O ministro no seu labirinto

Nuno Crato “fez despertar a esperança em muitas escolas”. Hoje é um dos menos populares do Executivo. Porquê?

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No último Natal, Nuno Crato distribuiu pelos colaboradores do seu gabinete uma prenda: uma folha A4, dobrada como se fosse um cartão de Natal, onde não falta a imagem de uma pilha de livros em forma de pinheiro. Lá dentro, “10 ideias para mudar a educação”, o título de um artigo que escreveu em 2009 para um jornal. “Centrar o ensino nas matérias fundamentais, Português, Matemática, História...” e “recrutar os novos professores com base num exame de entrada na profissão” são apenas dois dos pontos da lista — que, na verdade, não é mais do que a síntese da cartilha que durante anos defendeu publicamente. Mas, depois de ter distribuído os seus votos de boas festas, a vida complicou-se. Este ano lectivo arrancou caótico, faltaram professores nas escolas, milhares de alunos somaram furos nos horários, teve de pedir desculpa no Parlamento pelos transtornos causados às famílias. Multiplicaram-se os que pediram a sua demissão. Contudo, sentado à cabeceira de uma comprida mesa de reuniões, no seu gabinete, num 13.º andar da Av. 5 de Outubro, em Lisboa, é ainda a essa folha dobrada que ofereceu ao staff há quase um ano que Nuno Crato se agarra.

Ofereceu-a à Revista 2, também, no final de uma entrevista, há menos de duas semanas, quando muitos alunos continuavam sem aulas, para desespero dos pais. Antes, leu em voz alta, rapidamente, os diferentes pontos. E disse, com um sorriso, que cumpriu a lista quase toda.

Vai continuar até ao fim do mandato? “Não vejo porque não.”

Foi dois dias antes de perder o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, João Grancho — que se demitiu depois de uma notícia do PÚBLICO que contava como plagiara excertos de textos de diferentes autores para uma comunicação feita havia vários anos, num seminário, em Espanha. Nessa conversa, Crato negou o que, por estes dias, se tem lido em vários blogues e jornais — que depois dos erros nas colocações de professores, em Setembro, terá deixado de falar com o secretário de Estado da Administração Educativa, João Casanova de Almeida (CDS-PP), o responsável político directo pelo processo. “Não acredite em tudo o que lê. Somos uma equipa, continuamos a ser.”

Não esconde, contudo, que o ministério que “quase deveria ser implodido”, em nome da autonomia das escolas, como chegou a defender meses antes de chegar a ministro, o local onde era preciso “abrir as janelas para deixar sair as más influências”, como dizia numa entrevista em 2008, o ultrapassou. “Fui confrontado com erros que não estava à espera que existissem”, diz a propósito da crise dos concursos de professores.

Há qualquer coisa de ligeiramente kafkiano na descrição do ministro: “A máquina é tão grande que não sabemos exactamente como é que o programador faz o programa, como é que o director de serviço traduz a legislação, como é que o director-geral nos informa. Ou seja, há uma série de etapas que é impossível controlar. Temos de dar orientações gerais, responsabilizar as pessoas, mas a máquina é grande, de facto, e tem de ser, até certo ponto, mas é muito difícil, para não dizer impossível, controlar os pormenores todos.”

O facto de um dos “pormenores” que marcaram as últimas semanas ter sido um erro no algoritmo a partir do qual se fez a ordenação dos milhares professores que concorreram a centenas de escolas foi especialmente difícil de digerir para um... matemático. “Precisamos perceber como é que foi possível um erro deste tipo, não se ser informado de uma série de opções que estavam a ser tomadas, e a partir daí tomar as medidas necessárias.”

Os amigos elogiam-lhe, contudo, a “resiliência” e é essa a imagem que se tem esforçado por manter — com o mesmo sorriso que mostra quando agarra a folha dobrada com “as 10 ideias” e diz que não há razões para abandonar o 13.º andar da 5 de Outubro.

Mas a contestação começou muito antes destes erros. As palavras de Carlos Fiolhais, físico, um dos cientistas mais conhecidos no país, são o espelho do desapontamento. “Ele não se soube rodear de pessoas competentes nem soube controlar uma máquina devoradora de ministros. O Nuno Crato cientista, divulgador e historiador de ciência é muito, muito melhor do que este ministro, que acaba destruído pela máquina que ele queria implodir”, escreve num testemunho enviado à Revista 2.

Nos últimos dias, contactámos ex-colegas, ex-alunos, amigos, parceiros e adversários de Nuno Crato. Esta é a história de um professor que, até 2010, quase nunca usava fato — “não sei se alguma vez o vi de gravata”, recorda João Duque, ex-presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), a cujos quadros pertence Crato —, que chegou ao Ministério da Educação e Ciência como um independente de grande prestígio académico.

A sua nomeação “fez despertar a esperança em muitas escolas”, diz Paulo Guinote, professor, autor de um dos mais conhecidos blogues no sector, A Educação do Meu Umbigo. Três anos depois, Crato é dos mais impopulares do Governo.

Nuno Paulo de Sousa Arrobas Crato nasceu em Lisboa, em 1952. É casado e tem dois filhos, um rapaz e uma rapariga, de 27 e 23 anos.

O pai era professor de Matemática e costumava receber em casa muitos “amigos antifascistas”, como José Cardoso Pires e Manuel da Fonseca. Foi neste caldo que cresceu.

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Nuno Crato estudou em casa no último ano de liceu. Com 20 anos, era um jovem radical no Portugal pequeno e fechado dos anos 70 cortesia nuno crato

A primeira imagem que o actual presidente do Tribunal de Contas (TdC) tem dele é do dia do exame de admissão ao Liceu Pedro Nunes, em 1962. Nuno era um menino louro “com caracóis”, recorda Guilherme d’Oliveira Martins. “A primeira coisa que tínhamos de fazer era desenho à vista” e todos estavam um pouco nervosos por não saber o que seria pedido.

Frequentaram depois o Clube de Física, que tinha como figura tutelar Rómulo de Carvalho: “Um dia, Nuno Crato levou consigo um livro de poemas de António Gedeão [pseudónimo de Rómulo de Carvalho]. Dirigiu-se ao professor e pediu-lhe um autógrafo. E Rómulo de Carvalho disse-lhe: ‘Não sei o que pretende, eu não sou o António Gedeão. Mas deixe aí o livro, pode ser que eu o encontre.’ Passados uns dias, no recreio, chamou Nuno Crato. E disse-lhe: ‘Por acaso, encontrei o António Gedeão’.” O livro foi-lhe devolvido autografado.

Muitos anos depois (2006), Crato coordenaria uma compilação de alguns textos pedagógicos do “professor-poeta”. E escreveria na introdução: “Rómulo de Carvalho tinha consciência do papel determinante do professor e da necessidade de este conduzir o estudante. Essa ideia — completamente contrária à posterior moda do ‘ensino centrado no aluno’ — é uma das mais fortes em todos os escritos pedagógicos e em toda a actuação deste grande pedagogo.” A crítica ao “ensino centrado no aluno” foi — e é — uma das recorrências de Crato. Também está na lista do Natal passado.

Regresso ao liceu: era animador de rádio nos intervalos e animador de muitas discussões, recorda Oliveira Martins. Ao longo dos anos, desenvolveram alguma “cumplicidade”, apesar de terem simpatias políticas distintas. Crato aderiu ao MAEESL (Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa), “como outros amigos meus”, conta o presidente do TdC. Depois, abraçou o activismo maoísta. E acabaria na União Democrática Popular (UDP), nascida em 1974, resultado da união de três grupos marxistas-leninistas. Já Oliveira Martins seria, em 1975, um dos fundadores da Juventude Social Democrata. O PS viria mais tarde.

Ana Gomes, 60 anos, eurodeputada, tinha um “enorme fascínio” pelo jovem do MAEESL. “Era uma pessoa afirmativa”, com “estofo de líder”. Era também alguém que estava profundamente concentrado na sua missão política, que dispensava “os prazeres mais simples da vida”, como ir à praia, lembra António Costa Pinto, 61 anos, politólogo, investigador e professor universitário.

“Para além de que era um jovem muito culto, acima da média dos estudantes dessa altura. Era todo ligado às matemáticas e às ciências, mas também tinha o lado humanista”, prossegue Ana Gomes.

Conheceu-o, se a memória não lhe falha, numa reunião no Instituto Superior Técnico. E durante cerca de um ano foram “amigos próximos”. Às vezes iam à ópera. Depois afastaram-se. Até que voltaram a reencontrar-se, nos Estados Unidos, quando ele já tinha uma carreira académica e ela uma carreira diplomática. “Conheci a mulher, os filhos, ele já falava das coisas da educação”, apesar de a sua área ser Matemática e Estatística.

Mais do que o passado nos movimentos maoístas do ex-colega, Oliveira Martins destaca a experiência de ter sido aluno do Liceu Pedro Nunes como algo que terá deixado marcas profundas no hoje ministro: “Como liceu Normal que era, havia ali um grau de exigência muito alto. Acho que essa experiência de exigência e rigor o marcou profundamente.”

Claro que os tempos eram diferentes, faz questão de sublinhar. Quem chegava ao liceu era, essencialmente, uma classe privilegiada. A massificação do ensino viria vários anos depois. E Crato muito haveria de escrever sobre aquilo que considerou ser a forma desastrosa como sucessivos governos lidaram com ela — entre 1995 e 1999, Oliveira Martins ocupou o cargo de secretário de Estado da Administração Educativa, era Marçal Grilo ministro, e até 2000 foi ele próprio ministro da Educação. Não se sentiu atacado. Agora, sobre o mandato do colega à frente dos destinos da Educação, não fala.

No último ano do liceu, 1969, os pais de Crato optaram por mantê-lo em casa, para garantir que não se dispersava. “Estudei particularmente e fiz os exames de liceu — quem tivesse mais do que 14 ficava dispensado de fazer os de admissão à universidade e foi o que se passou comigo”, lembra o ministro. Ressalva que nunca foi “um marrão — ainda se usa esta palavra?” Era “um aluno normal”.

Um “aluno normal” que deixou mesmo os estudos para trás, durante uns anos, apesar da tentativa de intervenção dos pais. Inscreveu-se em Física, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, teve uma passagem rápida pelo Técnico, mas só se licenciaria bem mais tarde, em Economia, em 1980/81, no ISEG. A política falava mais alto. “Quando conheci o Crato, no Pedro Nunes, ele já era um controleiro da União de Estudantes Comunistas (Marxistas Leninistas). Eu era activista do MAEESL e estou a caminho de ser recrutado para a União de Estudantes Comunistas (Marxistas Leninistas)”, diz António Costa Pinto.

“Tinha uma grande capacidade de trabalho, que manteve ao longo de toda a sua primeira fase da vida política — porque esta que ele vive agora é a segunda fase”, continua. “É um erro as pessoas acharem que ele é uma pessoa que vinha do meio universitário e que, de repente, chegou ao mundo da política, como independente, sem experiência. Pelo contrário. Ele teve uma grande experiência, só que de outro tipo.”

Crato não se alonga em pormenores do passado, mas explica: “Vivíamos um tempo que é muito difícil imaginar hoje para quem não o viveu. As pessoas que tinham alguma consciência política e que não eram apoiantes do regime sentiam-se vigiadas.” Isso marcou-o tanto que, já nos Estados Unidos, daria consigo a surpreender-se com alguns comportamentos que mantinha: um dia encontrou um colega checo na rua, e antes de começarem a conversar deram meia volta, os dois, “como um par coordenado”, recorda. “‘Também tens este velho hábito’, disse-me ele. Antigamente, quando dois portugueses se encontravam na rua, davam meia volta para ver se alguém estava à volta, antes de começarem a falar. E o meu colega da Checoslováquia teve a mesma experiência, ao ter vivido num regime ditatorial, naquele caso comunista. Como é que uma pessoa 30 anos depois tem os mesmos gestos?” Fica impregnado.

Nos anos 60 e 70 do século passado, Portugal era pequeno e fechado, prossegue. “E só havia duas formas de nos informarmos sobre a situação política no mundo: uma era ler os jornais oficiais e ficar com uma versão muito deturpada; outra era ir ler a imprensa proibida e os livros proibidos, onde havia uma predominância, pelo menos eu acho que havia, do marxismo. O que estava disponível era o marxismo.” Ao Churchill, por exemplo, ninguém ligava.

Com o 25 de Abril, deu-se uma explosão dos movimentos mais radicais — especialmente apelativos para os jovens. E Crato era um jovem radical.

Em 1976, nasceu a União dos Estudantes pela Democracia Popular (UEDP), ligada à UDP. Foi o primeiro secretário. “Percorremos o país nessa altura”, diz José Manuel Fernandes, ex-director do PÚBLICO, actual publisher do Observador, também ele, então, membro da UEDP. “Crato tinha um Mini, mas para as viagens mais longas íamos no carro do pai, um Fiat 124.” Fazer Lisboa-Porto em quatro horas, como faziam, significava, naquela altura, pôr o pé a fundo no acelerador.

Em Lisboa, muitas das reuniões aconteciam “na casa do Nuno, perto da Estefânia” e acabavam de madrugada, continua. “O Nuno já era casado, tinha um emprego onde devia ir todos os dias, mas a casa estava sempre à nossa disposição (...), tornou-se tão conhecida dos militantes que quase era preciso reservar sala para as reuniões, acabando muitas vezes por nos reunirmos na mesa da cozinha. Também era muito solicitada por militantes de fora que a utilizavam para passar a noite”, escreveu Fernandes no livro Era Uma Vez Uma Revolução (ed. Alêtheia).

Já nesse tempo, diz, Crato tinha uma enorme biblioteca. Era e é um leitor quase compulsivo. A casa onde vive hoje, em Oeiras, também tem as paredes cheias de livros. “E agora tenho um Kindle cheio de livros”, acrescenta o ministro. “Quer saber o que estou a ler? Conversación en La Catedral, de Vargas Llosa”, uma história que aborda a ditadura de Manuel Odría, no Peru. “Estou nos 72%... no Kindle há uma barra que diz em que percentagem se está.” Nas viagens de avião, explica, consegue ler uns 4% ou 5%. Desde que é ministro não consegue ler percentagens muito maiores do que isso de uma só vez.

Descrito por alguns dos que com ele lidaram como um “funcionário político até perto do final dos anos 70”, um dirigente de bastidores, que planeava e organizava, enquanto outros se dedicavam às acções de massas, Crato explica o que fez entre 1970 e 1979: “Fui funcionário público do Ministério das Corporações e Previdência Social, depois Ministério dos Assuntos Sociais (uns quatro ou cinco anos). Fui jornalista free-lancer, fui monitor da cadeira de Matemática no ISE (actual ISEG).” Como quem diz que a sua vida não era só a militância.

Passou pelo jornal A Voz do Povo — criado em 74, pela UDP —, onde fazia de tudo um pouco, de entrevistas a comentários. Na Voz estavam Henrique Monteiro, José Manuel Fernandes, João Carlos Espada, muitos outros. Mais tarde, escreveu um manual de jornalismo para alunos do ensino secundário, em dois volumes.

O entusiasmo revolucionário acabou por esmorecer. Não sabe avaliar se houve um momento decisivo. Um turning point, como se costuma dizer. “Passei dos movimentos utópicos e, ao mesmo tempo, de ambições totalitárias, para um movimento democrático moderno. E acabei por me afastar por completo. Porque eu estava nesses movimentos políticos não por nenhum gosto especial em ser activista político, mas por um sentido de obrigação. Após a transição, 1977, mais ou menos, eu naturalmente percebi que não era um político, que não era uma pessoa que quisesse fazer da política a minha vida.”

No início dos anos 1980 começou a trabalhar para a Norma-Açores (viveu no arquipélago uns tempos), onde exerceu as funções de director de estudos e consultor de planeamento e previsão económica. Em 1987, fez o mestrado em Matemática. E uma conferência de Marcel Neuts, no Técnico, mudou-lhe a vida porque, no final, foi falar com o matemático e ele faz-lhe a pergunta decisiva: “Por que é que não faz o doutoramento nos Estados Unidos?”

Candidatou-se. Foi aceite. Partiu com a família, mulher e filho. Desenvolveu uma grande admiração pela sociedade americana. A política ficara arrumada. Em 1992, doutorou-se em Matemática Aplicada na Universidade de Delaware. Tinha 40 anos. A mulher também se doutorou aí — é especialista em Educação.

Foi professor e investigador no Stevens Institute of Technology, em New Jersey. Apaixonado pela astronomia e pela divulgação científica, em geral, começou a escrever regularmente para o Expresso sobre esses temas — em 2001, publicaria Zodíaco, Constelações e Mitos (ed. Gradiva), onde adaptava alguns dos textos publicados no semanário português. Em 2004, escreveu, para a mesma editora, com outros dois autores, Trânsito de Vénus — À Procura da Escala Exacta do Sistema Solar, que vinha acompanhado de um par de óculos para assistir ao trânsito de Vénus de 8 de Junho de 2004. São só dois exemplos da lista de mais de uma dezena de obras, que assina ou coordena, que constam do catálogo da Biblioteca Nacional.

Em 2003, a Sociedade Europeia de Matemática distinguiu-o com o primeiro prémio do concurso Public Awareness of Mathematics.

Até que decidiu voltar a Portugal. Foi depois de um Inverno rigoroso. “No fim de Abril, ainda havia meio metro de neve à porta da minha casa. Eu estava farto da neve. Sinceramente. O clima dos EUA, sobretudo na zona de Nova Iorque, é horrível. Enfim, há pouco estávamos a falar de turning points e se calhar esse nevão... Depois, eu e a minha mulher queríamos voltar, por ser o nosso país, e se os nossos filhos não viessem na altura jamais viriam...”

Voltou, portanto, em 2000, ao Departamento de Matemática do ISEG. “Os EUA marcam-no profundamente”, analisa António Costa Pinto. “Crato sofre um processo global de americanização. Começa a exprimir valores mais conservadores, mas afasta-se do debate mais politizado.”

Em 2004, assumiu a presidência da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), numa altura em que no sistema educativo português os alunos só se sujeitavam a exame quando chegavam ao 12.º ano. Considerava isso terrível. Defendia mais exames, mais rigorosos. Fazia questão de fazer campanha por isso. Outras das marcas que deixou na SPM foi o centro de formação de professores — ou não criticasse ele, frequentemente, a qualidade de muita formação contínua que se fazia.

Revelava então uma característica que Costa Pinto encontra nalguns ex-maoístas — “Ficam relativamente ideológicos para o resto da vida. Independentemente de mudarem politicamente.” O politólogo refere-se especificamente à “batalha do ‘eduquês’, que é o passaporte para Crato ficar um especialista em educação, coisa que não era”.

De repente, é como se “o eduquês fosse o capitalismo de outros tempos”, ironiza. “Há uma dimensão obsessiva, monocórdica...”

O ‘Eduquês’ em Discurso Directo, Uma Crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista é o mais conhecido dos livros de Crato. É de 2006 a primeira edição da Gradiva. Logo no preâmbulo, lembra de onde vem a palavra que marca o título, “um nome castiço e feliz que o então ministro Marçal Grilo usou para classificar essa fala esotérica” de “muitos teóricos da pedagogia”.

Algumas ideias das 130 páginas de livro: é preciso “centrar forças nos aspectos essenciais do ensino, ou seja, na formação científica de professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento, da disciplina e do esforço”. Mais: a memorização não tem de ser diabolizada.

Ana Benavente (PS), secretária de Estado da Educação de Marçal Grilo, encarnava, para Crato, o “eduquês”. E não era poupada: “O novo plano nacional da Matemática refere como trave-mestra o ‘Currículo Nacional do Ensino Básico: Competências Essenciais’, um documento implementado em 2001 pela anterior equipa do Ministério da Educação, dirigida por Ana Benavente, onde se consubstancia precisamente toda a doutrina que liquidou a educação em Portugal”, dizia Crato numa entrevista, por essa altura.

Nunca se cruzaram em nenhum evento, nunca comunicaram um com outro — “nunca tive vontade de lhe responder”, diz a ex-secretária de Estado. “Conheci-o como comentador, a ridicularizar o que em Portugal se vinha fazendo na Educação, a ridicularizar a escola democrática que combatia a exclusão, adoptando aquela pose de quem encarna o rigor, a exigência, do alto da sua ciência exacta, como se houvesse alguma. Valia-se daqueles sound bytes em que toda a comunicação social pegava.”

Ana Benavente nunca se impressionou. Considera que Crato recorreu ao “populismo fácil” quando falava de Educação e que, com isso, ganhou simpatia. Como? Dizia mal da escola que existia, com argumentos com os quais muitas pessoas, de esquerda e direita, se identificavam — que decorar os nomes dos rios e a tabuada faz falta, por exemplo. “Sempre me afastei dos movimentos maoístas por causa do radicalismo ignorante que os marcava”, atira.

Para a ex-governante, o que Crato fez como ministro foi “reconstruir a escola do passado”. “Destruiu todas as áreas transversais e toda a interdisciplinaridade”, eliminando cadeiras como a Educação Cívica. “Deixou de se falar de competências e de artes — a direita não gosta de ouvir falar de artes na escola.”

O ministro repudia as críticas. “Não é escola do passado. É uma escola mais moderna! Olhe para o que se passa nos países mais avançados do mundo, em Singapura, nos EUA, em Inglaterra. Olhe para as recomendações da OCDE e elas vão todas neste sentido: dar atenção às disciplinas fundamentais, haver avaliação externa, poder haver transdisciplinaridade mas sem esquecer aquilo que é essencial. Disse isto muitas vezes e vou dizer outra vez: não se pode pedir a um jovem que tenha uma participação cívica activa se ele tem dificuldades em ler e escrever e em se exprimir.”

Ana Benavente insiste: Crato foi “um tsunami” na Educação e tem ainda “a responsabilidade de começar a destruição do desenvolvimento científico, que tinha sido lento e esforçado e que começava a dar resultados”. Refere-se à avaliação das unidades de investigação, encomendada pela primeira vez à Fundação Europeia de Ciência. O processo determinou que cerca de metade das unidades não passassem à segunda fase, o que significa que vão ficar à míngua para despesas correntes nos próximos anos.

“Para mim, esta metamorfose do Nuno, para ministro que consente, por exemplo, a diminuição da excelência na Matemática (permitindo a condenação de centros excelentes, entre os quais o dele próprio) e ignora o valor da cultura científica, foi absolutamente surpreendente”, diz Carlos Fiolhais, a quem Crato chegou a agradecer no prefácio de um dos seus livros “a amizade constante”. “Não sei por que é que essa mudança aconteceu e só posso conjecturar: os meandros que desconheço da política, as imposições da troika, os interesses mais ou menos escondidos ou os novos ‘amigos’ que sempre se fazem quando se está no poder. Sei lá eu.”

Miguel Abreu, professor do Técnico, foi vice-presidente da SPM, a convite de Crato. Reconhece que à sua volta, no meio académico, há “bastante desilusão” em relação ao ex-colega, de quem é amigo. Os cortes nos orçamentos das universidades também não ajudaram.

Acha contudo que ele lida bem com este desapontamento. “Não está contente, mas vai em frente.” Como muitos dos que com ele se cruzaram na vida-antes-do-Governo, fala da “capacidade de trabalho” de Crato, da “organização” e da convicção: “Nunca achei que fosse arrogante, no sentido depreciativo do termo. Mas tem ideias claras e não se inibe de as expressar e de contrariar pessoas que tenham outras ideias.”

Uma ex-aluna de doutoramento, Ana Diniz, destaca-lhe o rigor — quando lhe mandava os escritos para a tese, “ele lia mesmo, anotava, fazia sugestões, era um orientador um bocadinho à antiga”. Mas não só. “Nos artigos científicos que publicámos em conjunto, nunca exigiu que o nome dele aparecesse em primeiro lugar, o que não é muito comum.”

O ex-colega João Duque acrescenta outra qualidade à lista: “a inteligência” — “Ele está num percentil elevadíssimo, tem interesse pela Física, pelas Ciências Sociais, pela astronomia...”

“É natural que uma pessoa assim se aborreça com rotinas” e “a gestão é feita de rotinas”, nota. Diz isto para contar como, em 2010, ficou de “boca de aberta” quando soube que o colega, com quem muitos anos antes partilhara a cadeira de Matemática Aplicada II, iria assumir a presidência da comissão executiva do Taguspark, a convite de Isaltino Morais, então presidente da Câmara de Oeiras, da Universidade Técnica de Lisboa, de que era pró-reitor havia anos, e do Instituto Superior Técnico. “Depois falei com ele e lá percebi: era um cargo de gestão, mas ele aceitou porque achava que ia fazer daquilo um pólo de ciência, uma coisa boa, gira, como não havia em Portugal.”

Quando, alguns meses mais tarde, ouviu dizer que ia para ministro, já não ficou tão admirado.

Continuam a conversar. “Há uma escassez enorme de recursos. Às vezes, ele pede-me opinião: ‘Olha, conheces alguém que possa ter perfil para isto ou para aquilo, para ajudar a pensar este ou aquele tema?’ Ele queixa-se um bocado. Aquilo é um lugar isolado. Sobre o problema dos concursos, ainda não conversámos, disse-lhe só: ‘Estás metido num bom sarilho!’”

Em 2009, Crato participou no Fórum Portugal de Verdade, organizado pela direcção do PSD. Os livros, as crónicas no Expresso, as entrevistas, o programa de televisão Plano Inclinado, na SIC Notícias, com João Duque e Medina Carreira, trouxeram-lhe crescente notoriedade. Em 2010, foi para o Taguspark. Em Junho de 2011, tomou posse como ministro.

No final de 2012, o balanço dos parceiros educativos era este: Crato era, essencialmente, um gestor de cortes orçamentais. A sua imagem, contudo, não estava desgastada, apesar de algumas polémicas, como a tentativa de alterar as regras dos exames do secundário a meio do jogo.

Em 2013, já não foi bem assim. O ano em que Crato enviou para o Ministério Público o processo da licenciatura do colega de Governo Miguel Relvas, por causa das dúvidas levantadas à forma como ela fora obtida, anos antes, foi bem mais desgastante. No primeiro dia de exames nacionais do secundário, a 17 de Junho, uma greve geral de docentes — a Federação Nacional de Professores (Fenprof), afecta à CGTP, exigia a garantia de que não haveria professores na mobilidade especial. Em Novembro, a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC), sem a qual os professores contratados não poderiam ser colocados em nenhuma escola, estava no centro de outra guerra — os sindicatos recusavam qualquer tipo de teste.

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Manifestação de professores contratados junto ao Ministério da Educação, em Lisboa, em Novembro de 2013. Protestavam contra a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades miguel manso

Com a Federação Nacional de Educação (FNE), afecta à UGT, Crato acabou por chegar a acordo. E isentou os professores com cinco ou mais anos de serviço do exame que sempre defendera. A segunda parte da prova (que se destinava a testar os conhecimentos específicos de cada grupo disciplinar) acabou por não ser marcada — entre boicotes e disputas jurídicas, não houve tempo.

Já a “pasta” da avaliação do desempenho dos professores — herdada do anterior Governo — foi resolvida “à pressa”, nas palavras de Paulo Guinote. “A avaliação do desempenho docente sobrevive numa espécie de limbo, sem qualquer tipo de qualidade. A avaliação ‘externa’ (nos escalões em que é obrigatório existirem aulas assistidas) é feita entre professores de escolas vizinhas, sem que os avaliadores tenham especiais requisitos ou competências confirmadas, excepto terem aceite sê-lo em outras alturas. Quando é apenas interna, reduziu-se a uma burocracia rotineira com os vícios que antes se apontavam à falta de avaliação.”

Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, é o eterno crítico de Crato, a quem tem acusado, entre outras coisas, de defender “a elitização do ensino” e de desinvestir na escola pública para beneficiar a privada — “O cheque-ensino [que permitiria às famílias receber dinheiro do Estado para escolherem livremente entre ensino público e privado] não avançou porque não há dinheiro, mesmo assim, ele quis aprovar aquilo [em Conselho de Ministros], foi simbólico, ‘não se faz agora, faz-se no futuro’.”

Mas para além das ideias, nalguns pontos inconciliáveis, há um problema de método, na visão dos sindicatos. Crato tem estado demasiado afastado, dizem. Na reunião de apresentação, logo no início do mandato, “disse que aquilo era um megaministério, os secretários de Estado (o do Ensino Básico e Secundário, o da Administração Escolar, o do Ensino Superior, a da Ciência) eram os ministros e ele era um coordenador de ministros”, relata Nogueira. Resultado: “As negociações não são com ele.” O negociador tem sido João Casanova de Almeida.

O ministro liderou, recorda João Dias da Silva, secretário-geral da FNE, as reuniões sobre a PACC. Mas a maioria das outras matérias delegou. E isso não é “muito normal”. Os outros ministros apareciam pelo menos nas rectas finais.

Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, queixa-se também de pouco contacto com o governante: em tempo de “cortes brutais” no orçamento, “devia haver maior envolvimento de todos”. Para 2015, a despesa desce 704 milhões — Crato já veio dizer que “não se podem fazer as contas assim” e que o corte real rondará os 200 milhões. Os pais questionam, ainda assim: cortar mais onde?

“Sei que há quem diga que ele se enquadra na actual forma de estar e governar, mas eu quero (ainda) acreditar que ele seria capaz de fazer melhor”, diz Paulo Guinote. O “aparente desconhecimento de matérias da governação em Educação” e “a ausência de um grupo de pessoas que o apoiasse em momentos de maior dificuldade com a devida competência” dificultaram-lhe a vida.

“Mas Crato não é só uma vítima, é responsável, deu condições ao monstro para ele continuar a actuar”, acrescenta Ana Gomes. “Tenho imensa pena.”

Guilherme Valente, editor de Crato, e Santana Castilho, professor, colunista do PÚBLICO, observam os passos do ministro, atentamente, há muito tempo. Estão, por assim dizer, em lados distintos da barricada. O primeiro é amigo de Crato e diz que as suas próprias ideias se misturam com as dele, de tão próximas que são. O segundo é o homem a quem Passos Coelho chegou a convidar para fazer um programa para a Educação. “O que acabou por ser seguido não tem uma linha minha.”

O editor da Gradiva considera que Crato foi “o melhor ministro da Educação desde o 25 de Abril”. “Depois de Roberto Carneiro (com um projecto generoso, na altura promissor, mas que se revelou utópico), foi o único que entrou no ministério com um programa pensado, fundamentado, coerente e lúcido.”

Já Santana Castilho diz que Crato é “o coveiro da escola pública, um delapidador irresponsável daquilo que de positivo se fez pela Educação em 40 anos de democracia, um simplório econometrista que julga que tudo resolve, medindo, pesando e examinando”.

Guilherme Valente enaltece a revisão curricular, introduzida pelo ministro e “a mais que lucidíssima e justíssima, corajosíssima ideia da selecção no recrutamento dos professores”. Tudo isto enfrentando bloqueios como “o labirinto legislativo” que existe na Educação, ou os directores das escolas, “que se tornaram agentes políticos”.

Santana Castilho, por seu lado, acha que Crato “é o pai de uma autonomia para as escolas envenenada por normas, disposições, critérios e limites”, que é responsável “pelo maior despedimento colectivo de professores de sempre” e pela “paranóia das metas curriculares” — só “duas áreas do currículo do ensino básico, Português e Matemática, têm 177 objectivos e 703 descritores”.

Guilherme Valente diz que se fosse Crato todos os secretários de Estado teriam sido escolhidos por si. Isto, “independentemente do mérito das pessoas que lhe foram sugeridas (e de quem nunca o ouvi queixar-se)”. Sobre a última crise, a dos concursos, afirma, contudo: “Parece-me que estão a usar este ministro, a fazer-lhe a cama, com algum objectivo seguramente. Se o ministro errou, errou por não ter varrido as chefias do ministério.”

Não confrontámos Crato com tudo o que ouvimos por estes dias, mas perguntámos-lhe se partilha das desconfianças do seu editor, de que alguém no ministério agiu para o prejudicar? “Espero que não”, responde. E passa à frente: o director-geral da Administração Educativa demitiu-se e foi substituído; a nova direcção-geral vai sofrer uma reformulação; a investigação sobre o que realmente se terá passado prossegue.

As suas rotinas ministeriais mantêm-se: reúne-se uma vez por semana com os secretários de Estado, trabalha mais de manhã do que à noite, sente falta de tempo para debater mais com os que o rodeiam. “Todos nós sentimos falta de tempo.”

Na altura em que fala à Revista 2, a prioridade, diz, é só uma: garantir que todos os professores chegam às escolas e que os alunos recuperam as aulas perdidas.

Perguntámos-lhe o que tem perdido, entre polémicas e erros. O apoio de Passos Coelho não, aparentemente — “Acertei quando o escolhi”, disse o primeiro-ministro nesta semana, durante a inauguração de um centro escolar. À porta, ouviam-se os apupos de um grupo de manifestantes.

Mas perdeu, por exemplo, o anonimato, “um bem precioso”, nas suas palavras. “Entrar num restaurante e ser conhecido por toda a gente é um bocadinho.... Mas nunca houve propriamente hostilidade, nunca me aconteceu.”

Apesar de sublinhar que o seu lugar “está sempre à disposição”, está concentrado no arranque do próximo ano lectivo. E em repensar o que tem de mudar no concurso da Bolsa de Contratação de Escola (que se destina a permitir que cerca de 300 agrupamentos escolares situados em territórios de intervenção prioritária, com necessidades especiais, ou com contratos de autonomia, possam ter uma palavra a dizer no perfil dos docentes que precisam de contratar).

Diz que não vai desistir do que acha essencial: “Não queremos recuar nisto de dar um papel a estas escolas na escolha do professor. Agora, o procedimento pode ter de sofrer ajustes, para ser mais claro, mais simples, mais directo, tudo isso. ”

Perguntámos-lhe se não acha que as mais de mil páginas de subcritérios que existem, por grupo disciplinar, em cada escola, os tais que permitem escolher o perfil dos docentes, não são o cúmulo do “eduquês” — é pedido aos candidatos, por exemplo, que digam que “experiência profissional com incidência sobre a execução de actividades referentes ao posto de trabalho e grau de complexidade do mesmo” têm. Responde: “É uma coisa que teremos de analisar no fim deste processo, se foram os melhores ou não.”

Perguntámos-lhe ainda se um modelo em que um professor pode ficar colocado em 70 escolas não cria necessariamente problemas. “Imagine um engenheiro que concorre a duas empresas, ele não tem o direito de receber propostas das duas empresas?” Se todo o processo estiver terminado no arranque do ano lectivo, não haverá problemas, acredita.

David Justino, presidente do Conselho Nacional de Educação, ex-ministro da Educação (PSD), aponta um problema de base: até ao ano passado estas escolas contratavam os professores directamente. “Mas os sindicatos, que querem é uma colocação centralizada, denunciaram quatro ou cinco casos de abusos, a comunicação social ampliou e o ministério recuou. Este ano, os subcritérios foram tratados centralizadamente, o que resultou numa complexificação tal do procedimento que deu nisto.” E quanto maior a complexidade, maiores os riscos, avisa.

Crato concede: “Temos de fazer mais no que diz respeito à autonomia e descentralização, deveríamos ir muito mais longe do que aquilo que fomos.”

Seja como for, orgulha-se das “mudanças curriculares que foram feitas; de dar centralidade às disciplinas fundamentais e de, nessas, estar o Português, a Matemática, o Inglês, as Ciências; de ter criado metas curriculares que dão mais liberdade ao professor e, de, ao mesmo tempo, se traçarem objectivos; de ter sido criado um instituto autónomo de avaliação, que tem um conselho geral onde estão representantes de várias entidades, de...” Não precisa de olhar para a lista do Natal.

Há quem não encontre razões para estar feliz. João Dias da Silva diz que os cortes orçamentais, por exemplo, ou fim de programas como o Novas Oportunidades, “sem que nada tenha sido criado para o substituir”, ou os mega-agrupamentos, que concentraram milhares de alunos, “vão deixar profundas marcas muito negativas nos próximos anos”.

Carlos Fiolhais lamenta: “Tentei no início ajudar no que me foi pedido (reuni uma equipa para repensar as metas e programas de Ciências Físico-Químicas), mas, no último ano, verifiquei que o ministro se tinha isolado, só ouvia as pessoas mais próximas.”

Por isso, o cientista deixa um desejo: “Espero que, não podendo concretizar as melhorias na Educação e na Ciência que tinha em vista, o ministro volte rapidamente às suas origens. Seria excelente que o Nuno Crato pudesse voltar a escrever livros como A Matemática das Coisas, a olhar para as estrelas com um telescópio, a conviver com os amigos da cultura científica e da história das ciências, como tanto gostava de fazer. Tenho saudades do Nuno.”