Os reféns ocidentais do Estado Islâmico são espancados, afogados, torturados durante semanas
Antes de serem mortos perante uma câmara de filmar, muitos dos reféns foram torturados. Os jihadistas ainda têm dois americanos, um homem e uma mulher, e um britânico em seu poder.
O primeiro a ser executado em frente a uma câmara foi o norte-americano James Foley. Quando foi levado, em Novembro de 2012, de um café de Internet quando se preparava para sair da Síria para a fronteira turca, junto com o fotojornalista britânico John Cantlie, ainda não havia “Estado Islâmico” (EI).
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O primeiro a ser executado em frente a uma câmara foi o norte-americano James Foley. Quando foi levado, em Novembro de 2012, de um café de Internet quando se preparava para sair da Síria para a fronteira turca, junto com o fotojornalista britânico John Cantlie, ainda não havia “Estado Islâmico” (EI).
Os prisioneiros nestes primeiros tempos não pareciam ter utilidade para os grupos que os raptaram – na altura era a frente al-Nusra, que se dizia leal à Al-Qaeda, depois foram uma série de outros grupos concorrentes entre si. As agressões pareciam ser gratuitas, motivadas pela hostilidade dos jihadistas face aos países de origem dos reféns. Os extremistas que os guardavam pareciam usar vocabulário tipicamente inglês.
Estes passaram-nos depois para outro grupo, liderado por combatentes estrangeiros que falavam francês. Foram estes que também tinham cativos os jornalistas franceses Nicolas Hénin e Pierre Torres numa prisão em Alepo. Hénin relatou ter sido torturado por Mehdi Nemmouche, quando a foto deste apareceu publicada nos jornais depois de ter sido detido em França por ser o principal suspeito do ataque ao Museu Judaico de Bruxelas, que fez quatro mortos, em Maio.
Na altura em que foram raptados Hénin e Torres (Junho de 2013), vários grupos estavam a fazer reféns, numa competição por influência e território na Síria. Em Setembro, foram raptados três espanhóis. Em Janeiro seguinte, foram levados cinco trabalhadores dos Médicos Sem Fronteiras.
Os reféns, num cada vez maior e mais diverso grupo – chegaram a ser 19 homens e quatro mulheres – foram juntos, e ficaram em mãos de pessoas que tinham uma ideia para eles: conseguir financiamento através de resgates.
Os captores não tiveram, entretanto, dificuldade em ver quem tinha ligações ao exército americano ou britânico: num caso estava no currículo no LinkedIn do jornalista, noutro em reportagens da BBC sobre um trabalhador humanitário. Bastava googlar o nome do refém. Foley não tinha passado militar na Internet, mas foi penalizado graças a fotos com militares americanos no Afeganistão.
Os que tinham ligações ao exército foram sujeitos ao tratamento mais duro, ficavam dias a comer o equivalente a uma chávena de chá de comida, eram deixados no escuro sem qualquer fonte de luz, a tortura era mais frequente. Os reféns que escaparam contam como ver alguém chegar à cela com sangue ou nódoas negras era o melhor que podia acontecer. “Quando não havia sangue era porque o que tinha acontecido era muito pior”, contou um ao New York Times.
Um dia, os captores tiraram os reféns das celas, um a um, para lhes fazer perguntas pessoais – perguntas que servem para fazer prova da vida do refém a alguém de fora. Quando Foley ouviu as questões – “Quem chorou no casamento do teu irmão? Quem era o capitão da tua equipa de futebol do liceu?” – chorou: sabia que finalmente, mais de um ano após ter sido raptado, os captores estavam em contacto com a sua família. E estes sabiam, finalmente, que estava vivo.
No entanto, as coisas começaram a mudar. Os espanhóis, franceses e italianos passavam cada vez mais tempo a responder a perguntas. Os americanos e britânicos e um russo cada vez menos.
Foley teve sempre esperança de que o seu Governo o iria salvar. Mas os EUA, tal como o Reino Unido, não negoceia resgates, argumentando que isto só dará incentivos a mais raptos, e que o dinheiro será usado para ataques contra mais americanos (ou britânicos). Ainda houve uma operação militar de resgate, mas dias antes os reféns tinham mudado de sítio.
Em Agosto de 2014, quando foi levado para fora da cela, com um fato cor de laranja, Foley não saberia se se tratava de mais uma sessão de tortura ou execução encenada. Outros reféns que estiveram com ele dizem que nunca perdeu a esperança.
Outros três reféns foram mortos em gravações semelhantes: o jornalista americano Steven Sotloff, o taxista britânico Alan Henning, o trabalhador humanitário britânico David Haines. O refém russo Sergei Gorbunov foi morto antes, para mostrar aos outros reféns o que lhes aconteceria se os seus governos não pagassem. O EI tem ainda três reféns em seu poder: dois americanos, um homem e uma mulher, e o britânico que foi raptado ao mesmo tempo que Foley.