à excepção de um conjunto de salas no piso 2 onde está instalada a Biblioteca [onde está depositado um acervo de cerca de 200 documentos com interesse histórico, sobretudo manuscritos de registos aduaneiros antigos, desde 1519, procedentes dos arquivos das várias alfândegas do país] e o Museu e com um pé direito próximo dos seis metros”, diz a empresa. Nas paredes dos corredores dos pisos superiores, há lambris de azulejos setecentistas com desenhos de cenas de descarga, medição, armazenagem e despacho do trigo.

"Os acabamentos interiores são correntes com reboco pintado nas paredes e tectos abobadados, pavimentos em madeira e linóleo nas salas de trabalho e em linóleo nos corredores, sendo os revestimentos nos átrios em pedra, assim como as escadas", lê-se no anúncio da imobiliária. O edifício tem uma área bruta de construção de quase 10 mil metros quadrados.

A Estamo comprou este espaço ao Estado em 2010 por 6,7 milhões de euros. O anúncio da venda não refere qualquer valor de referência para este imóvel, nem para os restantes oito "prédios de escritórios com rendimento" que estão no mesmo pacote.