Slogan nazi “o trabalho liberta” roubado do portão de Dachau

Ladrões ainda por identificar furtaram uma porta de ferro com a cínica inscrição “o trabalho liberta” da entrada do antigo campo de concentração de Dachau, o primeiro a ser construído pelo regime nazi.

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As autoridades alemãs não têm ainda quaisquer suspeitos, mas acreditam que os autores do furto terão usado um veículo para transportar a porta, que mede 1,95m de altura e 95cm de largura e que teve de ser primeiro retirada do portão a que pertence. Como noutras entradas de campos de concentração nazis, a cínica divisa “Arbeit macht frei” está escrita em letras de ferro fundido.

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As autoridades alemãs não têm ainda quaisquer suspeitos, mas acreditam que os autores do furto terão usado um veículo para transportar a porta, que mede 1,95m de altura e 95cm de largura e que teve de ser primeiro retirada do portão a que pertence. Como noutras entradas de campos de concentração nazis, a cínica divisa “Arbeit macht frei” está escrita em letras de ferro fundido.

Um roubo semelhante já ocorrera em 2009 no campo de Auschwitz I, na Polónia, onde uma placa de ferro de cinco metros de comprimento com a mesma inscrição (feita por prisioneiros com experiência em metalurgia) foi desaparafusada do portão de entrada e cortada em vários pedaços para caber no carros dos assaltantes. O roubo foi executado por polacos, mas encomendado por um sueco com ligações à extrema-direita, que veio a ser condenado a três anos de prisão.

Dachau é hoje um memorial e a sua directora, Gabriele Hammermann, mostrou-se consternada com este roubo, lembrando que os detidos viam esta inscrição todos os dias e que ela é “o símbolo central do sofrimento dos prisioneiros” deste campo de concentração, o primeiro a ser construído pelos nazis. Também o presidente da Fundação dos Lugares de Memória Bávaros, o deputado conservador Karl Freller, lamentou este "acto ignóbil".

Instalado numa antiga fábrica de munições, o campo de Dachau começou a funcionar no dia 22 de Março de 1933, duas semanas após o golpe nazi que depôs o governo bávaro. Foi o futuro líder das SS e ministro do Interior do III Reich, Heinrich Himmler, então chefe da polícia de Munique, quem escolheu o local e supervisionou a construção do campo, que só se concluiria em 1938 – a porta agora roubada foi instalada em 1936 –, após vastas obras de alargamento asseguradas pelos próprios detidos.

Inicialmente utilizado para encarcerar os opositores políticos do então ainda recente regime nazi, Dachau foi usado como campo de treino para os guardas das SS e modelo para a posterior rede de campos de concentração e de extermínio. Recebeu mais de 200 mil prisioneiros vindos de cerca de 30 países, estimando-se que nele tenham morrido mais de 40 mil pessoas. O campo chegou a possuir uma câmara de gás, mas crê-se que não terá sido usada.

Quando as tropas dos Estados Unidos libertaram Dachau, a 29 de Abril de 1945, encontraram centenas de cadáveres empilhados junto a um comboio, alguns já em estado avançado de decomposição – corpos de prisioneiros que tinham sido transferidos à pressa do campo de Buchenwald e que morreram durante a viagem – e mais de 30 mil detidos. A visão terá chocado de tal modo os soldados americanos que, durante alguns minutos, e antes de que o tenente da companhia conseguisse restabelecer a ordem, executaram 50 membros das SS.

A frase “Arbeit macht frei”, que a propaganda nazi usava para trivializar os campos de concentração, sugerindo que se destinavam à reeducação por trabalho forçado, tem origem no título de um romance do filólogo Lorenz Diefenbach, precisamente intitulado Arbeit macht frei e publicado em 1873. Mas os nazis limitaram-se, ironicamente, a herdar um slogan da República de Weimar, desviando-o do seu propósito original. Quando o governo de Weimar adoptou e publicitou a frase, esta destinava-se a exaltar o investimento num vasto programa de obras públicas que fora lançado para combater o desemprego.