Tiago Rodrigues é o novo director do D. Maria II e Miguel Honrado preside à administração

SEC não reconduz João Mota e convida Tiago Rodrigues para o cargo. Honrado abandona empresa que gere equipamentos culturais de Lisboa.

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Tiago Rodrigues só entrará em funções em Dezembro

Em comunicado, a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) anunciou ainda que Miguel Honrado, desde 2007 presidente da EGEAC, a empresa que gere os equipamentos culturais da Câmara de Lisboa, será o novo presidente do conselho de admnistração do mesmo teatro, substituindo assim Carlos Vargas.

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Em comunicado, a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) anunciou ainda que Miguel Honrado, desde 2007 presidente da EGEAC, a empresa que gere os equipamentos culturais da Câmara de Lisboa, será o novo presidente do conselho de admnistração do mesmo teatro, substituindo assim Carlos Vargas.

Miguel Honrado, que volta ao D. Maria, onde em 1994 desenvolveu a programação internacional na área do teatro, no âmbito de Lisboa 94 – Capital Cultural da Europa, ficará em funções na empresa camarária até Janeiro, segundo Rita Castel-Branco, directora de comunicação da EGEAC. Contactado pelo PÚBLICO, Miguel Honrado não quis para já prestar declarações.

Tiago Rodrigues, nascido em 1977, é actor, dramaturgo, produtor, encenador e ainda director artístico do Mundo Perfeito, estrutura que criou em 2003 com Magda Bizarro. É com esta companhia que tem vindo a desenvolver o seu trabalho, tendo apresentado cerca de três dezenas de espectáculos.

“É uma honra muito grande suceder a João Mota, que é um artista por quem tenho uma grande admiração e amizade”, reage ao PÚBLICO Tiago Rodrigues, mostrando-se muito “entusiasmado” com o convite que recebeu com “especial carinho” por se tratar do D. Maria II. “É um teatro de missão, compreendida na lei e que é muito clara, cabe-me agora interpretar essa missão”, diz, explicando ter pela frente “muitas frentes de combate”.

Com Tiago Rodrigues no D. Maria haverá espaço para a dramaturgia portuguesa, mas também para a universal, para a educação e para a formação de públicos. “É para continuar o trabalho de um teatro que está em muito bom estado”, prossegue, garantindo que a actual programação, anunciada por João Mota em Setembro, “será cumprida e subscrita” por si.

Quando apresentou a programação para a temporada de 2014/2015, João Mota confessou até já ter projectos para a rentrée de 2015 – se se confirmasse a sua recondução na direcção artística do D. Maria II. O seu contrato termina a meados de Novembro, pelo que Tiago Rodrigues só deverá entrar em funções em Dezembro. Os dois já falaram, conta Tiago Rodrigues, explicando que ainda trabalhará com Mota até ao final do ano para compreender o trabalho que vinha a desenvolver no teatro. Em Janeiro, assumirá as funções em pleno.

João Mota foi convidado em Novembro de 2011 pelo então secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas, depois de este ter decidido não reconduzir Diogo Infante como director artístico. Na altura, Diogo Infante cancelou a programação devido aos cortes financeiros – Tiago Rodrigues chegou a manifestar-se publicamente a favor de Infante.

Sabe que tem um “grande desafio” pela frente, mas garante que trabalhará na leitura de um teatro de missão com base naquele que tem sido o seu trabalho até aqui. “O primeiro passo a dar será reflectir, imaginar e dialogar”, diz, afirmando-se “cheio de energia para fazer das tripas coração”. Tiago Rodrigues não quer que o D. Maria II seja apenas o espelho da criação artística nacional: “Quero que seja o motor da criação artística.”

Apesar de não ter experiência na direcção de um teatro, Tiago Rodrigues é um nome conhecido no meio. Como actor, esteve recentemente no São Luiz, em Lisboa, e no Teatro Carlos Alberto, no Porto, com Albertine, O Continente Celeste, peça de Gonçalo Waddington que protagonizou ao lado de Carla Maciel.

Como encenador, o agora novo director artístico do D. Maria II apresentou no âmbito do Alkantara Festival, em Lisboa, Bovary, espectáculo que está em digressão. O Mundo Perfeito tem, aliás, mais sete peças em digressão, entre as quais estão o espectáculo de 2012, Três Dedos abaixo do Joelho, e By Heart, peça do ano passado.

Uma carreira preenchida e diversificada que passa também pela escrita para jornais, pela participação em importantes festivais europeus e por colaborações com o colectivo teatral belga Tg Stan, com que trabalha desde 1998, ou a escola de dança contemporânea PARTS, de Bruxelas, dirigida por Anne Teresa de Keersmaeker, uma das maiores coreógrafas da actualidade.

Para Mark Deputter, director artístico do Teatro Municipal Maria Matos, “esta é a escolha acertada em décadas”. “Já há cerca de dois anos que penso no Tiago Rodrigues como uma opção, fico muito contente que tenha acontecido agora, é uma óptima escolha, faz todo o sentido”, diz. “O Tiago é um encenador que já demonstrou não só que tem um trabalho que é muito relevante, como tem um alcance de público muito alargado, não é um nome menor comparativamente com os outros directores do D. Maria”, explica o belga, recentemente reconduzido na direcção artística do Maria Matos. Para Deputter, o encenador terá agora de “encontrar o seu próprio estilo, o seu próprio caminho”. “É bom que se tenha escolhido alguém no auge da sua carreira e que tem força de trabalho, capaz de fazer mexer as coisas, nestes tempos difíceis para a cultura, precisamos disso.”

Tiago Rodrigues mostrou o seu apoio a António Costa nas primárias do PS, em Julho, vendo no presidente da Câmara de Lisboa “a pessoa certa para criar e liderar um projecto político que seja uma alternativa que ofereça ao país uma democracia onde a cultura tenha um papel absolutamente fundamental".

Notícia alterada às 20h29: retirada frase anterior à que refere o seu apoio a António Costa.