Último debate eleitoral no Brasil ainda dominado pelo tema da corrupção
Os dois candidatos à presidência do país, Dilma Rousseff e Aécio Neves, enfrentaram-se pela última vez antes da votação, na TV Globo.
Logo na sua primeira intervenção, o candidato do PSDB exigiu que a Presidente esclarecesse os factos apontados por uma reportagem da revista Veja, publicada na sexta-feira, segundo a qual tanto Dilma Rousseff como o seu antecessor, Lula da Silva, “sabiam tudo” sobre o esquema de desvio de dinheiro da Petrobras para o pagamento de favores e campanhas a políticos do PT e partidos da base aliada.
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Logo na sua primeira intervenção, o candidato do PSDB exigiu que a Presidente esclarecesse os factos apontados por uma reportagem da revista Veja, publicada na sexta-feira, segundo a qual tanto Dilma Rousseff como o seu antecessor, Lula da Silva, “sabiam tudo” sobre o esquema de desvio de dinheiro da Petrobras para o pagamento de favores e campanhas a políticos do PT e partidos da base aliada.
Dilma negou a notícia e atirou-se à Veja, que acusou de fazer uma “oposição sistemática” ao Governo do PT e de ter tentado um “golpe sujo eleitoral” com a publicação de uma reportagem que é uma “calúnia e uma difamação”. “Mas o povo não é bobo e sabe que essa informação está sendo manipulada”, acreditou.
Estava dado o tom para o resto do debate, organizado pela TV Globo, e que em relação aos anteriores apresentou a novidade de incluir perguntas aos concorrentes feitas no estúdio por eleitores indecisos, em vez de ser apenas uma sucessão de blocos de perguntas e respostas feitas pelos candidatos, sem qualquer intervenção ou mediação jornalística.
Foi uma oportunidade para introduzir no debate alguns temas que estiveram ausentes nos anteriores confrontos: os cidadãos perguntaram o que os dois propunham fazer para resolver o problema da insegurança nos bairros tomados pelo tráfico de droga ou de quem vê a renda da casa triplicar em quatro anos; como pretendem valorizar a educação ou atacar o défice da segurança social quando houver mais idosos e menos contribuintes, por exemplo.
Mas nem mesmo quando respondiam directamente aos eleitores, para apresentar os seus programas e fazer as suas promessas, Aécio e Dilma esqueceram os ataques mútuos. Todas as questões serviram de artilharia para atingir o adversário – os candidatos foram agressivos mas resistiram à tentação de personalizar as críticas, conscientes dos possíveis efeitos negativos de uma nota em falso.
O homem do PSDB, que na última semana perdeu a liderança nas sondagens e precisa de recuperar o intervalo de seis a oito pontos que o separa agora da Presidente, assumiu a iniciativa mas também o risco de atacar mais, mesmo sabendo que a opinião pública tende a penalizar mais negativamente as críticas feitas a uma mulher como injustas.
Na ofensiva, o tucano (animal que representa o PSDB) exigiu que Dilma dissesse aos brasileiros qual é a sua opinião sobre os correligionários de partido que foram condenados a penas de prisão pelo caso mensalão – são corruptos ou heróis nacionais?, quis saber – ou por que razão nos seus quatro anos de mandato não tinha tomado medidas para combater a corrupção e promover a reforma política no Brasil. A solução para ambos os problemas não passa pelo Congresso, assinalou, “basta tirar o PT do Governo”.
Nas respostas, a Presidente nunca se mostrou defensiva, mas disposta ao contra-ataque. “Nunca compactuei com corrupto ou corrupção e condenei, doa a quem doer”, afirmou, frisando que foi o PSDB quem “engavetou e arquivou todas as investigações” relativas a denúncias de corrupção envolvendo políticos tucanos. “É necessário dizer que os suspeitos do mensalão do meu partido foram condenados e foram para a cadeia, enquanto os envolvidos no mensalão mineiro não foram sequer julgados”, distinguiu.
À margem do debate da corrupção, os candidatos embateram em temas como o salário mínimo e a inflação, com Dilma a insistir que o candidato a ministro das Finanças do PSDB considera que o salário mínimo é muito alto, e Aécio Neves a repetir que “a inflação está de volta porque o PT fracassou na economia”.
Opiniões divergentes voltaram a ser notórias em relação à reforma política. O candidato do PSDB recordou o seu compromisso com o fim da reeleição, e a Presidente considerou que “a questão mais séria é o fim do financiamento empresarial das campanhas”, uma mudança que defende para “acabar com a influência do poder económico nas campanhas”.
No que diz respeito a promessas, tanto um como o outro comprometeram-se a levar a cabo “revoluções”: na educação (Aécio) ou na construção de habitação popular (Dilma). E nas considerações finais, ambos deixaram uma nota de confiança e esperança aos brasileiros, com a Presidente a sublinhar: “não vamos permitir por nada deste mundo que nem a crise nem o pessimismo tirem de você o que você conquistou”. E o seu opositor a repetir: “mais do que o representante de um partido sou o candidato da mudança, dos valores, da eficiência e da generosidade do Estado com todas as pessoas”.
No fim da emissão, aliados e apoiantes das duas candidaturas elogiaram o desempenho do seu candidato e reclamaram vitória no debate – avaliações mais desapaixonadas concordaram que ninguém se destacou ou espalhou. A audiência medida pelo Ibope em São Paulo manteve-se na casa dos 30 pontos (cada ponto representa 90 mil telespectadores), o mais alta de todos os duelos televisivos. As sondagens mostram que o número de indecisos, que irão desbloquear o impasse eleitoral, tem vindo a diminuir: a emissão terá sido a última oportunidade das campanhas para conquistar o seu voto.