Países europeus vêem eleições em Donetsk e Lugansk como "novo obstáculo" à paz
Rússia considera que separatistas têm agora “autoridade suficiente" para dialogar com o Governo de Kiev e bloqueou declaração do Conselho de Segurança. Putin ainda não falou.
Alexander Zakharchenko, 38 anos, designado chefe do governo da república de Donetsk, foi eleito “presidente” com 77,51% dos votos. Em Lugansk, Igor Plotnitski, 50, que já ocupava a presidência, obteve mais de 63%, segundo as autoproclamadas autoridades locais.
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Alexander Zakharchenko, 38 anos, designado chefe do governo da república de Donetsk, foi eleito “presidente” com 77,51% dos votos. Em Lugansk, Igor Plotnitski, 50, que já ocupava a presidência, obteve mais de 63%, segundo as autoproclamadas autoridades locais.
A Rússia considera que, com as votações de domingo, em que foram também eleitos parlamentos, os separatistas têm agora “autoridade suficiente para estabelecer um diálogo alargado e durável” com o Governo de Kiev, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Grigori Karassine, numa declaração à agência Tass.
Num comentário às votações, o Governo alemão apelou às autoridades russas para respeitarem “a unidade da Ucrânia” e não excluiu a eventualidade de novas sanções contra Moscovo. Os escrutínios “agravam a crise”, disse o porta-voz, Steffen Seibert.
A reacção alemã foi em linha com a posição anteriormente assumida pela chefe da política externa europeia. Federica Mogherini declarou que as votações foram “ilegais e ilegítimas” e são “um novo obstáculo no caminho para a paz”. As votações tinham já sido consideradas uma “farsa” pelo Presidente ucraniano, Petro Porosenko.
Iuri Sergeiev, embaixador da Ucrânia das Nações Unidas, disse entretanto que a Rússia se opôs à intenção dos restantes membros do Conselho de Segurança de aprovarem uma declaração a condenar as eleições.
Até à tarde desta segunda-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, não tinha comentado as votações. Poderá fazê-lo esta terça-feira, quando, na Praça Vermelha, em Moscovo, participar numa cerimónia do Dia da Unidade Nacional.
Ainda que a reacção do vice-ministro Karassine seja uma “validação” russa das eleições em Donetsk e Lugansk, a Reuters destaca que não se trata de um reconhecimento formal, que deixaria pouca margem de manobra a Poroshenko. Os líderes europeus têm-se desdobrado em apelos a Putin para que não o faça. O Presidente francês, François Hollande, insistiu esta segunda-feira nessa mensagem, que tem repetido, tal como outros dirigentes, incluindo a chanceler alemã, Angela Merkel.
Ucrânia teme ofensiva
A agência noticiosa admite que na sequência das eleições na Ucrânia de há uma semana, que reforçaram as forças políticas pró-ocidentais, Poroshenko possa ser pressionado a adoptar uma posição mais dura do que a seguida por Kiev desde o final de Agosto e que levou a um acordo de cessar-fogo com os rebeldes, em Setembro.
Na sua declaração, Karassine disse que as autoridades ucranianas devem “renunciar às operações militares”. Com uma leitura diferente da situação no terreno, o Governo de Kiev denunciou – tal como fizera já no domingo – uma “intensa” movimentação de equipamentos e tropas russas nas zonas controladas pelos rebeldes.
Fonte diplomática ucraniana citada pela AFP disse que a grande preocupação em Kiev é que seja desencadeada, com apoio russo, uma ofensiva para criar um corredor terrestre até à Crimeia, prevenindo o risco de perturbação – pelas tempestades de Inverno – do acesso marítimo da Rússia à península anexada em Março por Moscovo.
Seis meses após o início do conflito, mais de 4000 pessoas morreram já no Leste da Ucrânia. Apesar do cessar-fogo de Setembro, que apenas levou a uma diminuição de intensidade dos combates, foram mortas desde então centenas de pessoas. Os rebeldes controlam metade da região de Donetsk e uma pequena parte da região de Lugansk. Tal como o Governo de Kiev, os países ocidentais acusam Moscovo de apoiar militarmente os separatistas. Somada à anexação da Crimeia por Moscovo, em Março, a rebelião levou as relações entre a Rússia e o Ocidente à sua fase mais crítica desde a Guerra Fria.