Sara Moreira deu em Nova Iorque um promissor tiro de partida na maratona

Atleta portuguesa chegou ao pódio na sua estreia na distância, um dia depois do primeiro aniversário do filho. Terminou a prova com uma marca de excelente nível, que abre portas a um novo recorde nacional.

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A prova foi influenciada pelo forte vento que se fez sentir, lateral ao desenrolar da corrida, e por outros dois factores: a dificuldade do percurso e a ausência de lebres, tudo a contribuir para que as marcas finais não tivessem a dimensão que alcançariam noutra ocasião.

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A prova foi influenciada pelo forte vento que se fez sentir, lateral ao desenrolar da corrida, e por outros dois factores: a dificuldade do percurso e a ausência de lebres, tudo a contribuir para que as marcas finais não tivessem a dimensão que alcançariam noutra ocasião.

Após o tiro de partida, dado meia hora antes de arrancarem os atletas masculinos, Sara Moreira ficou sempre no grupo da frente. Passou aos 10km em 35m01s e à meia-maratona em 1h12m07s — e muitas vezes liderou. Pareceu mesmo estar a arriscar demasiado, mas sabia ao que vinha. A certa altura, acreditou-se mesmo que poderia aproximar-se do velho recorde nacional da maratona, que Rosa Mota estabeleceu em 1985, em Chicago, com 2h23m29s.

Após várias escaramuças, só aos 30km a atleta de Santo Tirso começou a descolar um pouco do sexteto que então se formara na frente. Recuperou por duas vezes, mas quando foi desferido o ataque decisivo por parte de duas quenianas, Mary Keitany, a antiga recordista da meia-maratona, e Jemima Sumgong, já não conseguiu acompanhá-las. Porém, a verdade é que ficou isolada no terceiro lugar e tentou com realismo defendê-lo.

A veterana Jelena Prokopcuka, letã de 38 anos de idade que passou muitas temporadas em Portugal, entretanto reaproximou-se um pouco, mas Sara preservou a preciosa posição que permitiu evitar um pódio todo queniano, já que Keitany (2h25m07s) se impôs a Sumgong por três segundos, após longa luta no Central Park.

“Apesar de acreditar que estava muito bem preparada – e foi isso que fez toda a diferença –, apesar de um ‘top 10’ ou ‘top 8’ ser possível, o pódio nunca passou pela minha cabeça e estou muito satisfeita por isso”, reconheceria mais tarde Sara Moreira, em declarações à SIC Notícias.

No lapso de um ano, a vida de Sara deu grandes voltas. Foi mãe, regressou em bom plano e, não tendo nos Europeus de Agosto, em Zurique, conseguido chegar às medalhas (ao contrário do que havia feito nas duas edições anteriores do certame), decidiu orientar-se para a maratona. E a estreia foi assinalada com um tremendo sucesso, especialmente se tivermos em conta que a marca deste domingo, num percurso como o de Berlim, Roterdão ou mesmo Londres, valeria decerto o recorde nacional.

“[A forma como festejei no final da prova] deve-se a um esforço muito grande nos últimos dois meses, ao facto de ter abdicado do aniversário do meu filho, que fez ontem um ano, e de poder estar aqui e correr bem e dedicar-lhe este resultado”, sentenciou a atleta de 29 anos, que reconhece ter atravessado “uma fase difícil” na corrida, aos 30km. “No pódio, só acreditei mesmo nos últimos 2km, quando me apercebo que estou em terceiro e que, à partida, já não iria ser alcançada por nenhuma atleta”.

Ana Dulce Félix, por seu lado, atrasou-se cedo, mas não se rendeu sem lutar contra uma hipotética solução de desistência e acabou por ficar no 12.º lugar. Ainda chegou a ser décima, mas foi passada na parte final por duas americanas, incluindo Deena Kastor, a recordista nacional, para se ficar pelas 2h35m33s.
Nas contas finais da prova feminina, Prokopcuka acabou em quarta, com 2h26m15s, e em quinta ficou a melhor norte-americana do dia, Desiree Linden, com 2h28m11s.

Kipsang dominador
A corrida masculina também teve um longo duelo no Central Park entre o queniano Wilson Kipsang e o etíope Lelisa Desisa. Após estudo mútuo, ataques e conta-ataques, Kipsang fugiu para a vitória, com 2h10m59s, contra 2h11m06s do rival (o terceiro classificado foi outro etíope, Gebremariam). Obter o primeiro lugar era vital para Kipsang ganhar o circuito das Marathon Majors e, com a sua confirmação, o queniano embolsou os 500 mil dólares do prémio, a que terá juntado outros 300 mil pela vitória na prova e bónus por tempos. Um belo domingo de trabalho para o ex-recordista mundial.