"A Casa Deles" também é "arquitectura ingénua" da vida portuguesa

Este pequeno livro desdobrável revela um conjunto de fotos de várias casas do bairro piscatório de Silvalde, Espinho

Fotogaleria

A ideia começou a desabrochar quando a arquitecta portuguesa Mariana Pestana estava a fazer uma caminhada por um pequeno bairro durante uma visita espontânea. Os padrões que compunham as casas, que lhe eram até então desconhecidos, chamaram-lhe a atenção.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A ideia começou a desabrochar quando a arquitecta portuguesa Mariana Pestana estava a fazer uma caminhada por um pequeno bairro durante uma visita espontânea. Os padrões que compunham as casas, que lhe eram até então desconhecidos, chamaram-lhe a atenção.

Silvalde é uma freguesia no sul de Espinho. Nos seus limites encontra-se um pequeno bairro piscatório desconhecido para muitos, mas que já foi referido num texto do autor Ramalho Ortigão, "As Praias de Portugal", em 1876.

A arquitecta começou a visitar este local mais vezes. Após um registo fotográfico, Mariana juntou-se ao cineasta Pedro Lino e ao Professor Álvaro Domingues num pequeno projecto. Assim, este grupo criou o pequeno livro, intitulado “A Casa Deles” (“Their House”, título em inglês).

Foto
Pedro Lino

Este pequeno livro desdobrável tem 13 x 90 cm e apresenta um conjunto de imagens dessas casinhas. “A ideia do desdobrável tem a ver com uma referência aos postais, que usualmente mostram edifícios que representam cidades ou culturas. Estes postais mostram edifícios que normalmente ficam à margem das representações dominantes”, explicou Mariana ao P3.

Foto
Pedro Lino

Pedro e Mariana mais tarde entraram e contacto com a ex-jornalista Catarina Portas (fundadora das lojas A Vida Portuguesa). A empresária mostrou-se receptiva ao projecto, estando os seus livros neste momento à venda nas suas lojas.

As casas que compõem as imagens têm um padrão que se repete de casa para casa, padrão esse que consiste num diálogo entre elementos tradicionais e outros caracterizados como sendo “massificados, urbanos, anónimos”. Ainda assim todas as casas são distintas umas das outras: algumas têm inclusive um santo à sua porta. 

"Arquitectura ingénua"

Mariana vê a composição destas casas como sendo um tipo de “arquitectura ingénua” que “entra naquilo que é o imaginário da vida portuguesa”.

O autor do texto que acompanha as imagens é Álvaro Domingues, geógrafo, professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. Muitas das suas publicações debatem temas tais como a geografia urbana, o urbanismo e a paisagem.

A Vida Portuguesa trata-se de uma loja que está intimamente ligada à revitalização de marcas tradicionais portuguesas. Surgiu pela primeira vez com o nome Uma Casa Portuguesa em Dezembro de 2004, renascendo em Maio de 2007 com o seu nome actual. Tem lojas em várias localidades e entre alguns dos seus produtos estão, os sabonetes da Confiança, as andorinhas da Bordalo Pinheiro, os lápis da Viarco, os cadernos das marcas Emílio Braga, entre outras marcas.

Mariana Pestana é arquitecta de profissão, estando actualmente a residir em Londres, onde costuma desenvolver actividades debruçadas sobre as áreas de arquitectura e curadoria/editorial. É a fundadora do grupo The Decorators que se dedicam a desenvolver diversos projectos de Arte Pública. Foi curadoras da Trienal de Arquitectura de Lisboa 2013, com a exposição “A Realidade e Outras Ficçoes” e foi uma das participantes na representação portuguesa na Bienal de Arquitectura de Veneza 2014.

Pedro Lino é cineasta também residente em Londres. De acordo com o seu site, muito do seu trabalho está “enriazado no desejo de explorar mundos singulares e imperfeitos”. Muitos dos seus filmes de animação e documentário, foram exibidos e premiados em vários festivais. Além de filmes foi também autor de várias capas de discos para a editora discográfica Bor Land.