Exército do Burkina Faso apoia coronel para liderar transição

Chefe do Estado-Maior, que tinha assumido rédeas após a demissão do Presidente Blaise Compaoré, perdeu batalha pelo poder.

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Isaac Zida convidou todos os partidos para negociar o processo de transição Issouf Sanogo/AFP

A batalha pelo poder dentro do Exército começou a desenhar-se pouco depois de Compaoré ter anunciado a demissão do cargo que ocupava desde 1987. “Assumo a partir de hoje as responsabilidade de líder desta transição e chefe de Estado”, afirmou, sexta-feira à noite, o coronel Zida, considerando “caducado” um anúncio quase idêntico feito horas antes pelo general Nabéré Honoré Traoré, o chefe militar que precipitou a queda de Compaoré ao anunciar, na véspera, a dissolução do Parlamento face à convulsão que tomou conta da capital, Ougadougou.

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A batalha pelo poder dentro do Exército começou a desenhar-se pouco depois de Compaoré ter anunciado a demissão do cargo que ocupava desde 1987. “Assumo a partir de hoje as responsabilidade de líder desta transição e chefe de Estado”, afirmou, sexta-feira à noite, o coronel Zida, considerando “caducado” um anúncio quase idêntico feito horas antes pelo general Nabéré Honoré Traoré, o chefe militar que precipitou a queda de Compaoré ao anunciar, na véspera, a dissolução do Parlamento face à convulsão que tomou conta da capital, Ougadougou.

As manifestações foram convocadas contra a alteração à Constituição que Compaoré tinha apresentado para se poder candidatar a um quinto mandato, mas rapidamente escalaram – o Parlamento, edifícios públicos e residências de ministros foram pilhadas e incendiadas. O militares entraram em cena, o que levou à resignação do Presidente.

A Constituição prevê que o cargo seja ocupado pelo líder da Assembleia Nacional e que novas eleições sejam realizadas no prazo de três meses, mas Traoré decidiu que seria ele a liderar o processo de transição. Os manifestantes nas ruas não esconderam o seu desagrado, por considerarem o general uma figura demasiado próxima do Presidente demissionário, e não tardou até um grupo de jovens oficiais contestarem a autoridade de Traoré.

Zida, chefe de um dos regimentos da Guarda Presidencial (a unidade mais bem treinada e armada do Exército do Burkina Faso) foi à rádio anunciar um novo recolher obrigatório e o encerramento das fronteiras aéreas e terrestres, prometendo que sob a sua liderança seria acordado “um regresso rápido” à ordem Constitucional.

Após horas de incerteza, os dois militares reuniram-se neste sábado na capital e, pouco depois, as chefias militares anunciavam a sua escolha. “O tenente-coronel Isaac Zida foi escolhido por unanimidade para liderar o período de transição aberto pela partida do Presidente Compaoré”, adianta um comunicado do Estado-Maior, assinado, entre outros, pelo próprio general Traoré.

O texto é pouco claro sobre os planos dos militares, dizendo apenas que a “forma e a duração” do período de transição será decidido mais tarde, em “concertação” com os partidos políticos e representantes da sociedade civil. Não é, no entanto, garantido que estes apoiem Zida. Representantes da oposição e de grupos de cidadãos reuniram-se neste sábado na capital e, no final, exigiram uma “transição democrática e civil”. “A vitória da insurreição popular pertence ao povo”, pelo que o processo agora aberto “não poderá em caso algum ser confiscada pelo Exército”, adianta um comunicado conjunto divulgado no final da reuniião.

Após um dia de rumores, a presidência da Costa do Marfim anunciou que Compaoré, acompanhado pela família, chegou sexta-feira a Yamoussoukro, a capital do país, tendo ficado alojado na residência oficial destinada a hóspedes estrangeiros. Durante os seus últimos anos de poder, Compaoré manteve boas relações com o actual chefe de Estado marfinense Alassane Ouattara, a quem apoiou quando ele ainda liderava a oposição ao antigo Presidente Laurent Gbagbo.